Continuação da crónica da semana passada:
Para lá de tudo isto está a razão desta “invasão” – chamo-lhe assim para cativar a atenção dos xenófobos, que esfregam as mãos de contentes por esta oportunidade de exaltar os valores nacionalistas de extrema-direita que, visivelmente, crescem na Europa. Está a ingerência no equilíbrio geopolítico do médio oriente, que os EUA, sob o pretexto da liberdade e da democracia, desfizeram criando um vazio de poder que é agora ocupado por um punhado de pregadores de Alá que vão semeando o pânico na região. Afeganistão, Líbia, Síria, Iraque e, brevemente, Irão, outrora estados organizados, prósperos em alguns casos, mas sobretudo plataformas essenciais da estabilidade da região, são hoje uma manta de retalhos mal remendada pelas intervenções militares e pela “petromacia” mundial.
Parece que de um momento para o outro, a liberdade, os crimes de guerra, os genocídios, a destruição do património cultural da humanidade e tudo o resto a que assistimos e que são (em qualquer parte do mundo) atentados aos fundamentos mais básicos da humanidade, deixaram de importar. Deixaram de molestar os Guardians of the free world, que agora olham para o problema na europa e pensam: it’s not in my back yard.
E na Europa? Vai-se empurrando com a barriga fruto da falta de coragem e da inépcia secular dos nossos líderes. Ficamos como que adormecidos, por um lado a incapacidade de a jusante resolver o problema, ao ponto de não nos entendermos na adjetivação do fenómeno – chamamos-lhes migrantes ou refugiados? Por outro a falta de coragem, ou melhor, de determinação em intervir a montante no sentido de restabelecer a ordem e o equilíbrio na região. Para que serve a OTAN? Para abrir bases no leste europeu alimentando o sonho da cortina de ferro? Porventura não é conveniente aos EUA uma nova intervenção agora que a economia finalmente recupera do descalabro iniciado com o subprime – outra habilidade que para aqui resvalou.
Vamos, assobiando para o ar, dando margem ao ISIS, permitindo atrocidades atrás de atrocidades e perdendo tempo. Se em algum momento da história da humanidade uma intervenção militar fez sentido, este seria o momento.
Duvido que a Europa tenha a coragem e o atrevimento de a fazer. Os EUA? Talvez. Depende se o próximo Presidente for um “cowboy” ou não. Quase (atenção eu disse quase), que me dá vontade que Trump ganhe.
Escreve ao sábado