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Tantas e tantas vezes se repete a sentença: os cidadãos não acreditam na política e nos políticos, os níveis de participação cívica tendem a diminuir em todos os contextos e, de forma particular, os níveis de abstenção continuam a aumentar, eleição após eleição.
Com igual determinismo, a franja mais jovem da população é dada quase como um caso perdido, tal é a “diferença de perspectivas”, a “dificuldade de comunicação”, a “incapacidade de responder aos anseios das gerações mais novas”.
Mas podemos perguntar: terá mesmo de ser assim? Será que quase nascemos divorciados das matérias da governação, seja ela internacional, nacional, regional ou local, que tanto contendem com o nosso dia-a-dia? Será possível reverter a tendência que as estatísticas e diversos estudos tornam inquestionável?
Poderá também ser uma réstia de idealismo juvenil, mas tenho a profunda convicção que tal desiderato é tão possível quanto necessário para a sustentabilidade futura dos modelos democráticos.
De uma forma geral, e num plano que podemos considerar quase filosófico, o nível de compromisso cívico e de concomitante participação nas diversas dimensões “políticas” da nossa vida em sociedade está directamente indexado à percepção que os cidadãos têm sobre a utilidade e o valor da sua opinião/participação.
Da mesma forma que muitos usam o chavão de que “cada voto conta” em períodos eleitorais, será que também a opinião, a crítica, o anseio, o contributo têm o mesmo valor e merecem igual atenção por parte dos responsáveis políticos?
Nos mais jovens há claramente uma débil formação para a cidadania desde a mais tenra idade, seja por demissão das famílias ou por preconceito das escolas. Quantos responsáveis universitários não ouvimos já garantir que “a política não entra dentro das suas portas”, como se a mesma fosse capaz de macular os cânones da saudável formação dos seus alunos?
Pelo contrário, acho que urge desafiar todos para pensarem e reinventarem as suas comunidades, as suas cidades, o seu país, e até para debaterem as irresolúveis causas da humanidade.
O contacto próximo com o modo de funcionamento e os protagonistas das entidades de governo, o envolvimento das escolas nas suas actividades, a organização de parlamentos jovens de base local, a dinamização e valorização dos conselhos municipais da juventude, a capacitação (técnica e financeira) das entidades representativas do meio associativo juvenil e o fortalecimento das redes de colaboração entre estas são contributos importantes para uma mudança de paradigma.
A juntar a todas essas iniciativas, Braga lançou este ano o seu primeiro Orçamento Participativo Jovem “Tu Decides!”, que contou e contará com uma participação massiva em todas as fases do processo: na formulação de propostas, na votação das mesmas (envolvendo mais de 2 mil jovens e diversas escolas) e na implementação dos projectos seleccionados no ano vindouro, graças a um financiamento de 75 mil euros do orçamento municipal.
No dia em que apresentei perante o Conselho da Europa o balanço do trabalho desenvolvido por Braga, entre o legado da Capital Europeia da Juventude 2012 e a projecção da Capital Ibero-Americana da Juventude 2016, a assembleia composta por representantes dos 47 países-membros aprovou uma resolução que recomendava a descida do limite da idade para votar para os 16 anos.
E em Portugal, vamos fazer futuro?
Presidente da Câmara de Braga
Escreve à quinta-feira