Os portugueses e a selecção. “Eu cá não sou supersticioso, mas…”


A semana passada, Petr Cech teve de fazer a senhora barba que lhe cobria a cara. Mudança de visual? Não, chama- -se antes superstição. Cech e toda a equipa checa decidiram que não fariam a barba até serem eliminados do Euro 2012. Correu tudo muito bem até ao dia 21, quando uma selecção chamada Portugal…


A semana passada, Petr Cech teve de fazer a senhora barba que lhe cobria a cara. Mudança de visual? Não, chama- -se antes superstição. Cech e toda a equipa checa decidiram que não fariam a barba até serem eliminados do Euro 2012. Correu tudo muito bem até ao dia 21, quando uma selecção chamada Portugal os afastou da competição e os obrigou a sacar das Gillettes.

A promessa dos checos não é nova. A mania de não fazer a barba até ganhar um jogo específico ou até chegar a um título é uma moda recorrente, que assenta na antiga ideia de que um homem barbudo parece mais velho e intimidante. Ainda em Março, o guarda-redes do Manchester United David De Gea prometia não fazer a barba até a sua equipa vencer a Premier League ou a selecção espanhola conseguir a medalha de ouro nos Olímpicos. Resta-lhe esperar que os espanhóis vençam em Londres para poder ir finalmente ao barbeiro.

Os checos não são os únicos neste Europeu com as suas manias, promessas, paranóias e afins. As superstições não escolhem idade nem nacionalidade e vão das mais simples às mais elaboradas. Com apenas quatro equipas ainda em competição, são poucas as que trazem resultados. Uma delas é não cantar o hino nacional no início dos jogos. Sim, exactamente. Pelo menos é o que faz o alemão Mario Gómez, que os portugueses já conhecem bem. A superstição recua à altura em que Gómez jogava na selecção de sub-15. Uma vez experimentou não cantar o hino e acabou por marcar um golo. Desde então nunca mais pôs à prova os seus dotes musicais em campo. Além disso, o avançado costuma utilizar sempre o urinol mais à esquerda antes dos jogos. Embora Mario só tenha marcado golos em dois jogos neste Euro, a Alemanha ainda não perdeu uma partida.

As superstições portuguesas são bem menos elaboradas, mas até agora foram eficazes. Enquanto Fábio Coentrão se recusa a ouvir música antes dos jogos, Miguel Veloso não faz outra coisa. Já Cristiano Ronaldo é um clássico: entra sempre com o pé direito. Pelo menos era assim, asseguravam os jogadores no Mundial-2010. As superstições deste ano estão no segredo dos deuses, mas até agora têm dado melhor resultado. Na África do Sul, Portugal foi eliminado pela Espanha, precisamente o novo rival da selecção nacional. Não se lhes conhecem superstições algumas, mas o guarda-redes Iker Casillas já fez uma promessa que não envolve deixar crescer a barba. “Se ganhar o Europeu, a primeira coisa que vou fazer é ir à tua procura e dar-te um beijo”, disse a um jornalista da rádio Cadena SER, depois de este ter perguntado se iria repetir a proeza de há dois anos, quando beijou a sua namorada e repórter Sara Carbonero em frente às câmaras.

De Itália não vêm notícias acerca de rituais deste tipo, mas a selecção transalpina em tempos também sentiu a sua dose do poder do além. Gennaro Gattuso fez tudo para trazer a boa sorte à Itália, mas nunca a conseguiu num Europeu. Já no Mundial de 2006 a história foi diferente, com a squadra azzurra a tornar-se campeã do mundo. Para isso podem ter contribuído as manias de Gattuso. “Usei todos os dias a mesma camisola, a que vesti no primeiro dia, transpirei horrores e fiquei com um humor de cão porque não era capaz de a tirar”, conta. Ninguém diria, já que Gattuso brilhou no meio-campo italiano juntamente com Pirlo, sendo até eleito homem do jogo no encontro com a Ucrânia. As superstições do italiano não eram só estas. Gattuso fazia as malas e lia algumas páginas de Dostoievski antes de todos os jogos. E quando a Itália venceu a final, contra a França, Gattuso resolveu tirar os calções e correr pelo campo em roupa interior.

Outro italiano crente no sobrenatural é Giovanni Trapattoni. O seleccionador da Irlanda abençoa uma parte do campo com água benta, trazida pela sua irmã, que é freira. O mesmo faz o guarda-redes da sua equipa, Shay Given, que benze a baliza com água benta. Infelizmente para os irlandeses, nem os poderes divinos os ajudaram e, depois de perder com a Croácia, Espanha e Itália, a selecção foi mesmo para casa.

Quanto aos adeptos, as superstições são tantas que lhes perdemos a conta. Roupa específica, rezas a vários santos, lugares de sorte, talismãs. É só escolher. As manias dos portugueses são simples, a avaliar pelas respostas dos nossos entrevistados. Mas para Portugal não perder (batemos três vezes na madeira), se calhar é melhor irmos acender umas velas. Não vá o Diabo ser espanhol e tecê-las.

Eis as respostas de oito adeptos portugueses:

01  João Almeida não é o que se pode chamar um fã fervoroso de futebol. “Gosto de ver a selecção, mas não faço nada de especial”
 
02  O pequeno Rafael Esteves vai esperando pelo regresso às aulas e acompanhando a selecção. Mas ai os nervos…

03  A Cláudia Almeida não tem manias, a não ser uma: “Tem de ser visto no café, é sagrado!” A fé numa vitória contra a Espanha é que está a faltar

04  ”No jogo contra a Alemanha ainda não as tinha e olhe, perdemos!” Não tinha o quê?As bandeiras à janela, pois claro! Maria Lourenço não duvida de que são verdadeiros talismãs. “Têm de estar ali todas direitinhas, bem direitinhas”
 
05  Vitânia Lourenço, simples e directa. “Superstições? Nada, a não ser ver os jogos com a família. Isso é sempre!”

06  Com 18 anos, o ritual de Rudolfo Almirante só podia ser um: cerveja e tremoços na mesa. Previsões para hoje? “3-2 para Portugal, tem de ser!”

07  ”Equipa de que eu goste, não posso ver o jogo, fico nervosa e corre mal de certeza!”, conta Cremilde Pereira

08  Para Eduardo Chaves, o cachecol marca presença desde o Euro-2004