Servir cafés, imprimir textos, fazer recados para o chefe. O nove-às-cinco inicial de grande parte das profissões parece um cliché. No caso de Bernardo Nascimento, realizador português que reside em Londres, não foi diferente.
“Comecei no cinema como assistente de produção. A tirar fotocópias, conduzir actores de um lado para o outro, essas coisas. Iniciei-me num filme do José Fonseca e Costa, ‘O Fascínio’, há uns anos”, confessa o realizador. Daí passou para assistente de realização e depois, ao contrário dos jovens que emigram aconselhados por alguém, à procura de condições, Bernardo foi atrás da namorada.
Em Londres, continuou a trabalhar e a vontade de realizar ganhou corpo. “North Atlantic” é o seu primeiro filme e, além dos nove prémios que já conquistou em vários festivais do mundo, é uma das 50 curtas-metragens escolhidas como semifinalistas do Your Film Festival, o festival de cinema online, que acontece no YouTube. A única produção portuguesa em competição está a votos até 13 de Julho.
North Atlantic – com 15 minutos de duração – conta a história de um controlador aéreo numa ilha açoriana e de um piloto perdido no seu avião, sobrevoando esse mesmo oceano. “A ideia surge de uma história que li na revista do ‘Diário de Notícias’ há uns anos, que achei lindíssima. Como tenho alguns familiares e amigos que são controladores aéreos, acabei por me cruzar com algumas histórias semelhantes”, conta Bernardo. Com bastante pesquisa e com o auxílio de amigos que exercem funções na área da aviação, o realizador acabou por criar uma história que é “uma súmula de várias histórias e não uma história real”, como o próprio afirma.
O orçamento e o tempo eram muito reduzidos, o que gerou uma maratona de dois dias e meio de gravações em Londres. “Tive que falsear, é a magia do cinema. Filmámos numa torre que já pertenceu à Royal Air Force e nuns aviões que estavam presentes nesse mesmo aeródromo que estavam a apodrecer. Era suposto terem sido usados numa megaprodução que o Spielberg ia fazer sobre a Segunda Guerra Mundial e que acabou por não acontecer. Só tive que convencer o proprietário”, diz o realizador português.
Para Bernardo, este festival online é uma oportunidade excelente. Até porque se “North Atlantic” for um dos finalistas do Your Film Festival, isso significará um lugar na tela do Festival de Cinema de Veneza, um dos maiores do mundo. “Além de chegar ao público, permite que produtores que não tenham visto o filme em sala o possam ver. Chegar à fase final é uma oportunidade incrível”, confirma Bernardo, que espera conseguir atingir a final, apesar de o filme estar a meio da tabela dos mais vistos, até ao momento. Tudo num concurso no qual o realizador nem queria inicialmente participar. “Tive uma reticência muito grande em concorrer, acho que o cinema vê-se em sala, acho mesmo e sou um bocado antiquado. Talvez já se possa ver em casa, a experiência já se vai aproximando, mas em sala é outra conversa”.
Sobre o mediatismo que tem conquistado, Bernardo não lhe dá demasiada atenção. “Hoje em dia tenho contactos que antes não tinha. Há uns tempos não seria possível ter jantado com o Oliver Stone, agora que relevância é que isso tem? Tem pouca, até porque eu nem gostei dele. Este é um primeiro filme, quando tiver nas mãos o orçamento para fazer uma longa de minha autoria, aí sim, digo que o sucesso está consumado”, conclui brincando.