João Sousa. O regresso do conquistador

João Sousa. O regresso do conquistador


Português vence segundo torneio ATP da carreira após derrotar Roberto Bautista Agut em Valência por 3-6, 6-3 e 6-4. Hoje sobe ao melhor lugar na carreira (33.º).


O conquistador está de volta. Dois anos e um mês depois de se ter estreado com um triunfo em finais ATP – 2-6, 7-5 e 6-4 contra o francês Julien Benneteau em Kuala Lumpur –, João Sousa ganhou a segunda final na carreira. Em Valência, o espanhol Roberto Bautista Agut tinha o público a ajudá-lo e o favoritismo de ser o sétimo cabeça-de-série, mas o vimaranense quebrou a malapata e evitou perder a sexta final consecutiva. Agut começou melhor e fechou o primeiro set com 6-3 mas o português reagiu, tal como fizera com Benneteau, e concretizou a reviravolta com 6-3 e 6-4.

O triunfo fácil sobre o canadiano Vasek Pospisil na meia-final na tarde de sábado tinha deixado boas indicações.João Sousa foi sempre mais forte e, acima de tudo, fechou o encontro em dois sets, sem ser obrigado a um desgaste desnecessário.Do outro lado, Bautista Agut não só jogou muito mais tarde como foi obrigado a um esforço suplementar para evitar a derrota contra o norte-americano Steve Johnson (4-6, 6-3 e 7-6).

A vantagem física demorou a aparecer. Apoiado num serviço forte, o espanhol teve mais facilidade para fechar os jogos de serviço e ameaçou desde o arranque a quebra de saque do português. Os lances mais discutidos geraram alguma tensão e troca de palavras com o árbitro e aumentaram a pressão sobre João Sousa, que arrancou o segundo set da pior maneira, permitindo mais uma quebra ao espanhol.

O cenário era mau mas, tal como já tinha acontecido em Kuala Lumpur, Sousa soube reagir e partir para o triunfo. Com os primeiros sinais de debilidades físicas de Agut a surgirem, o tenista português aumentou a eficácia das pancadas, retribuiu o 6-3 no parcial e empurrou a decisão para a negra. Aí, já depois de o espanhol ter sido assistido a um problema no pé, a vantagem foi sempre lusitana. Com uma quebra de serviço no primeiro jogo e outra no sétimo, João Sousa criou uma vantagem de 5-2 que deixou o título à mercê, com duas oportunidades no serviço.

Foi preciso sofrer. João Sousa vacilou e não conseguiu fazer entrar o primeiro serviço em nenhum dos cinco pontos com que sofreu a quebra para Agut. O espanhol ganhou confiança, sentiu o público a crescer de novo, e fez o que lhe competia, reduzindo para 4-5 e obrigando o adversário a não falhar novamente. A pressão era maior mas desta vez João Sousa foi irrepreensível. As finais perdidas eram demasiadas para deixar fugir uma oportunidade de ouro por entre os dedos. Os primeiros serviços entraram sempre e fechou a final com um jogo em branco.

Festejo déjà vu

A resposta de Roberto Bautista Agut com 40-0 no marcador foi para fora. JoãoSousa atirou a raquete para o chão, deixou-se cair de costas e levou as mãos à cabeça enquanto gritava de felicidade por um novo triunfo. Uma imagem de marca de Rafael Nadal, que ontem perdeu a final de Basileia para o eterno rival Roger Federer, mas que também foi tirada a papel-químico da final da Malásia em 2013. Na altura, em entrevista ao i, garantiu que nada foi pensado. “Deixei-me cair porque foi uma sensação de alívio e satisfação. Vencer um torneio ATP… nunca tinha pensado como o iria festejar. Foi uma coisa espontânea. Foi um alívio e uma alegria, acho que é tudo”, respondeu.

Em Valência, 763 dias depois da primeira vitória, a satisfação e o alívio estiveram de volta. Uma pela óbvia sensação de ganhar uma final de um torneio que lhe valeu 250 pontos para o ranking ATP e um prémio monetário superior a 88 mil euros. O outro pelo fim da maldição das finais perdidas, três delas este ano: contra Thomas Bellucci em Genebra, contra Dominic Thiem em Umag e contra Milos Raonic emSampetersburgo. 

Se na Malásia havia o treinador Frederico Marques nas bancadas e uma pequena falange de portugueses que fizeram questão de apoiar João Sousa e cantar o hino após o triunfo, em Valência o tenista tinha uma representação de peso. Além do técnico, havia também o fisioterapeuta, o representante, a namorada, os pais, o irmão – que lhe deu um cachecol do V. Guimarães com a inscrição “Conquistadores” durante a celebração – e alguns amigos. No caso da família, a viagem entre Guimarães e a cidade espanhola (cerca de 900 quilómetros) foi feita no próprio dia e de carro. “Fizeram um esforço incrível”, realçou durante o discurso de agradecimento, que foi um misto de desabafo com emoção.

“É muito importante acabar o ano da melhor maneira. Perdi as últimas cinco finais que joguei e esta consegui ganhar. Estou muito contente”, afirmou, logo depois de ter lembrado o significado que tem para ele conquistar um torneio organizado pelo espanhol Juan Carlos Ferrero. “É muito especial ganhar aqui. O Juan Carlos era o meu ídolo desde pequenito, desde que comecei a jogar”, revelou, demonstrando alguma mágoa por a prova poder ter tido a sua última edição. “Tenho de dar os parabéns à organização. Fazem um esforço incrível para que este torneio seja um dos melhores do mundo. Fico triste por o torneio acabar aqui porque é muito especial para mim. Ganhar aqui é muito especial, é quase como ganhar em casa. Agradeço-vos por tudo o que fizeram pelo ténis”, continuou, enquanto Juan Carlos Ferrero, que lhe tinha entregado o troféu de campeão, assistia comovido.

Troca de elogios

Adversários dentro de campo, João Sousa e Roberto Bautista Agut trocaram palavras elogiosas na cerimónia em campo. O espanhol sublinhou o ano feito pelo português e o facto de subir esta segunda-feira à melhor posição da carreira – vai subir do 46.o ao 33.o posto, superando o 35.o Do outro lado, JoãoSousa também não se refreou na altura de elogiar o rival: “Antes de tudo queria dar os parabéns ao Roberto. Sei o que é difícil jogar em casa e nesta final notou-se o cansaço de toda a semana. Sei que é muito difícil, porque no Estoril não passo da primeira ronda. Fez um excelente torneio, considero-me um grande amigo dele e ficaria muito feliz, tal como lhe tinha dito na véspera, que pudesse ganhar o torneio se não fosse contra mim.”

Mas não ganhou, João Sousa não deixou. O português sai de Valência com cinco vitórias (Gilles Muller na primeira ronda, Benoît Paire nos oitavos-de-final, Pablo Cuevas nos quartos-de-final, Vasek Pospisil na meia-final e, por último, Roberto Bautista Agut no jogo decisivo) mas poderá vir a entrar já outro. No próximo fim-de-semana, é na cidade espanhola que MiguelOliveira vai tentar ser campeão em Moto3. O exemplo está dado.