Estava-se mesmo a ver que mais dia menos dia a BMW haveria de deixar a sua posição única de grande construtor sem tecnologia de tracção dianteira. Foi este ano que isso aconteceu, com a Série 2.
Se recuarmos uns bons 30 anos veremos que houve estudos e até protótipos construídos sobre o Série 3 (a entrada de gama da marca bávara na altura) para a adopção da tracção dianteira, mas nada foi em frente. Recorde-se que foi na década de 1980 que a maioria dos construtores europeus e japoneses se reconverteu à tracção dianteira.
É verdade que conhecimentos e experiência sobre essa tecnologia não faltam à casa alemã. Basta lembramo-nos que ela é dona da Mini, uma marca que usa a tracção (em vez da propulsão) desde a segunda metade da década de 1950.
Mais ainda: esta Série 2 utiliza a plataforma UKL1, estreada na terceira geração do Mini.
Mas vamos ao BMW 218d Gran Tourer, um carro com 4323 mm de comprimento, 1800 mm de largura e 1555 mm de altura, dimensões muito parecidas com as do Mercedes Classe B, semelhanças que continuam no preço, não da versão 180d do carro da marca da estrela, mas sim do 220 CDi, que tem uma potência semelhante (150 cv do BMW contra 136 cv do Mercedes) e preços que também não andam longe: 37 780€ do primeiro contra 36 894€ do segundo.
Onde o BMW ganha é no generoso espaço a bordo, quer à frente, quer atrás ou ainda na bagageira, não só com os 645 litros da mala (parte deste espaço é disponibilizado debaixo de um fundo falso no chão do compartimento de carga), como também da possibilidade do rebatimento do assento em 40/20/40, o que possibilita o transporte de quatro passageiros e carga mais comprida, que pode chegar ao limite de 2,40 metros com as costas do assento do passageiro dianteiro também rebatidas. São cifras muito interessantes. Além do mais, sacrificando uma grande parte do espaço de carga é possível montar uma terceira fila de bancos (665€) e alargar a capacidade do Série 2 Gran Tourer para os sete passageiros. Como é, naturalmente, um classe 1 nas portagens, isto assume-se como outra importante vantagem.
Apenas um alerta, os dois lugares da terceira fila são-no apenas de recurso e não foram pensados para uma utilização em percursos longos. Até porque são um bocadinho claustrofóbicos.
O interior é claramente BMW, pela qualidade dos materiais, pela sua correcta montagem, pelo conforto que proporciona, incluindo no posto de condução, onde a posição mais correcta e confortável é facilmente encontrada.
Uma coisa é verdade: não é o BMW com o desenho mais rebuscado, apesar de lá estarem as heranças identitárias da marca em toda a sobriedade que lhe é característica, mas a necessidade de alargar algumas dimensões torna-o menos elegante que o seu irmão Active Tourer.
Mecânica aprimorada A suspensão está muito bem trabalhada, com sistema McPherson no eixo dianteiro e de multibraços atrás, numa carroçaria que utiliza aços de alta resistência, numa construção bastante eficaz, como se comprova ao conduzir este carro de elevada rigidez torcional.
No entanto, se está à espera de uma boa dose de gozo de condução, não se iluda. Este carro não foi pensado para isso. A sua vocação é ser certinho, confortável, bem–educado.
Como noutros BMW existe um botão que alterna o modo de condução entre o ecológico, o confort e o sport. Neste último, o 218d altera os seus perfis, ficando realmente com um amortecimento mais rígido, uma resposta da caixa e de motor mais pronta, uma melhor precisão nas trajectórias e um comportamento do volante também mais preciso, mas não chega a transformar-se num desportivo.
Os 150 cv do motor do 18d (que por acaso é um dois litros com quatro cilindros), permitem que o carro se mova com desenvoltura, mas não são, como é óbvio, suficientes para prestações estratosféricas. A unidade que conduzimos estava equipada com caixa automática e possibilitava a recuperação de 80 km/h a 120 km/h em 6 segundos e de parado aos 100 km/h em 9,3 segundos. Nada mau para um carro deste tamanho com consumos reais entre os 5,5 e os 6 litros por 100 km, cerca de um litro a mais que o indicado pela fábrica, o que até nem é um grande desvio.
Preços e equipamento Em termos de motorizações cremos que esta é a mais interessante das três (214 d com 95 cv ou 216d com 116 cv, já não falar da 220d de 190 cv), quer em termos de consumos/prestações quer de preços.
O 214d custa 31 184€, o 216d custa32 184€, o 218d 37 774€ e o 220d 42 594€.
Em relação ao equipamento já se sabe como os BMW vêm despidinhos de todo e este Gran Tourer não é excepção. É que a versão testada tinha 14 900€ de extras (sem IVA), começando na cor específica (578€) ou nos estofos de pele (1336€), passando pela transmissão automática (1768€), pelo sistema de navegação (800€), pelas luzes LED (832€), pelo equipamento Line Luxury (2600€) e a acabar no pack travel, que é como quem diz barras no tejadilho, redes de separação na bagageira e mesas retrácteis (420€). E muito, muito mais, até chegar aos mais de 56 mil euros, o preço da versão testada.
37 780€
É O PREÇO do BMW 218d.
A versão ensaiada custa 56 mil euros, porque tinha mais de 15 mil euros de extras