O grupo Volkswagen (VW) vai rever todos os investimentos previstos e “cancelará ou adiará os que não sejam estritamente necessários” após o escândalo da manipulação das emissões poluentes. A informação foi avançada ontem pelo novo presidente do grupo VW, Matthias Müller, que não quis adiantar quais os países afectados, dizendo apenas que “tudo isto vai ser doloroso”. Para já, ainda não se sabe se a Autoeuropa vai ser afectada, apesar de a fábrica de Palmela ter previsto um investimento de 677 milhões de euros para serem aplicados até 2018, a fim de receber a produção de um novo modelo. A ideia seria receber um carro da chamada nova plataforma, ou seja, que possa ser produzido em Portugal ou noutro país.
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A verdade é que estas notícias não estão a deixar o parque industrial de Palmela tranquilo. Contactado pelo i, o coordenador da comissão de trabalhadores deste espaço, Daniel Bernardino, admite que todas as empresas que dependem da Autoeuropa “estão muito apreensivas” porque ainda não sabem se a produção vai ou não ser afectada. E recorda o episódio que ocorreu em Julho passado, quando a fábrica de Palmela deixou de produzir o modelo Eos.
“Assistimos ao encerramento de uma empresa, a Webasto, e ao despedimento de 300 trabalhadores, dos quais 100 eram trabalhadores temporários da Autoeuropa que não tinham vínculo com a empresa e que foram dispensados com a redução de produção.” Se o investimento for cancelado ou adiado poderá, no seu entender, pôr novamente em causa a sobrevivência dos fornecedores que estão dependentes quase em exclusivo da produção da fábrica de Palmela.
Contactada pelo i, a Autoeuropa não comentou o seu futuro, remetendo para as declarações do líder do grupo, mas já em Julho passado, quando se assistiu ao fim da produção do modelo Eos, tinha admitido que “o actual mercado automóvel é marcado por um elevado nível de incerteza”.
A fábrica produz a segunda geração de MPV, Sharan, Seat Alhambra e o Scirocco, modelo que foi lançado em 2014. Conta actualmente com 3600 trabalhadores nos quadros e fabrica cerca de 500 carros por dia.
O ministro da Economia, Pires de Lima, já tinha admitido que não existem garantias nenhumas em relação à fábrica de Palmela, mas frisou a importância de “proteger um grande investidor em Portugal, responsável por milhares de postos de trabalho directos e indirectos, e que tem sido um modelo de gestão que merece ser valorizado e respeitado em Portugal”. Apesar de não ter “nenhuma notícia de alteração de posições”, reconheceu que “as fábricas existem para vender automóveis e, para isso, é preciso ter clientes”.
Incertezas Matthias Müller reconhece que o escândalo da manipulação de carros que afecta 11 milhões de veículos em todo o mundo vai ter consequências financeiras pesadas: “As acusações são significativas e potencialmente muito graves” após a admissão de culpa, revelou o responsável.
O novo líder do grupo alemão salientou ainda que já foi feita uma provisão de 6,5 mil milhões de euros, no terceiro trimestre, que cobrem os custos para actualizações dos veículos afectados, mas reconhece que essa verba “não é suficiente”, prevendo “grandes penalidades para resolver acordos de indemnização à Volkswagen”. O valor incorpora pouco mais de um terço da potencial multa nos EUA, que é de 18 mil milhões de dólares (cerca de 16 mil milhões de euros), não considerando as acções de outros governos. Segundo o responsável, “as consequências financeiras e comerciais ainda são impossíveis de prever”, pelo que há que rever os investimentos.
Recorde-se que o grupo alemão tinha em 2014 uma meta de investimento de 86 mil milhões de euros para os próximos cinco anos. Esta meta foi desenhada pelo anterior líder, Martin Winterkorn, que se demitiu devido ao escândalo. Já o presidente do conselho de trabalhadores da VW, Bernd Osterloh, diz que, para já, o escândalo não tem consequências para os funcionários do grupo.
Vários analistas têm vindo a referir que, para fazer face a estes prejuízos, o fabricante alemão poderá ser obrigado a vender alguns dos seus activos. Uma das soluções passa por alienar a Audi, já que é vista como uma das marcas de luxo do grupo.