Parece que foi desta


O Partido Socialista tem literalmente a faca e o queijo na mão


Foram precisos dez anos, ou quase isso, para compreender e concordar com uma posição do Presidente. E não embarco no histerismo de que o Presidente pretende excluir qualquer força política ou colocar entraves ao normal desenrolar da democracia. No meu entender, a mensagem é só uma: o PS deve assumir a sua matriz europeísta e desempenhar o mandato que os portugueses lhe deram: travar a política de austeridade. No fundo, nesta questão em concreto, sabia que não havia grandes hipóteses de não concordar. É que é apenas uma questão de bom senso.

Sem sectarismos e convicto de que em democracia todos podem fazer parte da solução, na actual conjuntura não compreendo como o PS opta pela negociação à esquerda. Não compreendo como é que BE e PCP, pela matriz que representam, podem contribuir para uma solução estável de governação. Bem sei que em política vale quase tudo mas, neste caso, o quase é demais. 

Nem BE nem PCP acreditam no rumo que Portugal tomou em 1985, e desde sempre defenderam a sua alteração. Nenhum deles poupa críticas ao PS e aos seus anos de governação, que criaram clivagens que nunca permitiram aproximações. Mas, ao que parece, agora tudo isso é esquecido. Mas que esquerda é esta? Eu vejo-a distintamente dividida em duas. Uma que aceita, defende e foi fundamental no traçar do rumo que Portugal iniciou em 85; e outra que rejeita esse rumo e tudo o que ele representa. Como podem coabitar numa mesma solução e dar garantias de estabilidade?

Teria muitas dúvidas que, caso o PS tivesse ganho as eleições de forma clara e inequívoca (como era expectável e foi amplamente apregoado), viesse a integrar na sua solução governativa BE e PCP. Porque o considera agora? Deixaram cair as suas convicções eurocépticas? Ninguém acredita nisso, pois não?! 
Basta recuar umas semanas e rever o fim da campanha eleitoral para perceber que este casamento que se anuncia é uma enorme aberração. E se recuarmos mais um pouco, é fácil recordar que quem derrubou o último governo socialista foram precisamente os mesmos que agora apelam à sua liderança. Mas, então, qual o propósito? A troco de quê embarca o PS nesta aventura? Quer mudar a política de austeridade? Concordo! Mas recorrendo a um argumento rebuscado de aritmética parlamentar, apoiando-se em partidos de convicções extremistas? 

O PS tem literalmente a faca e o queijo na mão. Quer virar a página da austeridade? Obrigue a coligação a fazê-lo e não embarque numa aventura imprevisível. Lá tive de concordar com o Presidente, mas alguma vez tinha de ser! Parece que foi desta. 

Escreve ao sábado 

Parece que foi desta


O Partido Socialista tem literalmente a faca e o queijo na mão


Foram precisos dez anos, ou quase isso, para compreender e concordar com uma posição do Presidente. E não embarco no histerismo de que o Presidente pretende excluir qualquer força política ou colocar entraves ao normal desenrolar da democracia. No meu entender, a mensagem é só uma: o PS deve assumir a sua matriz europeísta e desempenhar o mandato que os portugueses lhe deram: travar a política de austeridade. No fundo, nesta questão em concreto, sabia que não havia grandes hipóteses de não concordar. É que é apenas uma questão de bom senso.

Sem sectarismos e convicto de que em democracia todos podem fazer parte da solução, na actual conjuntura não compreendo como o PS opta pela negociação à esquerda. Não compreendo como é que BE e PCP, pela matriz que representam, podem contribuir para uma solução estável de governação. Bem sei que em política vale quase tudo mas, neste caso, o quase é demais. 

Nem BE nem PCP acreditam no rumo que Portugal tomou em 1985, e desde sempre defenderam a sua alteração. Nenhum deles poupa críticas ao PS e aos seus anos de governação, que criaram clivagens que nunca permitiram aproximações. Mas, ao que parece, agora tudo isso é esquecido. Mas que esquerda é esta? Eu vejo-a distintamente dividida em duas. Uma que aceita, defende e foi fundamental no traçar do rumo que Portugal iniciou em 85; e outra que rejeita esse rumo e tudo o que ele representa. Como podem coabitar numa mesma solução e dar garantias de estabilidade?

Teria muitas dúvidas que, caso o PS tivesse ganho as eleições de forma clara e inequívoca (como era expectável e foi amplamente apregoado), viesse a integrar na sua solução governativa BE e PCP. Porque o considera agora? Deixaram cair as suas convicções eurocépticas? Ninguém acredita nisso, pois não?! 
Basta recuar umas semanas e rever o fim da campanha eleitoral para perceber que este casamento que se anuncia é uma enorme aberração. E se recuarmos mais um pouco, é fácil recordar que quem derrubou o último governo socialista foram precisamente os mesmos que agora apelam à sua liderança. Mas, então, qual o propósito? A troco de quê embarca o PS nesta aventura? Quer mudar a política de austeridade? Concordo! Mas recorrendo a um argumento rebuscado de aritmética parlamentar, apoiando-se em partidos de convicções extremistas? 

O PS tem literalmente a faca e o queijo na mão. Quer virar a página da austeridade? Obrigue a coligação a fazê-lo e não embarque numa aventura imprevisível. Lá tive de concordar com o Presidente, mas alguma vez tinha de ser! Parece que foi desta. 

Escreve ao sábado