Paulo Portas foi o primeiro a chegar ao Hotel Sana. Passos Coelho chegou depois. Entrou de carro pela garagem do hotel, com a mulher, Laura Ferreira, e as filhas. Quer um quer outro não falaram à comunicação social. Subiram ao 12.o andar do hotel, no Marquês de Pombal. Foi numa suite da unidade hoteleira de Lisboa que os líderes da PàF seguiram a projecção das sondagens. Estavam serenos, garantem fontes próximas, e tinham a seu lado alguns ministros como José Pedro Aguiar--Branco, Maria Luís Albuquerque, Assunção Cristas ou Jorge Moreira da Silva.
Passos e Portas chegaram ao dia das eleições a acreditar na vitória. Só faltava saber se com ou sem a tal maioria que recusavam chamar de “absoluta”, porque não queriam “poderes absolutos”, como tantas vezes Passos fez questão de sublinhar, mas a “maioria da estabilidade”. Era esta a grande questão de uma noite eleitoral previsível.
Nos corredores passeavam muitos jovens simpatizantes e apoiantes. O nervoso miudinho crescia há medida que se aproximavam as 20 horas. Quando as televisões lançaram as projecções, ouviram-se gritos de “vitória”. Alguns saltos, muitos abraços e muitas mãos no ar. A primeira etapa estava ganha: a coligação conseguia mais votos do que o PS. Mas conseguiriam Pedro e Paulo dar uma maioria à PàF? A pergunta dominava as conversas, mais ou menos de circunstância, daqueles que subiram ao segundo piso para enganar os estômagos e os nervos.
Prudência. Muita prudência. Era este o sentimento que dominava as conversas. E cautela, também. Maria Luís Albuquerque foi uma das ministras que desceu até à zona dos convidados. Talvez para chocar com a comunicação social e fazer uma declaração mais ou menos espontânea. Alertava para o facto de as urnas, àquela hora, ainda não estarem fechadas. Como tal seria prematuro estar a falar como se já houvesse um resultado final. “Aguardamos com expectativa”, repetiu para todas as rádios e tv’s que entravam em directo. “Vai continuar como ministra das Finanças?”, perguntavam os jornalistas. Maria Luís respondia à questão dizendo que era uma não questão naquele momento e, perante a insistência, avançava que Passos bem pode ter o próximo ministro das Finanças na cabeça, mas que o assunto ainda não foi tema de conversa entre os dois.
A contagem dos votos ia evoluindo nas televisões até que António Costa surge em directo para reagir aos resultados. Reconhece a derrota, mas sublinha que a coligação não venceu com maioria, e diz que se mantém como secretário-geral do PS. Novo pesadelo para a coligação? É que até há minutos atrás, na sala de comes e bebes, só se falava que António Costa só tinha uma saída: a demissão da liderança do PS.
Mas o líder dos socialistas não se demitiu. Minutos depois, Passos e Portas desceram para reconhecer a vitória e avisar que estavam prontos para governar. Os militantes e apoiantes dos dois partidos aplaudiram o discurso, esperaram a saída dos líderes e seguiram-lhes as pisadas.