Estamos em 2011. Pep Guardiola, já com oito títulos ganhos como treinador do Barcelona, demora até 8 de Fevereiro para dizer alto e bom som que não vai a lado nenhum, nem mesmo com as notícias de que em Inglaterra e Itália há quem esteja disposto a loucuras para contratá-lo. Tal como na época anterior, Pep aceita renovar o contrato por mais um ano.
Em Madrid, a “Marca” aproveita a onda e cria um cartoon em vídeo a parodiar a postura do treinador. Guardiola assina um contrato de duas semanas, depois já só aceita ligações de um dia. O presidente Sandro Rosell anda louco, desesperado, sempre atrás do técnico com papel e caneta para resolver o assunto. A situação atinge o limite quando Pep está no quarto, à conversa com a mulher, que lhe pergunta se Rosell tem mesmo de estar ali ao lado, também na cama. Guardiola responde-lhe: “Claro, tem de certificar-se de que não se acaba o meu contrato.” Nesta altura o vínculo é apenas de uma hora. “E acomodar-me? Antes a morte”, justifica-se o boneco de Pep.
A motivação está a tornar-se um problema para o Barcelona e para Guardiola. A subida de rendimento do Real Madrid e as lesões da equipa catalã explicam uma parte do fosso que a separa do rival na Liga. O desleixo dos jogadores e do treinador conta o resto da história. “Isto é muito exigente e tenho de estar muito convencido. Não posso enganar-me a mim mesmo. Vou continuar dia após dia até encontrar a razão que me motive a continuar”, confessou o técnico catalão na última conferência de imprensa.
Num mundo perfeito, aos olhos dos adeptos do Barcelona, Guardiola seria treinador da equipa catalã até ao infinito e mais além, para sempre e sem prazos. Desde que substituiu Frank Rijkaard, em 2008, venceu 13 títulos em 16 possíveis. É um herdeiro de Johan Cruijff e uma lenda em si mesmo. Tem o Barça na mão – por muito que custe a algumas figuras da Junta Directiva – e ninguém vai antecipar-se à decisão de Pep.
Os jogadores querem que fique; os adeptos também – e ele próprio quererá ficar, mesmo que se fale no interesse de um Arsenal e de um Chelsea ou mesmo de um Inter. No jogo com o Valência, o público apareceu em Camp Nou para mostrar a Guardiola que não há nada tão reconfortante como estar em casa, com a família – e que família: 74 240 pessoas. Mas o Valência também veio dar trabalho e Piatti calou o estádio aos nove minutos. O argentino limitou-se a dar um toque na bola para desviá-la de Víctor Valdés, que parecia perdido na área. Depois, sim, surgiu a verdadeira alma do Barcelona. Lionel Messi empatou o jogo aos 22 minutos e só precisou de mais cinco minutos para bisar. A brincar, a brincar chegava aos 40 golos esta época – a terceira consecutiva a atingir esta marca.
Sebastian Vettel, bicampeão do mundo de Fórmula 1, estava em Camp Nou para ver mais golos do Barça. Messi fez-lhe o favor: marcou mais dois para completar o póquer e ainda fez a assistência para Xavi fechar com o 5-1.