Brasil deverá alargar número de estações públicas para três defendem especialistas no Porto


Dois mundos, duas realidades: enquanto em Portugal o debate está centrado na alienação de um dos canais públicos de sinal aberto, no Brasil a argumentação vai exactamente no sentido contrário, perspectivando-se até que aquele país deverá alargar a sua oferta televisiva por parte do Estado. Esta tendência de disparidade do discurso sobre televisão entre Portugal…


Dois mundos, duas realidades: enquanto em Portugal o debate está centrado na alienação de um dos canais públicos de sinal aberto, no Brasil a argumentação vai exactamente no sentido contrário, perspectivando-se até que aquele país deverá alargar a sua oferta televisiva por parte do Estado.

Esta tendência de disparidade do discurso sobre televisão entre Portugal e Brasil é visível nas declarações de investigadores brasileiros presentes no Porto, para o VII congresso da SOPCOM sobre Indústrias Criativas no espaço Ibero-Afro-Americano, que termina amanhã.

“É preciso pensar numa televisão brasileira que tenha três canais públicos, ou pelo menos dois, porque isso servirá até de espelho para o privado, porque no privado o objectivo é o lucro e nem sempre o lucro é compatível com uma boa qualidade editorial ou com uma boa perspectiva em termos de cidadania”, defendeu César Bolaño, professor na Universidade Federal de Sergipe (Nordeste do Brasil), em declarações à Lusa.

Para Bolaño, o Brasil precisa de um sistema público de televisão mais forte daquele que tem actualmente, “porque tem um sistema privado que é muito pobre de recursos e de audiência”.

O autor do livro “Economia Política da Internet”, afirmou que a existência de um sistema público de qualidade e democraticamente organizado é “fundamental até para qualificar o sistema público”.

No caso de Portugal, o especialista vê com “apreensão” o facto de haver um sistema de televisão público e de este estar a ser “desmobilizado” em função de problemas que não estão relacionados directamente com a questão da televisão. “Existe uma crise generalizada na Europa, agora a decisão de vender um canal público parece-me bastante complicada”, assumiu aquele investigador.

Para quem olha de fora e está a lutar por um sistema público no Brasil, vê como sendo uma “regressão” o facto de um país europeu, com a tradição de serviço público, estar a desfazer um serviço “em função de um problema conjuntural”, adiantou o investigador.

Já antes tinha sido a vez de Valério Britto, da Federação das Associações Lusófonas de Ciências da Comunicação (Lusocom) e professor universitário afirmar que “qualquer ideia de privatização dos canais públicos é totalmente maléfica para qualquer sociedade”, acrescentando que vê “com muita preocupação a possibilidade de extinção de canais ou privatização de canais públicos em Portugal”. com Lusa