José Ferreira. “Era irrealista estarmos já a lutar pela qualificação do CT”

José Ferreira. “Era irrealista estarmos já a lutar pela qualificação do CT”


José Ferreira entrou a vencer no Sata Azores Pro, em São Miguel. O jovem surfista faz um balanço da época portuguesa no circuito de qualificação.


Portugal é, por estes dias, a capital mundial do surf. Com o mundial feminino e o QS10000 nos Açores, as ondas nacionais merecem a atenção do planeta. Enquanto as mulheres esperam por melhores dias em Carcavelos, a prova masculina arrancou na ilha de São Miguel. José Ferreira foi um dos portugueses em destaque. Aproveitámos para falar com ele e pedir-lhe um balanço da temporada – da sua e da jovem geração portuguesa que tenta cumprir o sonho de alcançar um lugar na elite do surf mundial, o Championship Tour (CT).

Esta é altura ideal para dar um salto na classificação, como no ano passado em Cascais (9.o lugar)?
Claro. Está a ser o meu primeiro ano nos Primes, portanto é de adaptação. Tenho vindo a mudar e a perceber algumas coisas. Começar a segunda metade do ano com uma vitória é sempre positivo e sem dúvida que o conforto de competir em casa é maior, acaba por ser uma vantagem. O objectivo agora, seja nos Açores e Cascais ou nos próximos, é tirar bons resultados. Começo a juntar as peças do puzzle em relação à competição nos Primes e devagar as coisas estão a ir lá. 

Falta-te um clique, como disseste em 2014, para elevar o teu surf a outro nível?
Não, porque o ano passado foi diferente, a dificuldade era saber que conseguia surfar bem em campeonatos. Neste momento, o meu problema não é esse. Já consegui ter óptimas prestações, mesmo não vencendo. Preciso de tempo, continuar a treinar forte e persistir no meu caminho até que as coisas aconteçam. Posso dizer que está tudo a correr bem.

O Saca tem-vos acompanhado nos Primes. É bom para a nova geração tê-lo por perto?
Sem dúvida. Tem muita coisa para transmitir, para ensinar. Sendo ele a referência que é, basta-nos ouvir e tentar aprender. Ter um ídolo tão perto de nós é uma grande mais-valia. É um aspecto muito positivo para nós que estamos a fazer o WQS.

Seria de esperar que o ano estivesse a correr melhor aos portugueses no WQS (nenhum no top-40)?
É uma óptima pergunta. Acho que nem mesmo nós, surfistas, percebíamos muito bem até chegar a este nível a exigência e o nível que é competir neste circuito, com os 100 melhores do mundo. Isto é alta competição mundial, acho que era irrealista entrarmos e estarmos já a lutar pela qualificação. O próprio Tiago esteve seis ou sete anos até conseguir. Há surfistas que são meus ídolos desde criança e já bateram muitas vezes com a cabeça na porta, e nunca lá entraram. Seria ousado demais acharmos que este ano a malta já estaria toda à porta do CT. Isto é uma aprendizagem em que cada um tem o seu caminho, mas no fundo estamos todos no bom caminho, cada um com o seu ritmo. Acho que vamos conseguir grandes coisas.

Como é o ambiente entre vocês quando estão nas grandes provas?
O surf é um desporto individual, mas sem dúvida que é óptimo, às vezes, trazermos um bocadinho da casa às costas quando vamos um mês para o outro lado do mundo. É bom podermos ir jantar em português, ter conversas e analisar o mar na nossa língua, mas ao fim e ao cabo acabamos todos por competir uns com os outros. Apesar de haver uma grande amizade, há também uma competitividade saudável, mas não é de agora, é desde que temos dez anos.

Há tempo para algumas maluqueiras, para se divertirem?
Diversão é relativo. Não vamos sair à noite porque temos a competição. Se, por exemplo, estivermos em Sydney num lay day, sem nada para fazer, vamos dar uma volta à cidade, ao cinema, jantar fora, isso sim. Se estamos cansados, ficamos em casa, mas fazemos programas todos juntos.

Como foi participar na Triple Crown pela primeira vez (em 2014)?
Foi uma coisa de sonho. Quando tinha 12 anos não imaginava que aos 22 ia fazer a Triple Crown. Foi o cumprir de um sonho, por todas as noites que passei a ver aquele evento desde os meus 12 anos. Mas também uma surpresa muito positiva de como me dei bem nas ondas do Havai, ouvi grandes elogios dos surfistas locais. Correu tão bem ou melhor do que estava à espera. Foi hiperpositivo e espero este ano fazer melhor.