Prémio Goncourt para Mathias Enard, o amante do Oriente

Prémio Goncourt para Mathias Enard, o amante do Oriente


Romance “Boussole” será editado em Portugal pela Publicações D. Quixote no próximo ano


“Aos sírios.” A dedicatória de Mathias Enard surge nas primeiras páginas do romance “Bussole”, ainda antes de começar a narrativa. É compreensível. O livro – hoje distinguido com o prémio Goncourt, o mais importante da literatura francesa –, passa-se num atribulado Médio Oriente, onde a guerra e o êxodo da Síria são parte integrante do cenário.

Franz Ritter, o protagonista, recebe as piores notícias possíveis do seu médico. E numa noite de insónia, atormentado pela doença, toma ópio para acalmar a dor. A realidade e o sonho misturam-se, e o musicólogo austríaco revisita o filme da sua vida, boa parte dele passado no Oriente. A temática Oriente versus Ocidente é transversal à obra de Enard, um apaixonado pelo mundo e cultura árabe. 

Hoje com 43 anos, o escritor nascido em França, viveu em Damasco e Beirute e durante essa estada aprendeu árabe. Mais tarde, ao mudar-se para Teerão dedicou-se ao estudo do persa. Nem de propósito, foi no regresso de uma viagem à Argélia e ao Líbano que soube que o seu sexto livro havia sido premiado. “Estou extremamente feliz”, disse à imprensa francesa. 

Na short list da Académie Goncourt, responsável pela atribuição do prémio, estavam outros três finalistas: Hédi Kaddour (“Les prépondérants”), Tobie Nathan (“Ce pays que te ressemble”) e Nathalie Azoulai (“Titus n’aimait pas Bérénice”). Kaddour, o grande favorito, recebeu na passada semana o prémio da Academia Francesa o que levou a imprensa francesa a duvidar de que pudesse arrecadar também o Goncourt no mesmo ano.

Ano que vem Em Portugal, os leitores poderão ler “Bussole” já no próximo ano, anunciou ontem a Publicações D. Quixote, que tem vindo a editar algumas das obras premiadas do escritor. 

Em 2010, a editora lançou no mercado português “Zona”, romance que recebeu várias distinções. Em 2013, e com tradução do poeta Pedro Tamen, foi a vez de “Fala-lhes de batalhas, de reis e de elefantes”, obra incluída no Plano Nacional de Leitura para o ensino secundário e vencedora do Prémio Goncourt des lycéens.

Para a imprensa francesa, “Bussole” é um dos romances mais complexos do escritor, adjectivo usado com frequência para qualificar o seu trabalho. “Eu simplesmente escrevo: basta abrir um de meus livros para se dar conta que sou muito menos assustador do que eu ouvi por aí”, disse numa entrevista recente à revista “Le Point”.