Dino Alves. Viagem ao seu processo criativo

Dino Alves. Viagem ao seu processo criativo


Desde as “every woman” de Filipe Faísca ao desafio lançado por NunoGama ao Mostrengo d’“Os Lusíadas”, passando pela elegância etérea de Aleksandar Protic, pelo cosmopolitismo de Luís Carvalho, o lirismo de Pedro Pedro e a pujança dos jovens que compõem a plataforma Sangue Novo, entre outros, os criadores nacionais – e não só – mostraram…


Há seis meses, Dino Alves tinha pedido – foi mais exigido – que todos aqueles que quisessem assistir ao seu desfile usassem preto dos pés à cabeça. Desta vez convidou-nos a entrar no seu ateliê, aliás, na sua cabeça, no seu processo criativo. A ideia surgiu naqueles breves instantes que antecedem a chegada do sono. E, de repente, a ideia foi ganhando forma. Forma de papel amarfanhado. Contornos pouco definidos, peças com silhuetas fluidas, mas marcadas por franzidos aleatórios. Como se fossem as tais folhas de papel amarfanhadas. “Nem sempre uma ideia rasurada num papel amarfanhado e atirado ao lixo é uma ideia perdida. Não é um fim em si próprio, mas um meio para lá chegar”, explicou Dino Alves sobre a sua colecção.

Apresentada como se de uma performance se tratasse – com concepção cénica partilhada pelo próprio Dino Alves e o encenador António Pires –, não havia melhor palco para apresentar esta colecção do que um teatro, o São Luiz. Por um lado, foi a forma de a ModaLisboa regressar à casa que recebeu as suas primeiras edições, em 1991. Por outro, Dino Alves esteve desde sempre ligado ao teatro, sendo responsável pelos figurinos de várias peças de teatro. Os palcos não lhe são, portanto, estranhos, mas antes locais que o espicaçam rumo à criação. Uma espécie de alter egos do seu próprio ateliê. Era, por isso, natural que esta colecção – esta em específico – fosse apresentada num palco.

Uma hora e meia depois da hora marcada, apagaram-se as luzes e abriu-se a cortina. Aos primeiros coordenados, integralmente brancos, foram-se pintando riscos, rabiscos, primeiros pretos, depois coloridos, em tons de rosa, azul, vermelho, verde… Como uma tábua rasa, uma tela em branco que foi sendo ocupada pela criatividade do artista. No final, pó vermelho é despejado sobre três dos manequins. O pó da terra, da criação, das origens. O vermelho do sangue, do coração, das entranhas. As palmas bateram-se de pé. Há títulos que pesam. Enfant terrible é um deles. Mas desde sempre essas palavras vieram acopladas a Dino Alves. No encerramento da ModaLisboa, provou que continua a ser o enfant terrible, o criador de espectáculos, o designer de histórias. Mas é também o designer e este foi o seu palco.