Em 2010, o que começou por ser uma experiência de voluntariado internacional que duraria apenas três meses transformou-se numa estadia de nove. Ficou em casa de uma família argentina, e após o primeiro mês apercebeu-se que não queria deixar essa partilha de vivências tão rápido, que a apaixonava esse intercâmbio de cultura, de história e histórias. Depois, lançou-se pela Bolívia, Peru e Brasil. Percebeu então que, tanto como viajar, queria transmitir esse conhecimento de forma a inspirar os outros. A escrita, que tinha sido sempre apenas um hobby, foi adquirindo um papel cada vez mais importante. Desde então tem dividido o seu tempo entre Lisboa, viagens várias e pesquisa de projectos e maneiras de as tornar ambientalmente mais sustentáveis. Esteve em São Tomé, num projecto de voluntariado da ONG “Mundo a Sorrir”, explorou o Sri Lanka, saltitou entre ilhas na Croácia, fez o troço final do Caminho de Santiago, perdeu noção do tempo nas livrarias de São Francisco, conduziu um Hindustan Ambassador pelo sul da Índia e aproveita todos os amigos que tem espalhados pela Europa para conhecer as cidades pelos olhos de quem lá vive.
Recentemente chegada à ‘família’ Nomad para integrar a equipa de líderes de viagem, a Filipa Chatillon responde às perguntas do colega e líder Nomad Mateus Brandão
Diz-se por aí que ser líder Nomad é uma das melhores profissões do mundo. Quão sortuda te definirias?
Estupidamente sortuda. E não necessariamente pelas razões pelas quais a maioria das pessoas considera que ser líder Nomad é uma das melhores profissões do mundo (viajar e ser pago por isso). A minha sorte é, ao entrar para a família Nomad, porque é isso que sinto, que somos uma família, ver-me rodeada de gente que partilha a minha visão do mundo, os mesmos valores. Que tem vontade de partilhar esta paixão pelas viagens com os outros, e, através disso, transmitir curiosidade, fazer pensar, abrir portas para o conhecimento, trabalhar para um mundo melhor. Sinto-me apoiada e acarinhada e com muita vontade de fazer isso pelas outras pessoas. Pela “família” e pelos nossos viajantes.
Qual a característica que mais aprecias na humanidade?
A empatia.
E que ‘qualidade pessoal’ tens esperança de sair reforçada com as tuas viagens?
A tolerância e a curiosidade.
Qual o sentido que mais te é despertado quando estás em viagem?
O olfacto. Talvez porque não o tenha muito apurado. Como há muitos cheiros diferentes sinto que o uso mais.
Qual a tua estação do ano preferida e onde?
O verão em todo o lado.
Mas que lugar eleges como da tua preferência ou, de todos os sítios por onde tens passado, onde não te importarias de viver e porquê?
O meu lugar de eleição para viver é mesmo Lisboa, embora passe a vida a sair daqui. Sinto-me sempre mais atraída (se pensar em viver, não para conhecer) por lugares onde o mar esteja por perto – embora tenho vivido um ano em Córdoba, na Argentina, onde isso não acontece. Acho que era capaz de viver um tempo em qualquer lado. Mas se me lembrar dos sítios onde, estando lá, pensei: “vivia aqui”, talvez o Rio de Janeiro surja como primeira escolha – por essa proximidade com o mar, pela geografia do lugar, pelos morros e o verde da floresta, pela vida da cidade. Também já pensei o mesmo de Amsterdão, mas acho que tem mais a ver com os amigos que lá tenho. Não sei se aguentava aquele Inverno.
Como descreverias a cor azul a uma pessoa cega?
É como mergulhar a mão em água tépida, e deslizá-la lentamente contra a resistência da água.
Concordas com a ideia de que viajar pode ser terapêutico?
Sim. Mas também pode ser traumático. Depende muito de cada um e da altura da vida em que se encontra.
Quais os últimos 3 livros que leste?
“Short Walks from Bogotá – Journeys in the New Colombia” de Tom Feiling; “Gente Melancolicamente Louca” de Teresa Veiga e “Não Se Encontra o Que Se Procura” do Miguel Sousa Tavares.
Qual a tua citação favorita?
"Sorria sempre! Que a sua alegria não seja fruto das circunstâncias favoráveis da vida mas antes um fruto de si mesmo”. Autor desconhecido.
Alain de Botton escrevia sobre ‘a arte de viajar’. Partilhas dessa opinião de que viajar pode ser uma arte?
Não. Acho que algumas pessoas o conseguem transformar numa arte, pelo tipo de viagens que fazem, pelo carácter que lhes transmitem, ou que as sabem comunicar aos outros, mas não acho que seja, intrinsecamente. Acho que se fosse, não estava acessível a todos, e acredito que esteja. Acho que viajar é um estilo de vida, ou um estado de espirito. Sim, mais isso. Viajar é um estado de espirito, que se mantém, nos verdadeiros viajantes, mesmo quando não estão fisicamente “em viagem”.
Quando tiveres 80 anos, o que contarás aos teus filhos?
Não faço ideia. Espero que a viagem que fiz no ano anterior.
Artigo escrito por Mateus Brandão ao abrigo da parceria entre a Agência de Viagens de Aventura Nomad (www.nomad.pt) e o Jornal i.
A Nomad – Evasão e Expedições é uma agência de Viagens Aventura e Expedições. Descoberta Cultural | Aventura | Trekking e Montanha.