Arbitragem e árbitros no futebol profissional


O caso de certos árbitros, treinadores e dirigentes do futebol profissional foi sempre um exemplo a apontar quanto à evidente falta de formação adequada.


© Bruno Simoes Castanheira

Desde sempre questionámos em qualquer profissão a falta de formação, suficiente e adequada, ao exercício dessa mesma profissão, e o caso de certos árbitros, treinadores e dirigentes do futebol profissional foi sempre um exemplo a apontar não só por essa falta evidente, com algumas excepções, mas ainda por cima porque têm a ousadia de chamar “desporto” a uma actividade profissional que nada tem a ver com o verdadeiro desporto, para já não falar na reputação de grande parte destes “agentes” do futebol profissional, por toda a Europa e não só.

Mas aqui e agora só vamos analisar uma pequena notícia acerca da reacção de alguns desses árbitros e tecer algumas considerações, que se impõem, pela publicação de tal notícia no “Correio da Manhã” de 23 de Agosto de 2015. 

“Os árbitros dos campeonatos profissionais de futebol em Portugal estão a pressionar Pedro Proença, presidente da Liga dos Clubes, e exigem-lhe medidas rápidas para que os clubes deixem de criticar, de forma tão excessiva, as actuações dos juízes.” Segundo determinada fonte, “os árbitros portugueses olham para as críticas de treinadores e dirigentes com preocupação, em especial numa fase tão prematura da época”.

“A situação é considerada intolerável e os árbitros pedem mesmo castigos aos críticos nos casos mais graves.”

Desde sempre escrevemos que somos a favor da profissionalização dos árbitros, por razões óbvias, sendo uma delas a obrigatoriedade de uma formação qualificada e responsável, em vários planos. Tudo isso deveria ser da inteira responsabilidade da tutela, embora, em nossa opinião, ela nada tenha feito para isso até hoje, talvez porque entenda que tal não é necessário…

Se de facto não tivéssemos lido tal notícia em 23 de Agosto de 2015, podíamos pensar que estávamos no tempo de Salazar e da ditadura, com a tal censura e, depois, o exame prévio do coronel Páscoa e companhia, que recebiam um extra de 500 escudos além do soldo, visto que eram militares.

Há aqui, pelo menos, duas ou três questões a esclarecer. Primeiro, a maioria dos árbitros de futebol nunca estudaram, o suficiente, matérias que podiam levá-los a pedir meios e medidas para o exercício sério e isento da sua “profissão” que, para a maioria, é apenas um “biscate”.

Segundo, tem havido demasiado número de provas de corrupção no futebol profissional, com jogos combinados para apostas, etc., até porque estão sempre em causa milhares e milhares de euros ou dólares (EUA), para já não falarmos em casos recentes ocorridos com altos dirigentes da própria FIFA.

Terceiro, quem tutela esses jogos, como nos casinos, tem de assegurar um mínimo de seriedade nos resultados, e isso não acontece ou por ignorância, ou por negligência, ou por outros motivos que a Judiciária poderia investigar.

Mas esses “árbitros” que pedem castigos a quem os critique por erros que eles cometem no exercício da sua profissão, comprovados pela televisão e por milhares de espectadores nas bancadas, não estão de facto a ser sérios nem isentos, estão ao mesmo tempo a demonstrar grande ignorância e, ainda por cima, a reivindicar um estatuto para eles acima da lei.

Num pequeno exame que deviam ter feito em algumas disciplinas na Faculdade de Motricidade Humana da ex-Universidade Técnica de Lisboa, seriam reprovados por incapacidade para o exercício de tal “mister”, já que eles pensam, possivelmente, que o necessário é conhecer as regras do jogo, sem perceberem que, além disso, o que é preciso é conhecer o ser humano não só nos seus diferentes comportamentos motores, mas sobretudo na origem do próprio movimento (cinesiologia) e na sua complexa percepção (sensação intelectualizada), com os circuitos recorrentes a controlarem todo o gesto mas sem nos informarem da incapacidade e impossibilidade absolutas de sermos ao mesmo tempo actores e espectadores.

Ou seja, é absolutamente desadequado estar a correr num campo de futebol com um apito na boca ao mesmo tempo que se tenta ver qualquer falta, cuja decisão requer, no mínimo, 15/100 de segundo, por ser a reacção visual a mais demorada, já que a mais rápida é a táctil-gnósica, ao nível da pele, depois a auditiva e, por último, a visual. Por isso se diz que a vista é dos órgãos dos sentidos o que mais nos engana.

Mas bastava que tivessem estudado (os árbitros) psicologia para saberem isto e, depois de o saberem, o que devem exigir é a rápida mudança de meios de prova, já que terão de ser electrónicos, como, aliás, há mais de 20 anos vimos dizendo.

Por último queremos deixar aqui claro que, sob o ponto de vista sociológico, o “circo” é importante, para além do “pão”, para que haja uma certa estabilidade social através da catarse semanal que o “povo” vai fazendo, tarefa que, em nossa opinião, cabe a quem governa e é responsável pela ordem pública.

Mas por isso mesmo impõem-se medidas drásticas, e urgentes, para regularizar aquilo que está a sair dos carris, talvez porque a “bitola” está a ficar desadequada à circulação destas novas “composições” que, a nosso ver, estão em roda livre, ou seja, descontroladas, atrevidas, arrogantes e pedindo publicamente protecção às “autoridades” para ficarem impunes a tudo, e inclusive que proíbam e castiguem quem os criticar.

É urgente agir para que o presidente do Sporting não venha a ter muitos seguidores quando pede penas de prisão para certos árbitros quando “roubam” 12 milhões de euros. É que o futebol é um negócio, como disse Pedro Proença, não é desporto, mas atenção, não matem o negócio de vez porque isso seria o caos social.

Uma certa alienação do povo pode ser factor de coesão social, mas deverá tender a pouco e pouco para uma fuga ao real, já que esta é consciente, ao contrário da outra. 

Eva Maria Lacatos, socióloga, dizia que “alienado é todo aquele que não sabe nada da economia, da saúde, da política em geral do seu país e, sobretudo, do seu papel na sociedade”. Assim sendo, 80% a 90% dos portugueses são ou estão alienados. É obrigação do governo, e de nós todos, acordar essas pessoas para que o país progrida e não mereça o seu lugar no Terceiro Mundo, como lhe chama George Balandier. 

Para terminar pedagogicamente, sugerimos que seja criada uma comissão independente constituída por personalidades conhecidas pelo seu perfil ímpar, com o objectivo de estudar a introdução urgente dos meios electrónicos que possibilitem uma arbitragem mais rigorosa e que não permitam a manipulação de resultados, e ainda a aplicação de sanções aos árbitros apanhados em flagrante em actos de desonestidade, desde coimas, em percentagem dos seus rendimentos, passando por suspensões temporárias da actividade, e culminando mesmo na expulsão (da actividade). Desta forma, talvez se salve e “credibilize” o negócio do futebol.

Sociólogo
Escreve quinzenalmente à quarta-feira 

Arbitragem e árbitros no futebol profissional


O caso de certos árbitros, treinadores e dirigentes do futebol profissional foi sempre um exemplo a apontar quanto à evidente falta de formação adequada.


© Bruno Simoes Castanheira

Desde sempre questionámos em qualquer profissão a falta de formação, suficiente e adequada, ao exercício dessa mesma profissão, e o caso de certos árbitros, treinadores e dirigentes do futebol profissional foi sempre um exemplo a apontar não só por essa falta evidente, com algumas excepções, mas ainda por cima porque têm a ousadia de chamar “desporto” a uma actividade profissional que nada tem a ver com o verdadeiro desporto, para já não falar na reputação de grande parte destes “agentes” do futebol profissional, por toda a Europa e não só.

Mas aqui e agora só vamos analisar uma pequena notícia acerca da reacção de alguns desses árbitros e tecer algumas considerações, que se impõem, pela publicação de tal notícia no “Correio da Manhã” de 23 de Agosto de 2015. 

“Os árbitros dos campeonatos profissionais de futebol em Portugal estão a pressionar Pedro Proença, presidente da Liga dos Clubes, e exigem-lhe medidas rápidas para que os clubes deixem de criticar, de forma tão excessiva, as actuações dos juízes.” Segundo determinada fonte, “os árbitros portugueses olham para as críticas de treinadores e dirigentes com preocupação, em especial numa fase tão prematura da época”.

“A situação é considerada intolerável e os árbitros pedem mesmo castigos aos críticos nos casos mais graves.”

Desde sempre escrevemos que somos a favor da profissionalização dos árbitros, por razões óbvias, sendo uma delas a obrigatoriedade de uma formação qualificada e responsável, em vários planos. Tudo isso deveria ser da inteira responsabilidade da tutela, embora, em nossa opinião, ela nada tenha feito para isso até hoje, talvez porque entenda que tal não é necessário…

Se de facto não tivéssemos lido tal notícia em 23 de Agosto de 2015, podíamos pensar que estávamos no tempo de Salazar e da ditadura, com a tal censura e, depois, o exame prévio do coronel Páscoa e companhia, que recebiam um extra de 500 escudos além do soldo, visto que eram militares.

Há aqui, pelo menos, duas ou três questões a esclarecer. Primeiro, a maioria dos árbitros de futebol nunca estudaram, o suficiente, matérias que podiam levá-los a pedir meios e medidas para o exercício sério e isento da sua “profissão” que, para a maioria, é apenas um “biscate”.

Segundo, tem havido demasiado número de provas de corrupção no futebol profissional, com jogos combinados para apostas, etc., até porque estão sempre em causa milhares e milhares de euros ou dólares (EUA), para já não falarmos em casos recentes ocorridos com altos dirigentes da própria FIFA.

Terceiro, quem tutela esses jogos, como nos casinos, tem de assegurar um mínimo de seriedade nos resultados, e isso não acontece ou por ignorância, ou por negligência, ou por outros motivos que a Judiciária poderia investigar.

Mas esses “árbitros” que pedem castigos a quem os critique por erros que eles cometem no exercício da sua profissão, comprovados pela televisão e por milhares de espectadores nas bancadas, não estão de facto a ser sérios nem isentos, estão ao mesmo tempo a demonstrar grande ignorância e, ainda por cima, a reivindicar um estatuto para eles acima da lei.

Num pequeno exame que deviam ter feito em algumas disciplinas na Faculdade de Motricidade Humana da ex-Universidade Técnica de Lisboa, seriam reprovados por incapacidade para o exercício de tal “mister”, já que eles pensam, possivelmente, que o necessário é conhecer as regras do jogo, sem perceberem que, além disso, o que é preciso é conhecer o ser humano não só nos seus diferentes comportamentos motores, mas sobretudo na origem do próprio movimento (cinesiologia) e na sua complexa percepção (sensação intelectualizada), com os circuitos recorrentes a controlarem todo o gesto mas sem nos informarem da incapacidade e impossibilidade absolutas de sermos ao mesmo tempo actores e espectadores.

Ou seja, é absolutamente desadequado estar a correr num campo de futebol com um apito na boca ao mesmo tempo que se tenta ver qualquer falta, cuja decisão requer, no mínimo, 15/100 de segundo, por ser a reacção visual a mais demorada, já que a mais rápida é a táctil-gnósica, ao nível da pele, depois a auditiva e, por último, a visual. Por isso se diz que a vista é dos órgãos dos sentidos o que mais nos engana.

Mas bastava que tivessem estudado (os árbitros) psicologia para saberem isto e, depois de o saberem, o que devem exigir é a rápida mudança de meios de prova, já que terão de ser electrónicos, como, aliás, há mais de 20 anos vimos dizendo.

Por último queremos deixar aqui claro que, sob o ponto de vista sociológico, o “circo” é importante, para além do “pão”, para que haja uma certa estabilidade social através da catarse semanal que o “povo” vai fazendo, tarefa que, em nossa opinião, cabe a quem governa e é responsável pela ordem pública.

Mas por isso mesmo impõem-se medidas drásticas, e urgentes, para regularizar aquilo que está a sair dos carris, talvez porque a “bitola” está a ficar desadequada à circulação destas novas “composições” que, a nosso ver, estão em roda livre, ou seja, descontroladas, atrevidas, arrogantes e pedindo publicamente protecção às “autoridades” para ficarem impunes a tudo, e inclusive que proíbam e castiguem quem os criticar.

É urgente agir para que o presidente do Sporting não venha a ter muitos seguidores quando pede penas de prisão para certos árbitros quando “roubam” 12 milhões de euros. É que o futebol é um negócio, como disse Pedro Proença, não é desporto, mas atenção, não matem o negócio de vez porque isso seria o caos social.

Uma certa alienação do povo pode ser factor de coesão social, mas deverá tender a pouco e pouco para uma fuga ao real, já que esta é consciente, ao contrário da outra. 

Eva Maria Lacatos, socióloga, dizia que “alienado é todo aquele que não sabe nada da economia, da saúde, da política em geral do seu país e, sobretudo, do seu papel na sociedade”. Assim sendo, 80% a 90% dos portugueses são ou estão alienados. É obrigação do governo, e de nós todos, acordar essas pessoas para que o país progrida e não mereça o seu lugar no Terceiro Mundo, como lhe chama George Balandier. 

Para terminar pedagogicamente, sugerimos que seja criada uma comissão independente constituída por personalidades conhecidas pelo seu perfil ímpar, com o objectivo de estudar a introdução urgente dos meios electrónicos que possibilitem uma arbitragem mais rigorosa e que não permitam a manipulação de resultados, e ainda a aplicação de sanções aos árbitros apanhados em flagrante em actos de desonestidade, desde coimas, em percentagem dos seus rendimentos, passando por suspensões temporárias da actividade, e culminando mesmo na expulsão (da actividade). Desta forma, talvez se salve e “credibilize” o negócio do futebol.

Sociólogo
Escreve quinzenalmente à quarta-feira