O momento político singular que vivemos tem sido fértil no disparate opinativo, vindo sobretudo da parte de quem vive obcecado com a originalidade. A ignorância atrevida é um dos casos mais complicados do género humano. Não só é reveladora de estultícia como quase sempre se torna irreversível pelo autoconvencimento e pela manifesta imodéstia do emissor.
Raras são as situações em que o erro pretensioso é reconhecido por quem o cometeu, porque a humildade é mais própria dos sábios, dos que, por mais saberem, menos certezas têm. E mesmo depois de identificado o disparate, sobram a vergonha e a humilhação, vestidas de negro e com foice.
A auto-estima fica de rastos e bloqueia a eventual assunção do erro. Quanto maior e mais alargado é o acesso ao mundo da comunicação, mais nos confrontamos com este fenómeno que, repito, faz parte do género humano.
Mas há que distinguir bem duas coisas: uma são as redes sociais, a navegação na net, onde tudo é permitido dizer ou escrever e, à partida, já todos sabemos ao que vamos. Outra coisa é a comunicação social, impressa, sonora ou televisiva, que de algum modo implica responsabilidade pública e onde existe um compromisso implícito de fiabilidade entre o emissor e o receptor.
É esse, precisamente, o lugar onde cada vez mais se sente aumentar o espaço dominado pela ignorância atrevida, até que um dia se torna quase impossível fazer a destrinça entre erro e verdade. O terreno nunca esteve tão fértil, tão prolífero, e nunca tão escasso se tornou o crivo do conhecimento. Haverá solução? Eu desconheço-a.
Escreve ao sábado