© Mario Cruz/Lusa
Se leres estas linhas, é bom sinal – significa que os senhores da segurança do Estado continuam incompetentes na fiscalização da correspondência. Imagino, apesar da expulsão dos jornalistas ocidentais, que algumas notícias continuem a chegar ao mundo e que vás acompanhando parte do que aqui se passa.
Temos passado um mau bocado. Menos mal que a ministra Catarina voltou agora de Pyongyang, onde conseguiu a promessa de um grande fornecimento de batata para o próximo ano. Ao mesmo tempo, com o fim do embargo, Cuba vai deixar de enviar tropas para proteger o muro na nossa fronteira com Espanha. E até as visitas do presidente Louçã à Venezuela e à Mongólia já só resultam no empréstimo de alfaias agrícolas e num ou outro intercâmbio sindical.
Era tudo bem mais animado quando havia escolas, jornais livres e televisões privadas (já não aguento os sermões diários do camarada Galamba). Agora, os multibancos dão senhas para o racionamento em vez de dinheiro e o acesso à internet limita-se aos sites dos três partidos oficiais.
A verdade é que até sentimos saudades das “dificuldades” de 2015 e da agitação que se seguiu, com a nacionalização da economia e a saída da União Europeia. Não sei o que me deu para ter ficado pela pátria (já é de novo permitido utilizar a palavra). Ao contrário de ti, julguei mesmo que a frente de esquerda seria muito moderada e passageira – alguns dos meus amigos falavam com entusiasmo na história da “vacina” e eu, estúpido, acreditei.
Olha, li há dias no “Avante!” uma entrevista ao Grande Educador Cavaco Silva. Está um bocado acabado, é certo. Mas continua a falar em “estabilidade”, em “futuro” e a dizer convictamente que tem “um lugar na história”. Como se trata do “Avante!”, nem sei se dá para acreditar… Achas possível?
Escreve à quinta-feira