A primeira de três fases para combater os traficantes que se aproveitam do desespero das centenas de milhares de refugiados que todos os dias entram na União Europeia começou em Junho. Nesse mês, foi lançada a Força Naval Mediterrânica da União Europeia (EUNAVFOR Med) “para melhorar os esforços sistemáticos de identificar, capturar e acabar com os botes e meios que são usados, ou que se suspeita que sejam usados, por traficantes de migrantes”.
Ao longo destes três meses, “as condições necessárias foram reunidas” para dar início à segunda fase de operações, que passa por acções militares no mar Mediterrâneo contra estas redes de tráfico humano, avançou ontem um diplomata europeu sob anonimato à AFP, ainda que “apenas em águas internacionais”.
Segundo a fonte, a implementação da segunda fase foi aprovada na reunião de ontem dos ministros do Interior dos 28 Estados-membros e abre a porta a operações da EUNAVFORMed para deter, capturar e destruir os botes com refugiados. De fora fica, para já, a terceira fase deste plano, que prevê acções militares contra as redes de tráfico dentro das águas territoriais da Líbia – de onde se crê que parta a maioria destes botes sobrecarregados e onde, nessa terceira fase, a UE planeia “destruir os botes e as redes de tráfico antes da partida” para o Mediterrâneo e o Egeu, explicou a mesma fonte citada pela AFP.
O lançamento desta segunda fase de operações marítimas não foi confirmado oficialmente até ao fecho desta edição, ficando por esclarecer de que forma pretende a missão europeia destruir os botes no Mediterrâneo que vêm sobrecarregados de migrantes.
Crime em crescendo Segundo números recentes da Organização Internacional para as Migrações, mais de 430 mil refugiados chegaram à Europa pelo mar desde o início do ano, mais do dobro do total de 2014. A“maioria dessas chegadas”, aponta a organização, foram registadas na Grécia (309 356 pessoas) e em Itália (121 139 pessoas). A par dos pedidos de asilo, um total de 2748 exilados morreram na travessia desde Janeiro, sendo o canal da Sicília “a rota notoriamente mais mortífera no Mediterrâneo”.
Esse balanço de mortos terá já aumentado, após mais uma tragédia registada ontem ao largo das ilhas gregas. Mais de 38 refugiados, entre eles pelo menos 14 crianças, morreram afogados num pequeno bote de pesca de madeira que não aguentou a travessia até à ilha de Farmakonisi. De acordo com a Guarda Costeira grega, entre os mortos contam-se quatro bebés, para além de cinco meninos e cinco meninas, que viajavam entre 112 pessoas quando o bote afundou.
“O número de actividades criminosas está a crescer à mesma velocidade que o número de migrantes [clandestinos]”, disse Robert Crepinko, director da unidade de crime organizado da Europol. Muitos destes traficantes, adiantou, costumavam fazer entrar ilegalmente na UE droga, mas alteraram a sua área de negócio para pessoas quando esta crise de refugiados começou. As guerras na Síria, na Líbia, no Iraque e no Afeganistão, bem como a repressão violenta em países como a Eritreia, fizeram o número de refugiados aumentar em flecha nos últimos anos, com a situação a piorar a cada mês em 2015.
Aproveitamento Numa reportagem publicada pelo “Washington Post” no início do mês, quando um camião foi encontrado na Áustria com 71 corpos em decomposição, sobretudo de refugiados sírios, o jornal norte-americano explicava que o “lucrativo negócio” de tráfico de humanos estava a encontrar ainda mais lucro perante a maior onda migratória a atingir a Europa em décadas.
Fazendo uso das redes sociais, os traficantes publicitam uma série de serviços pagos a preço de ouro para se aproveitarem do desespero de milhões de pessoas. “Carrinhas que, em tempos, eram usadas para traficar cigarros agora são usadas para esses carregamentos mais frágeis que são os humanos.
Nas redes sociais ou pessoalmente, os migrantes podem escolher de entre um menu de serviços, que vão de um assento escorregadio num bote de borracha com destino à Grécia até a um avião charter que os leva ao paraíso dos refugiados, que é a Suécia”, descrevia o jornal a 3 de Setembro. Segundo fontes consultadas pelo diário na Europol e entre as autoridades suecas, uma viagem “ilícita de táxi” da fronteira sérvio-húngara para a Áustria custa cerca de 200 dólares. O preço sobe em flecha para entre os 10 mil e os 12 500 dólares para quem estiver disposto a pagar pela rota terrestre que vai da Turquia até à Alemanha.