Afinal na Alemanha também há telhados de vidro


É um sinal que me faz perguntar o que sucederia se este escândalo tivesse sido provocado por uma empresa grega ou por uma empresa portuguesa.


© Julian Stratenschulte/EPA 

De forma progressiva, foi-se instalando a ideia de que o comportamento desonesto era uma característica essencialmente atribuída aos povos do sul da Europa. Nestes termos, falar de falsidade e de corrupção significava apenas falar de gregos, de espanhóis, de italianos e de portugueses, sempre na perspectiva de que o mal mora no sul, enquanto o bem e a virtude se encontram no centro e no norte.

A ideia fez escola e não é raro encontrarmos entre nós quem lamente a corrupção portuguesa e evidencie, por exemplo, a hombridade alemã. Ideia, de resto, que muitos responsáveis alemães enfatizam, directa e indirectamente, até para justificarem uma espécie de superioridade germânica face ao laxismo tipicamente latino. 

Sucede, porém, que no melhor pano cai a nódoa, e dos plágios à falsificação de dados feita pelo grupo Volkswagen, tudo parece também acontecer no imaculado estado alemão. Em matéria de plágios seria difícil ao governo da sra. Merkel ter tanta pontaria na escolha de ministros.

Na Defesa, a confirmarem-se as últimas notícias, já são dois os governantes que outrora recorreram ao trabalho alheio para fazerem as suas provas de doutoramento, e na Educação ainda nos lembramos da sra. Annette Schavan, a quem a Universidade de Düsseldorf retirou o grau de doutora, obtido com uma tese curiosamente intitulada “Pessoa e Consciência”.

Mas tudo isto parece menor diante o escândalo protagonizado pelo grupo Volkswagen, numa demonstração de que a obtenção de lucro é sempre mais importante do que a defesa da ética e o cumprimento de regras.

É um sinal dos tempos que não conhece fronteiras nem está limitado a um país determinado, e é um sinal que me faz perguntar o que sucederia se este escândalo tivesse sido provocado por uma empresa grega ou por uma empresa portuguesa.

Professor da Universidade Lusíada
Escreve quinzenalmente 
à quarta-feira

Afinal na Alemanha também há telhados de vidro


É um sinal que me faz perguntar o que sucederia se este escândalo tivesse sido provocado por uma empresa grega ou por uma empresa portuguesa.


© Julian Stratenschulte/EPA 

De forma progressiva, foi-se instalando a ideia de que o comportamento desonesto era uma característica essencialmente atribuída aos povos do sul da Europa. Nestes termos, falar de falsidade e de corrupção significava apenas falar de gregos, de espanhóis, de italianos e de portugueses, sempre na perspectiva de que o mal mora no sul, enquanto o bem e a virtude se encontram no centro e no norte.

A ideia fez escola e não é raro encontrarmos entre nós quem lamente a corrupção portuguesa e evidencie, por exemplo, a hombridade alemã. Ideia, de resto, que muitos responsáveis alemães enfatizam, directa e indirectamente, até para justificarem uma espécie de superioridade germânica face ao laxismo tipicamente latino. 

Sucede, porém, que no melhor pano cai a nódoa, e dos plágios à falsificação de dados feita pelo grupo Volkswagen, tudo parece também acontecer no imaculado estado alemão. Em matéria de plágios seria difícil ao governo da sra. Merkel ter tanta pontaria na escolha de ministros.

Na Defesa, a confirmarem-se as últimas notícias, já são dois os governantes que outrora recorreram ao trabalho alheio para fazerem as suas provas de doutoramento, e na Educação ainda nos lembramos da sra. Annette Schavan, a quem a Universidade de Düsseldorf retirou o grau de doutora, obtido com uma tese curiosamente intitulada “Pessoa e Consciência”.

Mas tudo isto parece menor diante o escândalo protagonizado pelo grupo Volkswagen, numa demonstração de que a obtenção de lucro é sempre mais importante do que a defesa da ética e o cumprimento de regras.

É um sinal dos tempos que não conhece fronteiras nem está limitado a um país determinado, e é um sinal que me faz perguntar o que sucederia se este escândalo tivesse sido provocado por uma empresa grega ou por uma empresa portuguesa.

Professor da Universidade Lusíada
Escreve quinzenalmente 
à quarta-feira