Craig Joubert. A decisão que lhe deve ter custado o Mundial

Craig Joubert. A decisão que lhe deve ter custado o Mundial


World Rugby admitiu erro decisivo do árbitro sul-africano na vitória da Austrália e deixou-o de fora das nomeações para as meias-finais 


Craig Joubert é sul-africano e chegou ao Mundial de Inglaterra com 37 anos. Na Nova Zelândia, em 2011, arbitrara a final entre os All Blacks e França (8-7) e já tinha estado presente numa das meias–finais. Sem margem para conquistar novos pontos altos na carreira, partiu para a prova com quatro jogos na fase de grupos: França-Itália (32-10), Irlanda-Roménia (44-10), Samoa-Japão (5-26) e Austrália-Gales (15-6).

A evolução era semelhante à das selecções candidatas ao título. Os encontros não trouxeram grandes complicações e foram subindo de dificuldade. A prova foi superada e a nomeação para um jogo dos quartos-de-final surgiu com naturalidade. Mas o Austrália-Escócia, teoricamente o duelo mais desequilibrado da primeira ronda a eliminar, acabou por ser um pesadelo para o sul-africano que entrou no mundo da arbitragem incentivado pelo pai.

O erro cometido aos 78 minutos foi assumido publicamente pela World Rugby e Craig Joubert ficou de fora das nomeações para as meias-finais – o francês Jérôme Garcès vai estar no África do Sul-Nova Zelândia enquanto o Argentina-Austrália será arbitrado pelo inglês Wayne Barnes. O galês Nigel Owens também não foi nomeado mas parece encaminhado para a final de 31 de Outubro.

Erro decisivo A Escócia esteve muito perto de surpreender a Austrália. Vencia 34-32 aos 78 minutos mas Joubert assinalou erradamente um fora-de-jogo de Jon Welsh. O médio de abertura australiano, Bernard Foley, não vacilou e garantiu o triunfo pela margem mínima aos Wallabies. Os protestos foram automáticos e Joubert saiu a correr para o balneário assim que a partida acabou, gerando fortes críticas de Gavin Hastings, antigo internacional escocês: “Foi a pior coisa que vi num campo de râguebi em muito tempo.”

A World Rugby cedeu às críticas e analisou publicamente a decisão em comunicado. “O comité confirma que Joubert fez cumprir a regra 11.7, penalizando o escocês JonWelsh por fora-de-jogo. Após revisão da jogada de todos os ângulos disponíveis, é claro que depois do toque para a frente a bola foi tocada pelo australiano Nick Phipps. A regra 11.3 afirma que um jogador pode voltar a ser considerado em jogo se um oponente tocar deliberadamente a bola”, pode ler-se. Dito de outra forma, Joubert deveria ter assinalado uma formação ordenada e não uma penalidade. A World Rugby confirmou o erro mas realçou que o lance não era passível de recurso ao vídeo-árbitro, respondendo às críticas do seleccionador Vern Cotter, que afirmara que a repetição tiraria toda e qualquer dúvida.

O presidente executivo da World Rugby, Brett Gosper, lamentou a forma como Joubert está a ser tratado. “Há jogadores profissionais em campo, muito bem pagos, a cometer erros e a largar bolas mas nenhum é tão criticado como um árbitro. É um trabalho muito, muito duro, acho que não há outro pior”, comentou, criticando também as mudanças de opinião em relação ao recurso ao vídeo-árbitro. “É interessante que no início do torneio toda a gente achasse que havia demasiado recurso à tecnologia e de repente começa a dizer-se que não há o suficiente. Se toda e qualquer decisão fosse ao vídeo-árbitro, ficaríamos aqui a noite inteira. Tem de haver um equilíbrio entre as decisões críticas e aquelas que fazem parte do domínio do árbitro.” Gosper garantiu que a regra não vai ser mudada durante o Mundial mas que tudo vai ser discutido depois da prova.

Craig Joubert está na linha de fogo e o seleccionador australiano Michael Cheika lamenta as opções da World Rugby: “Nenhum outro árbitro sofreu este tipo de tratamento. Se fosse eu, gostaria que os meus colegas me tivessem defendido um pouco mais. Tenho pena por ele, é muito injusto, nunca tinha visto isto. Não consigo perceber porque é que a decisão tinha de ser revista e comentada publicamente.” O antigo árbitro Jonathan Kaplan, recordista de jogos dirigidos e com quatro presenças em fases finais, também lamentou a imagem que a federação está a transmitir ao criticar os seus activos. “O Craig está definitivamente entre os quatro melhores e foi por isso que foi escolhido para continuar na fase eliminar”, afirmou.