Rui Vitória não gosta de dizer mind games, prefere a versão portuguesa de jogos mentais. O treinador do Benfica tentou ser mais agressivo nas palavras depois do que passou na Supertaça mas saiu novamente por baixo do duelo contra Jorge Jesus: “Vai jogar uma equipa, que somos nós, contra onze jogadores do Sporting… não sei se será uma equipa ou não.” Vitória foi a jogo – no campo e mental – mas saiu de mãos a abanar. O
Sporting venceu bem por números impensáveis por muitos antes do apito inicial e durante o encontro foi sempre uma equipa sólida a defrontar onze jogadores à procura de inspiração individual.
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O Benfica “até” começou bem, palavras do técnico, mas desmoronou-se após o golo de Teo Gutiérrez aos nove minutos. André Almeida falhou um passe em zona proibida, Adrien aproveitou para lançar o colombiano que estava em jogo por causa do posicionamento deficiente de Sílvio e a mancha de Júlio César só serviu para atirar a bola contra os pés de Teo e vê-la ressaltar para a baliza.
O Sporting não tinha feito nada até então – continuava a tentar sentir de que forma o Benfica ia atacar o jogo – mas soube aproveitar a vantagem. Ao mesmo tempo, o Benfica caiu num precipício sem escada para recuperar. Sem a profundidade ofensiva que Nélson_Semedo oferece na lateral, os encarnados fizeram um jogo banal, sem desequilíbrios e demasiado dependente do que elementos como Gaitán (começou à direita para tentar assustar Jefferson) e Jonas pudessem fazer.
Já o Sporting foi cínico. Fez o que precisava de fazer e nos momentos em que tinha de ser feito para alcançar um triunfo que faz história na Luz. Os leões não estavam em vantagem para o campeonato na casa do rival desde 29 de Abril de 2007 (1-0 de Liedson aos dois minutos antes do empate de Miccoli).
E não ganhava desde 28 de Janeiro de 2006 (3-1). E a última vitória por três golos de diferença na competição tinha sido a 25 de Abril de 1948 (4-1 com um póquer de Fernando Peyroteo).
O veneno leonino teve mais duas doses, ambas na primeira parte. Slimani fez o 2-0 aos 21 minutos, num cabeceamento dentro da área em que praticamente não precisou de tirar os pés do chão nas costas de Luisão, e começou a jogada do 3-0 de Bryan Ruiz aos 36 minutos – recuperação de bola no meio-campo defensivo, transporte até à entrada da área, remate difícil para Júlio César defender para a frente e a recarga vitoriosa do costa-riquenho, mais rápido a reagir do que Sílvio.
GESTÃO FACILITADA
O futebol do Sporting nunca foi demolidor – o Benfica teve mais ataques, remates e bola – mas foi sempre mais inteligente e a ideia que transpira é que o resultado só não foi mais desnivelado porque os leões tiraram o pé e concentraram-se em continuar a supremacia táctica.
Jorge Jesus era um homem satisfeito. Naldo parecia outro a entender a linha defensiva e as actuações de João Mário e Bryan_Ruiz nos flancos, sempre com preocupação em reforçar o miolo, multiplicando as linhas de passe e sufocando o rival, foram a cereja no topo de um bolo que o treinador só arriscou desmanchar com a entrada de Aquilani para o lugar de Adrien aos 78 minutos.
A estratégia de Rui Vitória para reagir na segunda parte falhou. Fejsa rendeu Eliseu ao intervalo mas demorou um minuto a ver amarelo e saiu por lesão aos 67’. Pizzi trouxe vontade e Mitroglou só entrou numa fase de desespero e em que já ninguém acreditava. Houve sempre muito Sporting para pouco Benfica e tudo podia ter-se tornado ainda pior, se Júlio César não tivesse evitado em cima da linha um autogolo desastrado de Luisão depois de um atraso mal medido no meio-campo defensivo.
Os remates encarnados chegaram mas Rui Patrício só precisou de fazer uma defesa, aos 69 minutos, depois de Naldo ter sido surpreendido por Raúl Jiménez (única acção digna em campo) junto à linha de fundo.
O Benfica sofreu a primeira derrota caseira para a liga desde 2 de Março de 2012 (2-3 como FC Porto) e a terceira em sete jogos nesta edição do campeonato. Com um jogo em atraso, as águias estão a oito pontos dos leões.