O folhetim da formação do Governo não pára de nos surpreender.
António Costa teima, com claros prejuízos para todos nós, em governar com o apoio da esquerda radical, ignorando, entre muitos outros, um problema simples: grande parte das medidas laborais que têm sido defendidas pelo BE e PCP nunca passarão na Concertação Social, embora possam ter o apoio da CGTP.
Note-se, aliás, que a UGT terá, como medida diferenciadora e de sobrevivência face à CGTP, de assumir o papel de radical, chumbando boa parte do que será proposto; neste caso, o PS será também minado por dentro.
A desconcertação social será o princípio da ruptura que a nossa sociedade viverá, depois de durante décadas ter sido um suporte importante da democracia.
É verdade, há outra possibilidade: o BE e o PCP deixarem cair, esquecerem-se, exactamente daquilo que defenderam ao longo dos anos e aceitar o que sempre recusarem. Mas neste caso, quanto tempo demorará a implosão face ao seu eleitorado?
António Costa até poderá ser primeiro-ministro, mas seguramente ficará na história como o grande responsável pelo esvaziamento eleitoral do PS e, mais grave, como o grande derrotado das eleições de 2015 que conseguiu chegar ao governo em nome da sua ambição pessoal, que nem Sócrates ousou satisfazer.
A pergunta que fica, por agora, é simples: quanto custará este experimentalismo a cada um de nós?
Professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
Escreve à quarta-feira