Passos Coelho e Paulo Portas reconheceram ontem que a coligação Portugal à Frente não conseguiu o seu objectivo maior nestas legislativas – o de somar uma maioria absoluta – mas nem por isso os líderes da PàF vão deixar de levar ao Presidente da República, Cavaco Silva, uma proposta de governo estável com base na vitória de ontem.
“Já acertei com o Dr. Paulo Portas, em consequência dos resultados, que iremos promover a convocação dos órgãos nacionais dos respectivos partidos, para promover um acordo de governo que sempre esteve subjacente ao acordo de coligação”, afirmou Passos. O acordo será assinado esta semana, antes de Cavaco ouvir os partidos eleitos para a Assembleia da República. Segundo o líder da PàF, este é um passo “indispensável para poder comunicar ao Presidente da República que a força mais votada está disponível para formar governo”, sublinhou.
Com o fantasma do plano B de António Costa (referido durante a campanha)a pairar sobre uma intervenção curta e pouco emotiva, Passos Coelho fez questão de clarificar a sua posição sobre que partido ou coligação deve ser convidada a formar governo. “É inequívoco que estas eleições mostraram uma força política vencedora e que esta força política vencedora foi a coligação.” Sem a maioria nas mãos, Passos admitiu que aliança PSD/CDS “não conseguiu chegar como era nosso desejo a uma maioria no parlamento”, uma maioria que “era a forma mais segura de olhar os próximos quatro anos”. Mas a vitória é da PàF. Enum aviso que seguiu direitinho para o PS e para toda a esquerda, Passos atirou: “Como disse durante a campanha seria estranho que quem ganhasse as eleições não pudesse governar. Creio que nos dispomos a interpretar de uma forma correcta e humilde a vontade do eleitorado.”
Mesmo com a vitória nas urnas, Passos adiantou que irá contactar o PS para tentar um compromisso para reformas importantes para o país, como a da Segurança Social. “Não deixaremos de ir ao encontro do PS e de todos os partidos que se filiam numa opção europeia, respeitando as regras da zona euro. Acredito que mais de 70% do parlamento esteja dentro desta perspectiva de filiação europeia e de pertença à moeda única.”
Paulo Portas, o líder do CDScom a tutela dos ataques mais cerrados ao PS durante a campanha, não mudou o tom. “Engana-se quem pensar que o radicalismo serve para liderar um país. Não é possível transformar uma derrota nas urnas numa espécie de vitória de secretaria. Mas não são contas do nosso rosário”, ironizou, para garantir que “se há uma coisa que os cidadãos não gostam é de ouvir que toda a gente ganhou”.
Sobre o novo quadro parlamentar, Portas afirmou que “há alterações na relação de forças à esquerda da esquerda”, numa referência ao aumento do número de votos no BE e na perda de votos da CDU. Mas, sublinhou o centrista, “a larga maioria do parlamento continua a ser governada pelos partidos do arco da governabilidade”. Só que apenas dois partidos irão governar, segundo a vontade expressa dos portugueses, lembrou Portas (“Os portugueses quiseram com total clareza que o PSD/CDS seja governo”). Até porque, insistiu, “os portugueses não perdoariam que a sua vontade expressa democraticamente fosse desrespeitada”. O discurso soa a repetição do discurso de campanha. Mas não é. É de vitória. Só que sem maioria absoluta.