Juan Carlos. Cascais procura casa para rei passar férias no Estoril

Juan Carlos. Cascais procura casa para rei passar férias no Estoril


A Câmara de Cascais ofereceu uma casa de Verão ao rei emérito de Espanha, conta o diário “ABC”. Será o regresso de Juan Carlos ao Estoril? Certezas ainda não há, mas é um bom motivo para recordar a infância de Juanito em Portugal.


As fortes ligações de Juan Carlos a Portugal não são segredo para ninguém. O rei emérito de Espanha viveu na Vila Giralda e passou férias por diversas vezes no Estoril. Pelo caminho foi coleccionando amigos e histórias que ficaram na memória dos que o conheceram. Juanito, nome pelo qual era carinhosamente chamado, é relembrado especialmente pelo seu lado afectivo. António Muchaxo, dono da Estalagem Muchaxo, na praia do Guincho, é um dos amigos que o rei ainda tem em terras portuguesas: “Conhecemo-nos quando eu vivia no Estoril. Já tínhamos aqui a estalagem, mas estávamos sempre na praia do Tamariz”, recorda ao i. Esta era mesmo a estância balnear de eleição de Juan Carlos durante as estadias em Portugal, nas décadas de 50 a 70: “Passava a vida no Tamariz”, lembra António com saudade. 

Esta semana, a nostalgia regressou em força quando o jornal espanhol “ABC” noticiou que Cascais teria disponibilizado uma residência de Verão a Juan Carlos. E uma das opções mais fortes em cima da mesa seria a Casa de Santa Maria, um edifício perto do farol, actualmente usado para visitas guiadas e conferências. Vai o rei emérito de Espanha regressar ao Estoril?

Dizer que este rei é uma “pessoa normalíssima” é o melhor elogio que o amigo António lhe pode fazer: “É algo que costumo dizer frequentemente: as pessoas de sangue azul são muito simples. São gente com uma formação fora de série. E ele foi educado para ser rei.” 

Durante as temporadas que passou em Portugal, “Juanito virou-se mais para os barcos”, conta António, relembrando que esta foi também a época em que menos se viram: “Ele andava noutra onda até que teve de ir para Espanha. Depois passou a vir cá só de vez em quando.” 

Nas férias em Cascais, Juan Carlos não passava sem ir almoçar à Estalagem Muchaxo: “Tenho muitas memórias guardadas em fotografias dessas alturas”, explica o amigo. Outra prova de que a amizade não esmoreceu com a distância ficou marcada a 26 de Janeiro de 1962, dia em que Juan Carlos pediu Sofia da Grécia em casamento. O pedido aconteceu na sua estalagem e ainda hoje, aos 85 anos, António guarda o livro assinado por Juanito e Sofia para marcar esse acontecimento. 

Mas nesse dia nem tudo foi um mar de rosas: “O meu pai trouxe-me uma máquina fotográfica da Alemanha de Leste e vi que dizia 36 lá no sítio do rolo. Parti do princípio de que estava lá.” Mas não era o caso. “Vá de tirar fotos com a máquina. Quando foi para revelar, não tinha nenhuma.” Dessa data, só sobreviveu uma que António tirou com outra máquina e guarda na estalagem. “Foi uma bronca de todos os tempos! Depois perguntavam-me: ‘Então, Tony, as fotografias?” Fui sempre adiando a resposta”, relembra com um sorriso rasgado. De resto, acrescenta, “correu tudo bem”. As famílias reuniram-se e a festa fez-se com toda a realeza. 

Depois de ter tomado posse como rei de Espanha, Juanito “continuou a ser o mesmo”. Ainda hoje “fala português como qualquer um que tenha nascido no nosso país”. António continua a dirigir-se a Juan Carlos pelo nome da infância e, desde essa altura, pouco ou nada mudou na relação dos dois: “Não lhe chamo rei, é sempre Juanito!” Uma das memórias mais recentes que tem do rei emérito de Espanha ocorreu “há uns anos” na Feira Internacional de Turismo. “Ele aproximou-se de mim, acompanhado pela rainha, e chamou-me ‘Tony! Tony!’. Dei-lhe um abraço e dois beijinhos à rainha Sofia.” O alcaide é que ficou espantado a olhar para eles. Estaria a pensar: “Mas quem é este tipo que está aqui a abraçar o rei e aos beijos à rainha?!” 

Uma certeza mantém-se: a amizade entre as famílias continua. Na deslocação de Filipe VI de Espanha ao nosso país, António Muchaxo deu ao rei algumas fotos do avô e do pai, dos tempos passados no Estoril. Em troca, Filipe enviou uma carta e uma foto de quando esteve em Queluz. 

Questionada pelo i sobre a eventual disponibilidade de oferecer uma residência de Verão para Juan Carlos voltar a passar férias em Portugal, a Câmara Municipal de Cascais não quis prestar esclarecimentos. O diário “ABC” conta que a autarquia ainda aguarda por uma resposta da família real.