Denúncias da inspecção de trabalho ao Ministério Público disparam 231%

Denúncias da inspecção de trabalho ao Ministério Público disparam 231%


Aumento das queixas ao MPocorreu apesar da forte quebra da actividade inspectiva da Autoridade para as Condições de Trabalho.


As participações da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT)  ao Ministério Público (MP) dispararam em 2014. De acordo com o relatório da actividade de inspecção do trabalho do ano passado, a ACT efectuou 530 participações ao MP, o que representa um aumento de 370 participações (231,2%) em relação a 2013.

“Das 530 participações feitas, 105 foram relativas a procedimento criminal (nas situações em que os(as) inspectores(as) do trabalho recolheram indícios da prática de factos que constituem um tipo legal de crime (Código do Trabalho e Código Penal)”, revela a ACT no documento ontem divulgado.

No âmbito do novo regime legal, aprovado pela Lei n.º 63/2013, de 27 de Agosto, que estabeleceu a instituição de mecanismos de combate à utilização indevida de contratos de prestação de serviços, foram feitas 425 participações ao Ministério Público relativamente a utilização indevida de contratos de prestação de serviços, para fins de instauração de acção de reconhecimento da existência de contrato de trabalho, lê-se ainda no relatório.

Este aumento ocorreu apesar da forte quebra da actividade inspectiva. Em 2014, os inspectores do trabalho só realizaram 40 665 visitas a 27 738 estabelecimentos, com 308 955 trabalhadores. Números que traduzem uma diminuição de 881 visitas, 1801 empresas e 31.137 trabalhadores. Se compararmos com os números de 2010, as quebras são ainda mais acentuadas: menos 43 881 visitas inspectivas (-51,9%); menos 46 878 empresas (-62,8%) e menos 396 981 trabalhadores (-56,2%).

Não obstante o decréscimo do número de inspecções, a ACT detectou um aumento de 200% dos chamados falsos recibos verdes e de 34% do número de trabalhadores não declarados.

Outras entidades O relatório da ACT indica ainda que o número de participações a outras entidades também disparou (+43,1%) , ao passar de 929, em 2013, para 1330, em 2014. O maior aumento verificou-se nas participações à Segurança Social. O ano passado foram 851, mais 261 do que no ano anterior. As participações à inspecção tributária também registaram um acréscimo significativo ao passar de 131, em 2013, para 195 o ano passado.

Em relação às outras entidades destaque ainda para as 35 ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (20 em 2013);as 12 à Comissão Nacional de Protecção de Dados (menos duas do que em 2013);as nove à Inspecção-Geral de Saúde (em 2013 foram nove também) e mais quatro ao Departamento de Investigação e Acção Penal, outras tantas à PSP, e uma à Guarda Fiscal e outra à GNR. Em 2013, o número de participações à PSP, GNR e PJ foram seis.

Mais 2355 infracções autuadas Os dados do relatório indicam ainda que a ACT multou 13 064 infracções em 2014 – mais  2355 do que no ano anterior. – no valor global de 22,3 milhões de euros (mais 30,4% do que ano ano anterior). Os sectores do comércio por grosso e a retalho/reparação de veículos, actividades administrativas e dos serviços de apoio, indústrias transformadoras e as actividades de saúde humana e apoio social concentraram 53,4% do total de infracções autuadas.

“A actividade de inspecção do trabalho privilegiou o acompanhamento das situações de crise empresarial, acções dirigidas à redução dos acidentes de trabalho e das doenças profissionais (…) e desenvolvimento de dinâmicas de combate ao trabalho não declarado”, entre outros objectivos, resumiu a ACT.