Descobrir o que resulta para chegar ao topo da escala

Descobrir o que resulta para chegar ao topo da escala


Há os que são criativos e os que preferem métodos mais tradicionais, mas todos estes alunos de excelência têm uma coisa em comum: sabem bem o que vale e para que serve o seu estudo.


Francisca Machado estava no 6.o ano quando lhe foi diagnosticado défice de atenção. No início recusou-se a aceitar que tinha esse distúrbio, mas acabaria por reconhecê-lo. Afinal, essa era uma explicação para ser tão impulsiva nos testes e impaciente no estudo. “Antes, quando tinha de ler um texto grande desistia a meio. Nas aulas não prestava atenção, revirava os olhos…”, recorda a estudante de 17 anos do Colégio Amor de Deus, em Cascais. Depois de medicada e de ter tido a ajuda de uma tutora, chegou ao 12.o ano com uma média de 18,7. 

Até parece que foi tudo muito simples, mas o certo é que envolveu muita disciplina. Durante a semana, por exemplo, nunca se deita depois das 23h30: “É preciso dormir bem para ter um bom rendimento.” E tem sempre consigo um caderninho onde anota tudo o que precisa de saber: calendário dos testes, trabalhos de casa, coisas que os professores dizem, entre outras anotações. “A minha disciplina resultou de um obstáculo que tive de ultrapassar.

Hoje sofre-se muito de peer pressure: não é fácil dizer aos amigos que não podemos ir a um programa porque temos de estudar.” Ainda assim, garante ter tempo para tudo: desporto quatro vezes por semana, programas com amigos e namorado.

O segredo para esta reviravolta? Ter objectivos.

Francisca tem-nos e trabalha para entrar em Engenharia de Nanotecnologia: “É importante saber o que se quer da vida, mesmo que os projectos possam mudar mais tarde.” Com as metas traçadas ficam só a faltar os meios para as atingir. Vai sempre às aulas, está atenta e não é uma pessoa muito nervosa (apesar de, por vezes, contar com a ajuda de Valdispert).

Os resumos são também essenciais, mas não valem por si: “Depois disso, é preciso estudá-los.” Para aprender melhor a matéria, gosta de a explicar a outras pessoas. Já adaptou o Trivial Pursuit à Biologia e à Geologia. E cola esquemas nas paredes do quarto na véspera dos exames.

Francisco Sacadura partilha com Francisca a mania dos resumos. Fá-los durante as aulas para não perder nada do que dizem os professores. E repete o método em casa a partir dos apontamentos das aulas e dos livros que lê, sugeridos pelos professores ou pelo seu próprio interesse (especialmente em Biologia e Física): “Demoro muito tempo a fazer resumos, mas sei que quando os concluo a matéria está praticamente sabida.” E nunca perde uma oportunidade para esclarecer uma dúvida ou ajudar outros a fazê-lo, colegas ou professores.

Geralmente estuda em casa, em silêncio total, caso contrário procura simplesmente rentabilizar o tempo. “Como até ao ano passado treinava remo de competição, fazia os resumos em cadernos pequenos para ler no comboio.” E até os treinos podiam servir para rever mentalmente a matéria. Aos 17, já participou nas Olimpíadas de Biologia (3.o lugar a nível nacional), de Física (1.o na região Sul) e Matemática e, quando acabar o 12.o, quer ir para Cambridge estudar Neurociência.

É também por isso que o aluno da Escola Quinta do Marquês, em Oeiras, se foca nos estudos e com resultados: a sua média é de 19,5 valores.

TREINAR PARA TESTAR Diogo Miranda era o melhor aluno da turma durante o secundário. “E da escola”, corrige a namorada. Agora, com 18 anos, entrou no curso de Medicina em Santa Maria, em Lisboa, sem saber o que o espera. “Vou à descoberta”, diz, fazendo um paralelismo com as rotinas de estudo. “Quando vejo que um método não funciona tento outro.” 

Foi o que aconteceu com os resumos: perdia muito tempo a fazê-los e, como tinha uma boa capacidade de extrair o essencial só a ler os manuais, deixou-os de parte. Mas há uma rotina da qual não abdica: resolver exercícios. “Faço-os a Matemática, a Português ou a Biologia. E nunca olho para as soluções. Prefiro não concluir um TPC do que fazê–lo pelas soluções.” 

Já quando tem de estudar a teoria, não cai na tentação de decorar: “Procuro perceber, até porque os professores não chapam nos testes o que deram nas aulas.” E estuda sozinho, às vezes em voz baixa, outras em voz alta, como se estivesse a dar uma aula. “Não sei o que é estudar em grupo. Sozinho estou mais à vontade, posso fazer as maluquices que quiser.” 

À Francisca Barros, de 18 anos, também lhe rende mais o estudo individual. Mas, tal como Diogo, consegue apenas estudar com outras pessoas se estas não estiverem focadas no mesmo que ela. “Tenho muita dificuldade em começar. E quando estudo com outras pessoas acabo por me desconcentrar facilmente.” É também por isso que desliga o telemóvel: “No início custava-me muito, mas percebi que aproveitava melhor o tempo.”

A sua fórmula tem alguns pontos comuns com Francisco, Diogo e Francisca: faz resumos e esquemas, usa um código de cores, lê a matéria em voz alta, está atenta nas aulas, não deixa dúvidas por esclarecer, faz os trabalhos de casa no próprio dia. E exercícios, exercícios, muitos exercícios, especialmente a Matemática, a disciplina a que tinha maior dificuldade no secundário (apesar de ter entrado em Gestão no ISEG com média de 17,6).

Ser organizada é, pois, a chave para ter tempo para os amigos, desporto e grupos católicos. “Até acabo por marcar primeiro na agenda os hobbies aos quais não quero mesmo faltar e depois defino o estudo em função disso.” E assim vai gerindo esses “buraquinhos” e organizando o tempo, para que quando estiver “com amigos não esteja com a cabeça no estudo.” E vice-versa.