Turquia. Ex-jornalista da BBC enforcada no aeroporto de Istambul

Turquia. Ex-jornalista da BBC enforcada no aeroporto de Istambul


Família, amigos e colegas de Jacky Sutton não acreditam que se tenha suicidado no WC do edifício aeroportuário.


A mulher inglesa que foi encontrada enforcada na casa de banho do Aeroporto Internacional Ataturk, em Istambul, na Turquia, era Jacky Sutton, de 50 anos, ex–jornalista da BBC que trabalhava actualmente no Institute for Peace and War Reporting (IPWR), um organismo que dá apoio a jornalistas e activistas em locais de conflito, sediado em Londres. Sutton apareceu enforcada nos atacadores dos seus ténis.

A notícia foi avançada pela IPWR, que afirmou estar a “apurar os factos” e as circunstâncias da morte. 

Anthony Border, o director da organização, mostrou-se “em choque” com o sucedido. “Jacky era uma das melhores profissionais a trabalhar no Iraque e dedicou dez anos da sua vida a ajudar o país.

Era extremamente inteligente, muito profissional, capaz de tomar conta de si em situações difíceis, e era universalmente amada. Estamos completamente em choque”, disse Border. “As circunstâncias da morte não são claras e estamos a tentar determinar os factos”, avança ainda o director da organização, que pede uma “investigação clara e transparente”.

Apesar de a imprensa turca afirmar ter sido suicídio, ainda não foi possível apurar o que aconteceu.
O presidente do parlamento iraquiano, Salim al-Juburi, também pediu uma investigação. “As autoridades turcas devem esclarecer as circunstâncias deste acidente. Ela [Jacky Sutton] morreu em circunstâncias misteriosas num aeroporto turco enquanto tentava viajar para o Iraque, onde deveria ajudar o país”, disse Al-Juburi em comunicado.

Segundo a imprensa turca, Sutton vinha de Londres e pretendia apanhar em Istambul um voo para Irbil, no Iraque, mas não chegou a tempo. Fontes do aeroporto garantem que a ex--jornalista não tinha dinheiro para comprar outro bilhete e, depois de ter chorado, dirigiu-se para a casa de banho. O facto de ter perdido o voo foi então a principal causa avançada para o suicídio.

Amigos e familiares não aceitam a versão de suicídio e não acreditam que Sutton fosse capaz de o fazer. “É difícil acreditar que ela se tenha suicidado. Há muito cepticismo entre quem a conhecia. Não faz sentido que se matasse por perder um voo”, disse um amigo em entrevista ao “Guardian”.

Charlie Winter, investigador na Fundação Quilliam, mostrou também ter algumas dúvidas sobre a possibilidade de suicídio. Sutton e Winter encontraram-se na semana passada para discutir alguns projectos nos quais a ex-jornalista trabalhava. “Sei que ninguém pode dizer se outra pessoa tem ou não tendências suicidas. Mas quando nos encontrámos ela parecia realmente feliz, motivada e centrada no seu trabalho”, escreveu Winter nas redes sociais.

O antecessor de Jacky no IPWR, Ammar Al Shahbander, foi morto a 2 de Maio num ataque bombista em Badgade. A organização prestou-lhe uma homenagem e terá sido essa a razão pela qual Jacky Sutton foi a Londres. 

A trabalhadora humanitária já tinha sido presa por suspeita de espionagem em África, em 1995, e recentemente tinha revelado temer pela vida por ser um possível alvo do Estado Islâmico. Sutton sempre demonstrou a sua raiva contra a natureza violenta do Estado Islâmico, principalmente através das redes sociais.

O jornal britânico “Daily Mail” teve acesso a vários vídeos das câmaras de vigilância do aeroporto onde se pode ver Sutton bastante abalada depois ter perdido o avião. As imagens mostram que a ex-jornalista se dirigiu depois para a casa de banho, local de onde não voltou a sair.

Depois de a morte de Jacky Sutton ter sido confirmada, rapidamente se espalharam pelas redes sociais várias homenagens de familiares, amigos e entidades com as quais colaborou.

Jacky Sutton trabalhou para a BBC entre 1998 e 2000, antes de realizar diferentes missões para as Nações Unidas no Afeganistão, Irão, Faixa de Gaza e Iraque.

As autoridades turcas estão a investigar as circunstâncias da estranha morte de Jacky Sutton.