PS. A interrupção inopinada, o apelo ao voto útil e o medo do lobo mau

PS. A interrupção inopinada, o apelo ao voto útil e o medo do lobo mau


Aconteceu tudo no comício do PS no Porto, num dia que o candidato socialista dedicou ao distrito com quatro arruadas. No comício ao fim da tarde, Costa começou por ser interrompido por um apelo, num discurso que dedicou a responder à tese do medo da mudança. António Vitorino também passou por lá para pedir “concentração…


Num grande comício no Porto, o PS agravou o apelo ao voto e respondeu com medo ao discurso do medo promovido pela coligação, com a ajuda do socialista António Vitorino que pediu a “concentração de votos no PS”. No mesmo púlpito, logo a seguir, António Costa pediu a maioria absoluta garantindo que, mesmo com ela, governará em “diálogo social e com compromissos políticos alargados” e avisa que as legislativas são “decisivas”. Mas o início do discurso ficou marcado por uma interrupção.

Um jovem surgiu sem pré-aviso junto a António Costa para apelar ao microfone para “uma grande coligação” dos políticos: “Com licença Sr. Dr., quero os políticos a limpar as florestas, é para isso que ele servem”. Uma passagem inopinada a que Costa respondeu com um aperto de mão e aproveitou para se colar à mensagem recordando o que fez nesta matéria enquanto ministro da Administra Interna.

Voltando à mensagem política, o tom foi o da dramatização total. “Nestas eleições não há segunda volta”, avisou o líder socialista perante a enchente no Largo do Amor de Perdição, no Porto. “Não é um campeonato com primeira e segunda eliminatória”, acrescentou António Costa que antes dele já tinha ouvido António Vitorino lançar um apelo que ainda não tinha aparecido nesta campanha oficial, o do voto útil.

Vitorino foi ao Porto para dizer que compreende “a ideia da mudança, mas cuidado. A procura da mudança quimérica pode acabar deixando tudo na mesma”. O socialista acrescentou mesmo que esses “podem descobrir a 4 de Outubro que ao não concentrarem os votos no PS, que estarão confrontados com os rostos de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas”. 

Costa também aproveitou a ideia e respondeu ao discurso do medo. “Depois de tudo o que fizeram não há maior susto para os portugueses do que que a ideia de que eles possam continuar a governar o país”. Ou outra formula de apelo: “Chegou a hora dos portugueses apresentarem a conta a este governo”. Nas palavras de Costa ainda coube um paralelislmo com um conto infantil, nas críticas às “traições” da coligação. “É preciso ter muita cautela, Agora que estamos em campanha eles bem querem parecer a avizinha do Capuchinho Vermelho, mas todos sabemos a história e a cozinha era simplesmente o lobo mau”.

Os ataques mais directos ficaram para Vitorino que escolheu a “lata estragada” de Paulo Portas como principal alvo. “Onde estava Paulo Portas nestes quatro anos em que o PS foi apresentado pela coligação como fonte de todos os males do mundo?” “Nos submarinos", respondia-se bem lá atrás, entre o público. Mas a resposta acabou por subir ao palco, pela voz do cabeça de lista pelo distrito. Alexandre Quintanilha também deu resposta à questão de Vitorino: “Eu acho que estava nos submarinos, acho que não ouviu o que se estava a passar no país porque estava lá no fundo e não ouviu o que se estava passar no país”. O cientista ainda tirou à “interferência de Bruxelas no processo das eleições. Há mensagens sobre o caminho que estamos a percorrer e que é bom. Esta interferência é inaceitável”.

A RUA A NORTE Antes do comício, António Costa submeteu-se ao duro teste eleitoral de três arruadas de peso a Norte do país: começou na feira da Trofa, passou para as ruas de Caxinas (Vila do Conde), uma paragem em Valongo e mais uma em Gondomar. Pelo meio, Costa entusiasmado acabou por falar na maioria absoluta (um pedido que andou arredado do seu discurso na primeira semana de campanha). “Queremos uma maioria absoluta que é o que o país precisa para termos estabilidade”, disse questionado pelos jornalistas no final dos contactos com a população.

Na Trofa, onde começou o dia, os apertos no mercado começaram por mostrar um candidato impaciente com a comunicação social. “Deixem-me trabalhar”, dizia António Costa pedindo espaço para os contactos com as pessoas. No circuito, entre as inúmeras bancas de roupa, fruta, cd’s de música popular e sempre ao som dos bombos e das gaitas de foles, Costa ouviu de tudo um pouco e até o nome de António José Seguro. Antes mesmo de ter Costa ao seu lado, uma senhora já gritava que António José Seguro “é que lá estava bem” e quando o candidato socialista chegou ao seu lado acabou por lhe dizer o mesmo: “O Seguro que lá estava ganhava com maioria”. Costa seguiu com os cumprimentos, numa acção que foi calorosa e onde, no final das contas, Costa ouviu mais palavras de apoio do que desconfiança. 

A meio de um dos circuitos apertados pela feira – onde o candidato teve sempre a companhia da mulher Fernanda Tadeu e da filha Catarina, além do cabeça-de-lista pelo Porto, o cientista Alexandre Quintanilha -, uma senhora garantiu-lhe o voto no PS, mas entre dúvidas. “São todos iguais”, dizia a Costa que respondia: “Iguais não”. E acrescentava: “Se daqui  quatro anos não estiver satisfeita, venho aqui e ralha-me”. Nesta ação de campanha também esteve Alberto Martins, mais um apoiante de António José Seguro na luta interna do PS a aparecer ao lado de Costa, mas o candidato só o encontrou no fim, antes de partir para o próximo ponto do programa socialista.

Nas Caxinas, palco de arruadas de campanha fortes, Costa desceu do carro e foi logo levantado em ombros, mas os contactos com os caxineiros confinaram-se à pequena praça cheia onde já estava um palco montado para o candidato discursar. Primeiro falou o o histórico autarca Mário Almeida que afirmou daqui a uma semana “o que está em jogo não é um simples jogo de futebol que se pode perder e ganhar na semana a seguir”. O socialista disse ainda que as eleições são para “avaliar os últimos quatro anos”, numa frase que António Costa havia de repetir logo de seguida. “Com o meu voto podem contar, mas o meu voto não chega”. 

Em Valongo, no mesmo esquema mas com cabeçudos além dos bombos da praxe, depois de subir uma rua central parou para receber uma enorme regueifa do presidente da Câmara, José Manuel Ribeiro, e discursar num palco preparado onde quis deixar uma mensagem a Pedro Passos Coelho: “Ele que não venha com pieguices porque ninguém o aguenta mais. E no próximo dia 4 vai ter a resposta que merece”.

Em Gondomar, Costa recebeu um memorando sobre a situação no sector das mãos do director geral da Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP). O candidato aproveitou para falar do “excelente exemplo da forma como o governo, ao longo destes quatro anos, desprezou um sector fundamental para a economia”, registando “as 30 mil empresas e os 90 mil postos de trabalho” que se perderam.