Há um novo estudo a lançar ainda mais lenha para a fogueira do que se deve fazer quando o objectivo é emagrecer. A novidade agora é que as dietas baixas em gordura não são tão eficazes como as que reduzem nos hidratos de carbono. A conclusão surge na investigação da Universidade de Harvard ontem publicado pela revista “The Lancet”, que usou dados de 53 estudos com mais de 68 mil participantes. Será mesmo assim?
A autora do artigo, Deirdre Tobias, da Brigham and Women’s Hospital e Harvard Medical School, defende, citada pelo “The Guardian”, que por detrás do conselho para cortar nas gorduras – que contêm mais do dobro das calorias por grama dos hidratos de carbono ou das proteínas – está o objectivo que levará naturalmente à perda de peso. Só que os dados recolhidos por este estudo “sugerem exactamente o contrário”.
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E agora em que ficamos? A chave do sucesso passa por dosear os hidratos de carbono, as gorduras e as proteínas. Quem concentrar todas as apostas num único alvo tem maiores probabilidades de fracassar. “O que faz sentido é dosear a dieta a todos os níveis, não apenas um macronutriente. Se controlarmos mais os hidratos de carbono e não tivermos preocupação com as gorduras, posso garantir que não perdemos peso”, assegura ao i a nutricionista Ana Bravo.
E mais: também não se vai fazer bem à saúde. “Existem gorduras boas. É preciso, antes de mais, saber escolher. E nos hidratos de carbono a mesma coisa”, aconselha a especialista. Porque, na verdade, nem conseguimos viver sem eles: “Há os açúcares que não têm interesse nenhum e depois há os hidratos de carbono que fazem todo o sentido. As fibras estão dentro dos hidratos de carbono, por exemplo”, desmistifica a nutricionista.
No caso das gorduras existem aquelas que toda a gente sabe fazerem bem, como é o caso do ómega 3. Desde que as gorduras não sejam saturadas – as mais prejudiciais para o colesterol e as doenças cardiovasculares – nem trans, que são as industrializadas, “não podemos viver sem elas porque a nossa saúde se vai ressentir”.
a resposta certa Mas será então mais eficaz controlar a quantidade de gordura ou de hidratos para emagrecer? Dosear é mais uma vez a resposta certa. Se “passarmos a cortar nos hidratos de carbono e comermos gordura à vontade, ninguém vai emagrecer”, avisa Ana Bravo. Generalizando, o que os nutricionistas aconselham é a ingestão de 50% de hidratos de carbono, 20% de proteínas e 30% de gorduras. E quem quer perder peso tem de ingerir menos calorias que as que gasta diariamente: “Temos é de ter um equilíbrio, senão a determinada altura vai-se ter de parar a dieta que se estava a fazer – ainda que se sinta que se está a perder peso – porque se vai ficar com carências nutricionais”, explica.
LIGHT E INTEGRAL Os produtos integrais ou light costumam ser os primeiros para os quais as pessoas se viram quando pretendem fazer dieta. O estudo publicado na “The Lancet” sublinha ainda que os produtos com baixo teor em gordura podem também não ser uma solução, uma vez que, para melhorar o sabor, o mais certo é ter sido acrescentada uma considerável quantidade de açúcar.
Ao i, a endocrinologista Isabel do Carmo explica que “o baixo teor em gordura que muitas vezes é anunciado, sobretudo nas dietas mais restritivas que aparecem nos Estados Unidos, é mesmo muito baixo. De tal forma que torna a comida insuportável”. Depois é adicionado o açúcar para que não seja assim tão terrível para o palato: “Isso é tudo muito americano. Eles na comida processada acrescentam açúcares para tudo e para nada. Temos sempre de enquadrar as coisas nesta perspectiva”, considera ainda.
Já Ana Bravo diz que temos de voltar à questão de sempre: “Não devemos olhar só para um nutriente.” E chama para a equação os produtos light: “São light porque têm menos gordura que o produto original mas podem ter mais açúcar. Ou são light porque têm menos açúcar mas mais gordura.”
O mesmo se passa com os produtos integrais. O importante é saber do que estamos a falar: “Estes produtos podem ou não ter interesse. Por terem mais fibra, muitas vezes têm também mais açúcar, mais gorduras que não interessam e mais sal para terem um sabor agradável. A pessoa não pode ir só pela fibra e não ver o resto.”
Em resumo, “em nada faz sentido ser radical”. As pessoas não gostam de ouvir “que a moderação é a chave porque não lhes estão a dar novidade nenhuma, mas só uma dieta equilibrada resulta a longo prazo e sem prejuízo para a saúde”, remata Ana Bravo.