Os observadores internacionais presentes nas eleições legislativas turcas de domingo garantiram que as eleições não foram “justas”. Os elementos que escrutinaram a forma como decorreram a campanha eleitoral e as votações na Turquia não têm dúvidas: “Viveu-se um clima de violência e medo” durante a campanha, acompanhado da detenção de activistas da oposição, sobretudo os militantes e dirigentes do partido pró-curdo (HDP), e do esmagar da liberdade de imprensa, nomeadamente com ataques a jornalistas, processos judiciais e fecho de emissoras e jornais da oposição .
“Estas eleições foram injustas e caracterizaram-se pelo excesso de violência e a utilização do medo”, garantiu Andreas Gross, o suíço que chefia a missão de observadores da assembleia parlamentar do Conselho da Europa (PACE), citado pelo “The Guardian”.
Gross apelou para que o presidente turco Erdogan reduza o clima de polarização e violência vivido nestes últimos meses. “[Erdogan] deve unir aquilo que ficou dividido nos últimos cinco meses”, disse.
O relatório preliminar da missão de observadores internacionais às eleições afirma que o acto eleitoral foi conduzido de uma forma profissional e ofereceu aos eleitores uma pluralidade de escolhas, mas que a violência contra a oposição diminuiu a possibilidade de os partidos da oposição fazerem uma campanha eleitoral livre, nomeadamente com a detenção, que se verificou até ao próprio dias das eleições, de activistas do partido pró-curdo.
Os observadores também vêem com crescente preocupação os ataques constantes à liberdade de imprensa e aos jornalistas feitos pelo governo e o partido do presidente Erdogan. “A perseguição judicial a jornalistas acusados de ajudar terroristas e difamarem o presidente, o bloqueio de sites e o encerramento de órgãos de comunicação social da oposição reduziram o acesso plural dos eleitores às notícias” e outras versões da informação, afirma o relatório preliminar.
Segundo contas do diário francês “Le Monde”, o canal oficial da televisão turca deu, só no mês de Outubro, 29 horas de tempo de antena ao presidente turco e 30 horas ao seu partido (AKP), contra cinco horas para os sociais–democratas do CHP, uma hora e dez minutos para os nacionalistas do MHP e apenas 18 minutos para o partido pró-curdo de esquerda HDP.
Apurados 99,75% dos votos, o partido de Erdogan obteve 49% dos mais de 57 milhões de votos, tendo conquistado 315 dos 550 assentos parlamentares. Os sociais-democratas do CHP tiveram 25% dos votos e 134 deputados, os ultranacionalistas do MHP conseguiram cerca de 12% dos votos e elegeram 40 deputados, e, finalmente, o partido pró-curdo teve quase 11% dos sufrágios e garantiu 61 lugares no parlamento de Ancara.
Os resultados eleitorais garantem a possibilidade de o partido de Erdogan governar sozinho, mas não permitem ao presidente fazer a ambicionada revisão constitucional que lhe possibilitaria permanecer no poder para além da actual limitação de mandatos.
O jornal de centro-esquerda turco “Hurryet”, cuja redacção foi assaltada por militantes do partido do governo antes das eleições, dá quatro principais razões para a vitória do AKP ter sido maior do que a prevista em todas as sondagens; a queda eleitoral dos ultranacionalistas em favor de Erdogan: o medo da população, com a escalada de violência com os curdos do PKK e o Estado Islâmico; o enfoque da campanha na economia – foi prometido um grande aumento do salário mínimo –; e a mudança de candidatos em relação às eleições de Junho.