“The Decision”, a decisão, foi o nome do programa que mudaria a vida de LeBron James. Era Julho, em 2010, quando LeBron fez o anúncio no especial da cadeia de televisão ESPN: “Vou levar os meus talentos para South Beach e juntar-me aos Miami Heat.” Começou então uma novela que duraria até hoje. Ao fim de sete anos, LeBron abandonava os Cleveland Cavaliers em busca de títulos. Prometeu não um nem dois, mas sete anéis, apoiado que estava pelos amigos Dwyane Wade e Chris Bosh. Para o mundo da NBA, LeBron passou de miúdo talentoso a homem arrogante.
O rótulo colou-se e LeBron pouco fez para o desfazer. Quando os Heat perderam a final do ano passado contra os Dallas Mavericks, poucos tiveram pena. Parecia que nada faria mudar a má relação do jogador com os adeptos, mas essa derrota foi precisamente o ponto de viragem. “Tornou-me mais humilde”, explica o próprio James. “Eu sabia o que ia ter de enfrentar e que ia ter de mudar como jogador de basquetebol e como pessoa para conseguir o que queria.” Passou um ano desde então, e os Miami Heat fizeram a sua via sacra e chegaram à redenção – a equipa feita a partir do dinheiro e demasiado cheia de si deu lugar a uma outra. Um ano depois, os Heat não ficaram à espera que o título lhes caísse no colo e procuraram agarrá-lo.
Se nos três jogos anteriores Miami já tinha provado a sua superioridade, desta vez entrou em campo ainda mais destemida. Um afundanço de LeBron deu a partida e o primeiro período foi rapidamente dominado, com 31-26. Kevin Durant bem se esforçou, o que lhe garantiu o título de melhor marcador (43 pontos), mas não foi suficiente. Os Oklahoma City Thunder ficaram bem abaixo da sua forma dos playoffs. Com os Dallas Mavericks, a média foi de 99,8 pontos por jogo, com os Lakers aumentou para 100,2 e chegou a 105,8 com os Spurs. Mas os Heat só sofreram uns pequeninos 98 pontos de média. E neste quinto jogo (que se revelaria o último), os Heat foram ainda mais fortes. A três minutos e meio do fim do terceiro período, a diferença já era de mais de 20 pontos (85-63), quando LeBron fez uma das suas 13 assistências e permitiu a Chris Bosh marcar um lançamento triplo.
A três minutos do final da partida, os 118-96 não deixam margem para dúvida de que os Heat vão ser campeões. É então que Erik Spoelstra vai tirando os jogadores do cinco inicial, um a um. LeBron James, num jogo sem cãibras, é o primeiro a sair e é ovacionado em pé pelo pavilhão inteiro. Depois vem Chris Bosh, deixando a lesão abdominal, que o deixou de fora em nove jogos dos playoffs, para trás. Segue-se Dwyane Wade, que no dia anterior ao terceiro jogo com os Indiana Pacers estava a retirar líquido do joelho lesionado. Mario Chalmers, a revelação tardia, é o quarto. Por fim, o discreto, mas indispensável Shane Battier. LeBron James abraça-os a todos, enquanto Terrel Harris vai marcando os pontos finais para os Heat. Foi essa a lição mais dura mas mais valiosa para LeBron. Deixar de ser “O Escolhido”, como diz a tatuagem nas suas costas, para passar a ser uma peça da engrenagem chamada Miami Heat. LeBron somou 697 pontos e 224 ressaltos desde o início dos playoffs, mas também fez 129 assistências (só Charles Barkley e Larry Bird conseguiram valores acima dos 600, 200 e 100 na mesma época).
“Somos todos irmãos nesta equipa e magoa ir embora assim”, dizia um choroso Kevin Durant no final. Durant foi o melhor marcador da liga nos três últimos anos, mas o título ainda não foi seu. Com apenas 23 anos, ainda pode ter mais oportunidades, mas desta vez o anel é dos Heat. Uma odisseia que começou com dois amigos, James e Wade. “Estes dois formam uma irmandade”, explica Gabrielle Union, a namorada de Dwyane. De um lado ou do outro, as palavras são as mesmas. “Eles são irmãos para além do campo de basquetebol.” De um lado ou do outro, chora-se com a mesma intensidade. Na noite de quinta-feira os Miami Heat não se tornaram apenas campeões – tornaram-se humanos, de carne e osso.