O segundo frente-a-frente foi mais tenso. Pedro Passos Coelho e António Costa terminaram o debate transmitido esta quinta-feira de manhã pelas três rádios de informação em despique, com o líder da coligação PSD/CDS a provocar com o ponto em que o líder socialista vacilou: “Pode ser que para a próxima consiga explicar que prestações ficam sujeitas a condição de recursos”. Costa não o tinha conseguido explicar durante o confronto e respondeu apenas dizendo: “Pode ser que o Dr. Passos Coelho traga uma ideiazinha para o futuro”.
Desta vez, Passos Coelho não tocou no nome de José Sócrates por uma única vez, abandonando a estratégia única que levou para o primeiro debate com Costa, na semana passada nas três televisões, e passou ao ataque num flanco exposto pelo socialista que não conseguiu responder nem aos jornalistas nem ao adversário político sobre uma questão concreta: que prestações sociais não contributivas passarão a ter condição de recursos (requisitos para um agregado familiar ter acesso a uma determinada prestação) e como é que isso permite poupar mil milhões de euros na Segurança Social?
A poupança está prevista nas propostas eleitorais do PS, mas António Costa atira para a frente a sua concretização. “Será negociada no momento próprio em concertação social”, afirmou durante o debate. À saída do Museu da Electricidade (onde decorreu o confronto), o líder socialista desvalorizou e explicou que a poupança que o PS prevê com os limites à atribuição de prestações não contributivas é de 250 milhões anuais, “uma poupança relativamente diminuta no orçamento total que é de 5,7 mil milhões”.
“Trata-se de dar mais a quem mais precisa mais e menos a quem menos precisa. A verba deve ser discutida em concertação social, por isso não especificamos as medidas”.
No debate, Passos Coelho tinha atirado: “Mil milhões de euros [o somatório de quatro anos da poupança anual prevista pelo PS] é mesmo muito dinheiro e o senhor tem de explicar”. E acabou por explorar a não-resposta de Costa até ao último minuto. Pelo meio – e ainda em matéria de Segurança Social -, Passos garantiu que “quer ganhe quer perca as eleições” estará “disponível para uma grande reforma” do sistema de pensões, desafiando Costa a dizer o mesmo. Mas aí a resposta do líder socialista saiu pronta: “A vossa proposta de cortar 600 milhões de euros aos pensionistas não terá o nosso apoio”.
Este é um argumento em que Costa insiste, citando o Programa de Estabilidade entregue pelo governo em Abril em Bruxelas, e que Passos voltou esta quinta-feira a desmentir.
Elogio a Costa e aeroporto
Ainda assim, neste capítulo houve ainda espaço para um elogio de Passos a uma medida do PS sobre a diversificação das fontes de financiamento da Segurança Social. “É verdade que as empresas não contribuem para a Segurança Social conforme o número de postos de trabalho", disse o primeiro-ministro sobre a medida socialista que visa penalizar quem menos contrata.
“È uma boa medida, mas é muito pouco comparado com a enorme aventura que o PS propõe na Segurança Social”.
O outro ponto de maior atrito entre os dois candidatos a primeiro-ministro foi sobre a venda dos terrenos do aeroporto de Lisboa. O tema já tinha surgido no debate televisivo, mas Passos voltou a atacar por aqui depois de Costa ter anotado que o governo “aumentou a dívida em 30 mil milhões de euros em quatro anos. Não lhe fica bem apresentar-se como um gestor exemplar de dívida”.
A resposta de Passos vinha assim: “Consegui até assumir parte da dívida de Lisboa quando comprei os terrenos do aeroporto no valor de 277 milhões de euros”. “A sua retórica sobre a gestão da dívida em Lisboa é vazia. Não fosse o governo a assumir essa dívida e não tinha conseguido reduzir a dívida ao nível de Sintra ou Loures”.
“É preciso muita lata”, atirava Costa que defendia: “Se alguém fez algum favor a alguém foi a CML ao Estado que vendeu terrenos que não eram seus para que a empresa [ANA] pudesse ser privatizada”. Mas Passos continuaria: “O contrato entre o governo e a CML permitiu que fosse o governo a assumir a responsabilidade da dívida de Lisboa no valor de 277 milhões de euros. Assumiu essa dívida para a dívida pública sabendo que, assim, o governo conseguiria privatizar uma empresa criticada pelo PS”.
Costa não acredita em metas
A picardia foi crescendo ao longo de debate. Passos chegou a rir-se enquanto Costa falava sobre o controlo do défice em 2007 pelo governo PS. “Também lhe devem ter dito para rir”, provocava Costa. “Eu penso pela minha cabeça, não faça insinuações que o senhor não precisa disso para fazer um bom debate”, respondia Passos.
Pelo meio ficava a desconfiança expressa por Costa sobre a capacidade do governo cumprir o valor do défice para este ano. A meta assumida é 2,7%. “A sua meta não é acompanhada por ninguém. Quem nos dera a todos que pudesse ficar nos 2,7. Não fico satisfeito que deslize, porque era bom para o país que pudéssemos chegar mais cedo a um défice abaixo dos 3%”. Isto já depois de Passos ter garantido que o país vai “ter um défice abaixo dos 3% este ano”.
O passado
O debate começou por um tema que não esteve no primeiro confronto: a Europa. Aqui os dois adversários facilmente resvalaram para o passado. Entenda-se: o pedido de resgate (embora não tenha havido continuação do debate dos últimos dias sobre quem chamou a troika) e a carga de austeridade aplicada. Para Passos, a austeridade “teria sido evitada se o PS não tivesse conduzido o país à quase bancarrota”.
Para Costa, “pior do que a troika, o problema é mesmo este governo”. “Quis ir além da troika, obrigou a sacrifícios que não seriam necessários na lógica europeia, mas que resultaram do pensamento político de Pedro Passos Coelho”, acusou o líder do PS.
A proximidade só se verificou mesmo quanto a uma intervenção militar para fazer face à crise dos refugiados: ninguém a descarta, mas também ninguém a coloca como prioritária. “Não devemos excluir liminarmente qualquer tipo de participação”, disse Costa defendendo que a primeira acção seja de “ajuda aos refugiados”. Já Passos sublinhou: “Não creio que esta situação tenha uma solução militar, acredito que isso até possa agravar alguns problemas”.