Antes do i, houve um outro i. Chamava-se “O Independente”, foi inesquecível e acabou em 2006. Volta agora à memória em formato de livro, escrito pelo Filipe Santos Costa e pela Liliana Valente. Em tempos tão insólitos, que falta faz hoje um “Independente”.
Entre “O Independente” de Miguel Esteves Cardoso e Paulo Portas, nascido em 1988, e os dias de hoje, Portugal é diferente e o jornalismo é mesmo muito diferente. A revolução editorial, cultural e estética que “O Independente” trouxe ao mundo, a sua influência e capacidade para marcar a agenda durante mais de uma década é o que se pode descobrir nas páginas d’“O Independente: A máquina de triturar políticos”, hoje lançado. O conjunto imenso de talento, investigação e criatividade que ia da primeira à última página e a forma como marcou uma geração, também.
Uma coisa é a história – e ainda bem que ela é contada. Outra, infelizmente mais tristonha, aborrecida e preocupante, é a realidade. Na nossa realidade – em que, passado um mês sobre as eleições, não só não há governo em plenitude de funções como não existe perspectiva de que venha a haver –, um “Independente” não seria nem complacente nem brando.
Na nossa realidade, inconstante, instável e incendiária, em que tudo e o contrário de tudo são igualmente possíveis e impavidamente aceites, um “Independente” trataria de fazer as perguntas incómodas, de agitar e de opinar. Sobretudo, trataria de nos situar. Como jornalista, tive o prazer e a felicidade de fazer parte d’“O Independente”. Até porque o i é um exemplo indiscutível de que se continua a fazer excelentes jornais, não me revejo nada no discurso do “naquele tempo é que era”. Sucede apenas que, como cidadão, me lembro muitas vezes da falta que “O Independente” faz ao país.
Escreve à quinta-feira