Henriette Reker, uma candidata independente ao município de Colónia, foi esfaqueada no pescoço por um militante nazi, na véspera das eleições que venceu por maioria absoluta. Enquanto isso, por cá, na santa terrinha, as atenções e os umbigos fervem e espicaçam-se muito com a perspectiva da convergência das esquerdas. Mas, para já, sem sinal de esfaqueamentos físicos, apenas as florentinas punhaladas do costume. Discutem-se as tricas, os trocos e a tralha, com paixão exacerbada, muito futebolística, e como se o mundo girasse à nossa volta ou fôssemos nós as vítimas de tudo à volta de que giramos.
O peso cultural do nosso continuado isolamento tem-nos arrastado sempre para uma posição passiva e acomodatícia, face à mudança e às transformações da inteligência no destino das nações. De um modo geral, as lusitanas elites (quando existem…) ficam sempre a falar sozinhas se prevêem alguma coisa importante, e só demasiado tarde são reconhecidas com póstumos louvores e ladainhas. Mas tudo se move inexoravelmente e o mundo está a lidar com fenómenos políticos e sociais desconhecidos, como o Estado Islâmico, as migrações em massa e a pesada factura sobre o ilusório conforto ocidental “fin de siècle”. Vêm aí mudanças grandes, geracionais também, na massa crítica e nas políticas que se antevêem. A maioria dos nossos activos, militantes ou não da direita ou da esquerda, andava de cueiros quando houve a manifestação da Alameda. Hoje são cidadãos europeus descomplexados e estão a mexer-se todos os dias. É essa a grande novidade: pátria e o resto são fantasmas.
Escreve ao sábado