A expectativa criada pelos media revelou-se desmesurada e o frenesim montado foi esvaziado da forma mais prosaica: as telenovelas, em cada um dos canais, bateram a audiência do debate entre Passos e Costa. Só em conjunto o frente-a-frente político – que de novo não trouxe nada a não ser colocar Costa acima de Passos, o que já não foi mau… – bateu o recorde de auditório. O que quer dizer que o grosso do potencial eleitorado continua alheado do processo eleitoral. Logo, abstenção perigosa à vista! E é pena.
É pena ainda porque a Europa está confrontada com uma crise de refugiados para a qual não se preparou – ocupada que andou a decretar austeridade, a endeusar a finança e a estrangular economias, e a criar pobres -, e Portugal não pode fingir que não sabe nem vê. Mais do que movimentos migratórios, estamos perante uma crise humanitária a que temos de dar resposta. A Europa tem culpas no cartório, mesmo se não esteve, nem está, sozinha a semear conflitos armados cujas consequências lhe estão a cair em cima. Outrora fomos por aí abaixo a levar a cruz. Agora vêm por aí acima a fugir ao martírio, da guerra. É como que uma espécie de cruzadas ao contrário. É a hora de os europeus erguerem bem alto a bandeira cristã e arvorarem os valores humanistas do iluminismo europeu. Os Estados Unidos, bem entendido, não podem assobiar para o lado. Nem nisso estão sozinhos. Às Nações Unidas competiria a liderança, em vez de ziguezagues a mando e guinadas de ocasião. O ACNUR faz o que pode, mas não basta. O Conselho de Segurança deve zelar pela manutenção da paz e segurança no mundo, e tanto falha! Espartilhada entre interesses antagónicos a ONU vai titubeando ameaças e a barbárie mundial vai ganhando espaço: milhões de deslocados e refugiados. Até quando?
Em paz e a espalhar serenidade há recantos do interior minhoto que é sempre um prazer esquadrinhar. De Brunhais, na Póvoa de Lanhoso, está-se num pulo na criativa praia fluvial do Pontão, na albufeira da barragem das Andorinhas, onde o Ave se espraia em requebros de espelho d'água. Uns quilómetros adiante, em Oliveira, no restaurante panorâmico do Parque Aventura – e de aventura tem de tudo um pouco – o mergulho na paisagem é avassalador. Que lindeza! Pelo caminho fazer paragem no santuário de Nossa Senhora de Porto d'Ave, em Taíde, elegante construção do sec. XVIII associada a uma curiosa lenda milagreira. Ou não estejamos no Minho! Aldeias mais ou menos marcadas pela emigração, a de ontem e a de hoje, sucedem-se em ramalhetes de verdes e latadas a bordejar os caminhos que se entrecruzam em estradas municipais que vão dar à nacional, pois então! O sossego paira no ar e quase não se avista gente, em recato pela canícula, tornando menos fácil encontrar o Centro de Interpretação, em Calvos, do célebre carvalho centenário, autêntica preciosidade da terra com direito a título de o mais antigo da Península Ibérica. E na Europa parece que só outro lhe passa à frente. É uma árvore magnífica! Na envolvente do centro há um espaço dedicado a hortas sociais, em modo de produção biológica, registe-se. Mas a área de recreio e lazer, devidamente aparelhada, pontua o majestoso carvalho: escorados os ramos mais compridos, dada a sua mais do que provecta idade, o Carvalho de Calvos exala a sabedoria dos tempos. Que tão falhada anda por esse mundo fora!
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Escreve quinzenalmente ao sábado