Os vencidos de domingo à noite


No domingo passado, a abstenção foi a maior de sempre, as sondagens demonstraram que nem sempre estão erradas, pronunciam tendências que devem ser ponderadas


Os resultados eleitorais das legislativas de 4 de Outubro, e as consequências políticas que irão influenciar de forma directa o quotidiano e vida dos portugueses, demonstram, pelo menos, dois factos, que os doutos especialistas, politólogos e excelências, subestimaram ou nunca enxergaram nas suas dedicadas análises.

O primeiro, é que em democracia, por muita tese que se invente para transaccionar em horário televisivo, ou em estampado texto sagrado, na hora de votar o cidadão eleitor, em consciência, bota o papelinho em quem muito bem entende.

A sua opção, resulta de dois elementos incompreensíveis para os defensores da política do, ”vale tudo”, a experiencia e a memória.

O segundo, é que o eleitorado mudou muito em trinta anos, mas os métodos dos partidos chegarem às pessoas nem por isso. 

Apostam sempre, e quase tudo, na criação de cenários que constroem uma grande ilusão, em oposição ao negro passado, ao qual, prometem aos fiéis em êxtase, nunca mais regressar. A inteligência é substituída pelos sound bites, a explicação por profecias, e a liberdade pelo medo. 

É a opção por uma espécie de tecnopolitica, em que o eleitor é apenas um meio, um pacote de emoções manipuláveis, onde é mais importante saber olhar a câmara, de que olhar o cidadão.

No domingo passado, a abstenção foi a maior de sempre, as sondagens demonstraram que nem sempre estão erradas, pronunciam tendências que devem ser ponderadas, e os inteligentes em análise política caem sempre de pé. 
Nestas legislativas, a chantagem do voto útil também foi derrotada. A pressão na lógica do voto útil, cria a enganosa ideia, de que tudo se resolve politicamente, só entre dois polos partidários, isso é falso e antidemocrático.

Neste quadro, a lógica do voto útil sob chantagem, perverte a democracia, porque subsiste pelo medo e a desinformação, reduz a liberdade e o direito ao livre arbítrio político, impede a procura de alternativas, impede a ruptura, e ao reduzir a escolha a dois partidos estimula uma cíclica alternância conservadora. 

A manutenção dos votos com ligeira subida do PCP, mas principalmente o notável resultado do BE que foi uma alternativa ao PS, provam que os eleitores resistiram ao fado do voto útil. 
Tivesse existido uma hemorragia de votos do PCP e do BE para o PS, e hoje o partido socialista estaria sem qualquer constrangimento a dialogar com a direita, não necessitando de qualquer aproximação a estes partidos que consideraria como organizações de reduzida expressão social.

Só o reforço eleitoral e da representação parlamentar das forças à esquerda do PS, leva a que os socialistas se disponham ao diálogo. A esquerda só é alternativa quando as forças á esquerda do PS crescem.
Para além do PS, os anunciados pequenos partidos foram os grandes derrotados da noite. 

O AGIR coligado com o PTP/MAS, conseguiu cerca de 20 ml votos, mas considerando que o PTP trazia das eleições de 2011 uns amealhados 17 mil votos, significa que a vocação de Joana Amaral Dias, é mais para vender revistas de que para fazer política. 

O projecto do Livre/TDA, como já assumiram, Rui Tavares e Daniel Oliveira, foi penosamente derrotado, não conseguindo sequer, em conjunto, obter metade dos 72 mil votos, que o Livre tinha alcançado sozinho nas europeias de 2014.    

O PDR, é outro grande derrotado, falhadas todas as expectativas, mas com a subvenção anual garantida, Marinho e Pinto volta para Bruxelas. O povo português, aliviado, mostra assim a sua sabedoria.
Sampaio da Nóvoa é um dos derrotados por fogo amigo. Aquilo que era um óbvio desconforto para Costa e divisão para o PS, fica agora resolvido com a decisão de dar liberdade de voto aos socialistas nas Presidenciais. Isto condena não só uma candidatura que ansiava o apoio oficial do PS, como também é uma derrota dos soaristas. 

O PS, ou talvez seja mais justo afirmar, António Costa, perdeu estas eleições de forma humilhante e em desespero agarrou-se ao poder, satisfeito por personificar uma derrota que vai fazer história, depois de ter afastado António Seguro por ganhar por poucochinho.

São inúmeras as razões porque o PS perde estas eleições, uma campanha desastrosa, um partido, desunido, um programa incapaz de se explicar, o abandono do líder nas iniciativas, o factor Grécia, a crise da social-democracia europeia, Sócrates, a incapacidade de inspirar confiança, o crescimento dos partidos á sua esquerda, a eficácia da coligação.

Mas foi principalmente, a esquizofrenia ideológica em que mergulharam á anos, a incapacidade de se assumirem de esquerda e socialistas, que impediu que os portugueses os entendessem como alternativa.
Nos próximos dias O PS vai ter que optar, se desilude uma vez mais, os cidadãos que responderam ao seu pedido de voto para derrotar uma direita, que hoje parece disposto a viabilizar no governo, ou se assume de forma corajosa a maioria de esquerda que existe permitindo desencadear uma nova fase da vida política nacional. 

Da decisão que o PS tomar, do que realmente se trata é da sua própria sobrevivência enquanto força política credível, porque a esquerda que não desonra os seus mandatos, essa independente das circunstâncias, continuará a luta e cumprirá o seu papel. 

Consultor de comunicação
Escreve às quintas-feiras

Os vencidos de domingo à noite


No domingo passado, a abstenção foi a maior de sempre, as sondagens demonstraram que nem sempre estão erradas, pronunciam tendências que devem ser ponderadas


Os resultados eleitorais das legislativas de 4 de Outubro, e as consequências políticas que irão influenciar de forma directa o quotidiano e vida dos portugueses, demonstram, pelo menos, dois factos, que os doutos especialistas, politólogos e excelências, subestimaram ou nunca enxergaram nas suas dedicadas análises.

O primeiro, é que em democracia, por muita tese que se invente para transaccionar em horário televisivo, ou em estampado texto sagrado, na hora de votar o cidadão eleitor, em consciência, bota o papelinho em quem muito bem entende.

A sua opção, resulta de dois elementos incompreensíveis para os defensores da política do, ”vale tudo”, a experiencia e a memória.

O segundo, é que o eleitorado mudou muito em trinta anos, mas os métodos dos partidos chegarem às pessoas nem por isso. 

Apostam sempre, e quase tudo, na criação de cenários que constroem uma grande ilusão, em oposição ao negro passado, ao qual, prometem aos fiéis em êxtase, nunca mais regressar. A inteligência é substituída pelos sound bites, a explicação por profecias, e a liberdade pelo medo. 

É a opção por uma espécie de tecnopolitica, em que o eleitor é apenas um meio, um pacote de emoções manipuláveis, onde é mais importante saber olhar a câmara, de que olhar o cidadão.

No domingo passado, a abstenção foi a maior de sempre, as sondagens demonstraram que nem sempre estão erradas, pronunciam tendências que devem ser ponderadas, e os inteligentes em análise política caem sempre de pé. 
Nestas legislativas, a chantagem do voto útil também foi derrotada. A pressão na lógica do voto útil, cria a enganosa ideia, de que tudo se resolve politicamente, só entre dois polos partidários, isso é falso e antidemocrático.

Neste quadro, a lógica do voto útil sob chantagem, perverte a democracia, porque subsiste pelo medo e a desinformação, reduz a liberdade e o direito ao livre arbítrio político, impede a procura de alternativas, impede a ruptura, e ao reduzir a escolha a dois partidos estimula uma cíclica alternância conservadora. 

A manutenção dos votos com ligeira subida do PCP, mas principalmente o notável resultado do BE que foi uma alternativa ao PS, provam que os eleitores resistiram ao fado do voto útil. 
Tivesse existido uma hemorragia de votos do PCP e do BE para o PS, e hoje o partido socialista estaria sem qualquer constrangimento a dialogar com a direita, não necessitando de qualquer aproximação a estes partidos que consideraria como organizações de reduzida expressão social.

Só o reforço eleitoral e da representação parlamentar das forças à esquerda do PS, leva a que os socialistas se disponham ao diálogo. A esquerda só é alternativa quando as forças á esquerda do PS crescem.
Para além do PS, os anunciados pequenos partidos foram os grandes derrotados da noite. 

O AGIR coligado com o PTP/MAS, conseguiu cerca de 20 ml votos, mas considerando que o PTP trazia das eleições de 2011 uns amealhados 17 mil votos, significa que a vocação de Joana Amaral Dias, é mais para vender revistas de que para fazer política. 

O projecto do Livre/TDA, como já assumiram, Rui Tavares e Daniel Oliveira, foi penosamente derrotado, não conseguindo sequer, em conjunto, obter metade dos 72 mil votos, que o Livre tinha alcançado sozinho nas europeias de 2014.    

O PDR, é outro grande derrotado, falhadas todas as expectativas, mas com a subvenção anual garantida, Marinho e Pinto volta para Bruxelas. O povo português, aliviado, mostra assim a sua sabedoria.
Sampaio da Nóvoa é um dos derrotados por fogo amigo. Aquilo que era um óbvio desconforto para Costa e divisão para o PS, fica agora resolvido com a decisão de dar liberdade de voto aos socialistas nas Presidenciais. Isto condena não só uma candidatura que ansiava o apoio oficial do PS, como também é uma derrota dos soaristas. 

O PS, ou talvez seja mais justo afirmar, António Costa, perdeu estas eleições de forma humilhante e em desespero agarrou-se ao poder, satisfeito por personificar uma derrota que vai fazer história, depois de ter afastado António Seguro por ganhar por poucochinho.

São inúmeras as razões porque o PS perde estas eleições, uma campanha desastrosa, um partido, desunido, um programa incapaz de se explicar, o abandono do líder nas iniciativas, o factor Grécia, a crise da social-democracia europeia, Sócrates, a incapacidade de inspirar confiança, o crescimento dos partidos á sua esquerda, a eficácia da coligação.

Mas foi principalmente, a esquizofrenia ideológica em que mergulharam á anos, a incapacidade de se assumirem de esquerda e socialistas, que impediu que os portugueses os entendessem como alternativa.
Nos próximos dias O PS vai ter que optar, se desilude uma vez mais, os cidadãos que responderam ao seu pedido de voto para derrotar uma direita, que hoje parece disposto a viabilizar no governo, ou se assume de forma corajosa a maioria de esquerda que existe permitindo desencadear uma nova fase da vida política nacional. 

Da decisão que o PS tomar, do que realmente se trata é da sua própria sobrevivência enquanto força política credível, porque a esquerda que não desonra os seus mandatos, essa independente das circunstâncias, continuará a luta e cumprirá o seu papel. 

Consultor de comunicação
Escreve às quintas-feiras