Se as eleições do próximo domingo ditarem uma vitória minoritária da coligação face a uma maioria de esquerda no parlamento – o resultado para o qual apontam as sondagens –, os partidos da esquerda estão obrigados a entender-se e a encontrar uma solução de governo. Para Ana Drago, candidata do movimento Livre/Tempo de Avançar, a esquerda estará confrontada, na próxima segunda-feira, com uma decisão “histórica”. Falhar um entendimento “será trágico”.
“Olhando para as intenções de voto, parece claro que o PS, sozinho, não terá maioria absoluta, mas que a esquerda é claramente maioritária”, sublinha a ex--dirigente do BE, acrescentando que um governo minoritário PSD/CDS “só será possível com uma ajudinha de alguém à esquerda”. Neste cenário “será imperdoável” os partidos não se entenderem para viabilizar um governo. “Este é o momento. Não haverá uma segunda oportunidade para a esquerda”, diz ao i.
Sinais “preocupantes” A história política portuguesa não regista alianças à esquerda e Ana Drago aponta sinais pouco positivos: “Fico preocupada com estas alfinetadas que os diferentes dirigentes dos vários partidos de esquerda se vão entretendo a lançar uns aos outros durante a campanha.” É a prova de que “temos tido e continuamos a ter um sistema político à esquerda que está quase fossilizado. Temos 40 anos de sectarismo, de incapacidade de diálogo”. Uma realidade que tem de mudar nestas eleições, adverte a ex-deputada, que volta a candidatar-se ao parlamento como número dois por Lisboa do Livre/TA. “Se estamos a falar a sério, se queremos mesmo derrotar o governo de direita e ser fiéis a essa maioria de esquerda que rejeita a austeridade, tem de haver alguma maturidade por parte dos dirigentes políticos à esquerda. Se sabem o quão perigoso é manter estas políticas, então a esquerda vai ter de se encontrar e decidir como é que caminha daqui para a frente.”
“Esquerda empastelada” Ana Drago diz esperar que o Livre/TA venha a fazer parte das contas para viabilizar um governo de esquerda, mas a mensagem tem outros destinatários. “Os partidos que se têm batido, se calhar com mais veemência, contra a direita – a CDU e o Bloco de Esquerda –, se querem mesmo ser levados a sério nesse seu combate, este é o momento de se apresentarem.” E encontrar aquilo que une a esquerda do hemiciclo, em vez daquilo que a separa: “Bem sei que há diferenças políticas e programáticas importantes, mas tem de ser possível encontrar uma plataforma que defenda o que é fundamental.”
Nesta altura já não chega o protesto, sustenta Ana Drago: “Não basta ser um megafone daquilo que são as queixas legítimas dos portugueses, eles sabem queixar-se por si. Querem soluções para a sua vida, querem um ponto final na austeridade.”
A abertura a um entendimento com o PS tem sido a marca distintiva do Livre/TA. Para Ana Drago, é uma obrigação histórica: “Chega deste sistema anquilosado, preso ao seu umbigo, uma esquerda meio fossilizada, empastelada, que nem para a frente nem para trás. Por favor tenham a maturidade de se entender para defender o país”. Uma responsabilidade que é extensiva aos socialistas: “O PStem de dizer se está mesmo a falar a sério quando diz que não quer que a direita governe.”
Se os partidos de esquerda voltarem a virar as costas, as consequências são imprevisíveis, adverte: “Não consigo imaginar o que será o país com mais quatro anos deste governo punitivo. Se em quatro anos foi destruída tanta coisa, mais quatro anos e será outro país.”