Árbitro da primeira divisão desde 8 de Setembro de 1968 (União de Tomar-Atlético, 1-1) até 4 de Junho de 1978 (Portimonense-Riopele, 2-1), Franscisco Lobo é também conhecido pelo recorde imbatível de quatro 0-0 seguidos na 1ª divisão, entre Novembro de 1970 e Janeiro de 1971, no Vitória de Guimarães-Sporting, Boavista–Belenenses, Farense-Varzim e Vitória de Guimarães-Leixões. Mas que isso não fique registado como facto isolado. Nos seus 90 jogos no principal escalão, marcam-se 227 golos (média de 2,5) e o rei nesse aspecto é um tal Eusébio, do Benfica, com 15.
Nessa década de actividade, Lobo é homem para se encarregar dos jogos grandes. Ao todo, apita cinco Sporting--Benfica, três Benfica-FC Porto e dois Sporting-FC Porto, o último deles, a 17 de Junho de 1978, é o de final da carreira, no Jamor, para a final da Taça de Portugal, que acaba empatada 1-1 e com direito a finalíssima, dirigida por Mário Luís. Na memória de todos, o setubalense participa, por exemplo, naquela final da Taça em que o trintão Eusébio marca três golos a Damas (3-2 ao Sporting, após prolongamento, em Junho de 1972) e aquela tarde em que o trintão-e-um Eusébio faz quatro ao Sporting (4-1 na Luz, em Outubro de 1972).
Isto é nacional, vamos agora ao plano internacional. Pedro Proença pode ter apitado o Itália-Inglaterra dos quartos--de-final do Euro mas o primeiro árbitro português a dirigir um jogo entre estas duas selecções é… adivinhe? Isso mesmo, Francisco Lobo, de Setúbal. Nós sabemos a data mas ele antecipa-se com categoria. "Ainda tenho o programa desse jogo, sabe? É impossível esquecer essas datas e sensações. O jogo foi a 14 de Novembro de 1973, na primeira vitória de sempre da Itália em Inglaterra. Lembro-me tão bem. Até porque é o meu baptismo internacional em jogos de selecções."
Quando se lhe pergunta o resultado e o golo, até soa a ofensa. A memória de Francisco Lobo é exemplar. "Um-zero para a Itália. Golo do Fabio Capello, ex–seleccionador da Inglaterra. Lembro--me perfeitamente da jogada de contra–ataque dos italianos [cruzamento de Chinaglia], com o Capello a aparecer sozinho, dentro da área, a rematar com o pé direito. Eu estava à esquerda dele e foi muito perto do fim, aos 87 minutos. Mas a Inglaterra não merecia aquele castigo. Jogou melhor, mas os italianos, com muita ratice já se sabe, lá ganharam. Nos dias anteriores, jantei num restaurante inglês com empregados italianos e eles só diziam ‘vamos ganhar, vamos ganhar!’". Acertaram…
E mais? (aproveitemos a memória de Francisco Lobo) "Na semana anterior, tinha apitado o Rangers-Borussia M’Gladbach (3-2 para os escoceses), para a 2ª eliminatória da Taça das Taças, aquela em que o Sporting chegou às meias--finais, eliminado pelo Magdeburgo. De Glasgow fui de avião, e eu que nunca gostei de voar, para Londres. Por lá fiquei na casa de um amigo à espera dos meus fiscais-de-linha Américo Barradas e Carlos Dinis, até à noite desse Inglaterra-Itália, que servia para comemorar o casamento da princesa Ana [filha da Rainha Isabel II]."
Uauuu. Há mais disto? "Foi tudo um espectáculo. O ambiente nas bancadas em Wembley metia medo a qualquer um, com 100 mil pessoas sempre a cantar e a incentivar a selecção inglesa. O príncipe Carlos, que curiosamente fazia 25 anos nesse dia, cumprimentou as duas selecções e a equipa de arbitragem. Sentimo-nos honrados por fazer parte daquele cenário, claro. Durante os 90 minutos, uma correcção extrema e não houve um único carrinho, nem entradas maldosas. Aliás, no banquete depois do jogo, assisti a uma coisa nunca vista: os jogadores ingleses aplaudiram de pé os italianos, que chegaram ligeiramente mais tarde que o previsto."