1958, 1962, 1970, 1994 e 2002. Não, isto não é nenhum NIB, até porque falta o 21.º número. É o Brasil no seu melhor, pentacampeão do mundo. Das 32 selecções em 2014, nada menos que dez (Gana, Equador, Costa do Marfim, Honduras, Grécia, Irão, Croácia, Costa Rica, Argélia e Austrália) têm menos presenças que títulos do Brasil. E três (Japão, Nigéria e Colômbia) têm tantas como. É muita fruta. É o Brasil no seu melhor, insistimos. Quer isso então dizer que o seleccionador brasileiro é o emprego mais sonhado e tranquilo do mundo? Nem por sombras, é a lógica ao contrário: ser Luiz Felipe Scolari é pior que ser Dilma Roussef, a presidente do Brasil. Porque Felipão é constantemente chamado à pedra a cada véspera de jogo do Mundial-2014.
É possível fazer cobrança (que é como quem diz, pegar no pé) a Scolari? Aqui no Brasil, é. O homem está debaixo de
fogo e o medo de falhar a qualificação para os oitavos-de-final existe realmente. Incrível. Pela reacção dos jornalistas
e do povo que, neste caso, é quem mais desordena, fazem-se contas de cabeça. “Se Brasil perder com Camarões e o Croácia- México acabar empatado, ‘tamos f******” Se isto, se aquilo… É uma desconfiança ilimitada. E inexplicável.
Ponto de partida: Scolari é um repetente em Mundiais. E um brilhante campeão mundial em 2002, na Coreia/Japão,
com sete vitórias sem pestanejar (Turquia 2-1, China 4-0, Costa Rica 5-2, Bélgica 2-0, Inglaterra 2-1, Turquia 1-0 e Alemanha 2-0).
Sim senhor, é um Mundial atípico, mas o Brasil supera críticas, traumas e péssimas arbitragens para acabar em beleza. Cumpre a preceito uma missão que parece impossível à partida, tal o rol de favoritos como Argentina, França, Itália, Espanha, Alemanha e até Portugal (campanha invicta de qualificação da geração de ouro). Para chegar invicto a
Yokohama, Felipão sofre pressões inimagináveis depois de abdicar de Romário. A sua ideia de equipa é construir uma família sem estrelas nem astros. Defesa agressiva, ataque imaginativo com os três erres (Ronaldo fenómeno,
Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo). A táctica dá certo e Scolari vai pregar para outras freguesias. Começa pela selecção portuguesa e chega à final do Euro-2004 mais as meias do Mundial-2006. Segue-se Inglaterra, ao serviço do Chelsea (quebra o recorde do Tottenham-1960 de 11 vitórias seguidas fora na Premier League), prossegue no Uzbequistão, pelo Bunyodkor (campeão nacional em 2009 a quatro jornadas do fim com um impressionante registo de 23 vitórias consecutivas), e em casa (vitória na Taça do Brasil-2012 pelo Palmeiras, sem qualquer derrota).
O que falta então? Mais um campeonato. Vá, o da China. Com uma sequência impressionante de 16 jogos sem perder (11 vitórias e cinco empates). Aliás, importa aqui realçar esse facto: quando é campeão, Scolari fá-lo com estilo, sem derrotas. É penta mundial assim. É campeão uzbeque assim. É vencedor da Taça do Brasil assim. E é campeão chinês assim. Mestre. Na última jornada, o Evergrande ganha 2-0 em Pequim ao Beijing Guo'an, com um golo de cada parte. O primeiro de Goulart (penálti), o outro de Paulinho. Feito o dois-zero, de nada vale o 2-1 do Shanghai East Asia ao Liaoning Hongyun. A equipa de Eriksson (sim, esse) terá de se contentar com o título de vice, a dois pontos do penta. É verdade, o Guangzhou Evergrande é pentacampeão chinês. Scolari combina bem com penta.
Chega Ou…? Há mais, há mais. O Evergrande está apurado para a final da Liga dos Campeões da Ásia e os jogos estão marcados para 7 e 21 de Novembro, vs. Al Ahli dos Emiratos, onde joga o ex-benfiquista Lima.