Namoro entre PS, PCP e Bloco deixa coligação assustada

Namoro entre PS, PCP e Bloco deixa coligação assustada


Passos, Portas e Costa sentam-se hoje à mesa, com a coligação a tentar uma clarificação do secretário-geral do PS.


A aproximação de António Costa à esquerda está a semear a dúvida na coligação. Passos e Portas recebem hoje, logo pela manhã, o líder socialista. A reunião foi preparada ao mais alto nível e com a preocupação de dar ganhos ao PS, para “amarrar” António Costa a um entendimento que viabilize o governo minoritário de PSD e CDS. Na coligação não se espera que saia já um compromisso do encontro de hoje. Mas sociais-democratas e centristas esperam, pelo menos, desfazer as dúvidas quanto às reais intenções de Costa. 

“Espero que haja um diálogo aberto e franco e que haja avanços no sentido de um compromisso”, resumiu ontem ao i NunoMagalhães, líder parlamentar do CDS. Na maioria está bem presente a declaração de Costa na noite eleitoral, quando afirmou que cabe ao partido mais votado formar governo. Na reunião de hoje, Passos e Portas deverão também deixar um sinal de que levam a sério uma outra declaração do líder socialista no domingo, quando lembrou que a maioria está agora perante um novo quadro parlamentar.

Coligação dramatiza Desde aí, as declarações e movimentações de Costa têm, no entanto, lançado a dúvida sobre as reais intenções do líder socialista. Ontem, Nuno Melo, vice-presidente do CDS, veio dramatizar o discurso, afirmando, em entrevista ao “Diário de Notícias”, que um “governo PS com PCP eBloco seria um golpe ‘PRECiano’”. “Se for assim, se calhar temos de preparar um novo 25 de Novembro”, ironiza ao i fonte da coligação. 

O encontro de Costa com o PCP e a disponibilidade manifestada por Jerónimo de Sousa para encontrar uma solução de governo à esquerda fizeram disparar os alarmes na coligação. Mesmo duvidando da abertura dos comunistas, ficou lançado um inesperado “e se?”. Na actual configuração parlamentar (quando falta apurar os quatro deputados da emigração), a aliança PSD/CDS tem 104 deputados, enquanto a esquerda unida conta 121. PS e BE igualam a coligação, mas o empate deverá ser desfeito, a favor dos sociais-democratas, pelos deputados dos círculos da Europa e fora da Europa. Ou seja, um governo de esquerda terá de reunir os três partidos.

BE não vai para o governo O encontro entre o PS e o Bloco estava previsto para ontem, mas os bloquistas pediram o adiamento com o argumento de que precisam de mais tempo para preparar as questões técnicas. Na verdade, a razão é sobretudo política: o BE quer ver o resultado da reunião entre PS e PSD/CDS. É que não é só na maioria que a posição de Costa levanta dúvidas.

Um dado é certo. O BE fecha desde já uma porta que o PCP deixou entreaberta: os bloquistas não formarão governo com o PS. “O que estamos a discutir é em que condições um governo do PS se pode apoiar à sua esquerda a partir de acordos no parlamento”, clarifica Jorge Costa, da comissão política do BE. De acordo com o dirigente bloquista, o partido está agora a preparar – e daí o adiamento – um “conjunto de medidas para trabalhar com o PS”. Ou seja, os bloquistas vão levar à reunião com Costa uma série de propostas concretas que querem ver contempladas num futuro Orçamento do PS, e que vão da Segurança Social à legislação laboral. Durante a campanha, Catarina Martins, líder do BE, traçou três linhas vermelhas a António Costa: o recuo nas propostas do PS para a Segurança Social, no corte na TSU e no regime compensatório.

Entre a direita e a esquerda A estratégia de Costa está a confundir o próprio PS que, de resto, também não se entende quanto à melhor solução. Ontem, o líder parlamentar Ferro Rodrigues advertiu, aos microfones da Antena1, que “o PSnão pode ficar uma espécie de partido colonizável pela direita”, questionando se um governo apoiado pela esquerda não é uma solução mais estável. À noite, na TVI24, Francisco Assis recusava esta ideia: “É impensável um governo do PS com o apoio do PCP e do BE.” E clarificou, para que não restem dúvidas sobre a sua posição: “Não concordo com esta solução”. Assis, que já defendeu um entendimento entre PS e PSD, deixou um alerta para a coligação, agora que se abre o diálogo à direita antes da tomada de posse do novo executivo: “A coligação tem de ter outro diálogo, agora que não tem maioria absoluta.”