Van Gaal é o mestre da primeira fase de grupos: 5-1 à Espanha, 3-2 à Austrália e 2-0 ao Chile. Assim de repente, a Holanda assume-se como candidata ao título. O 2-1 ao México nos oitavos-de-final reforça esse estatuto, a vitória sobre a Costa Rica nos penáltis coloca-a nas meias-finais. Aparece-lhe então a Argentina e lá se vai a final do Maracanã. resta o sonho do pódio e o terceiro lugar é alcançado com um claro 3-0 sobre o anfitrião Brasil.
Van Gaal sai da Holanda e vai pregar para outra freguesia. Antes de se reformar para a sua casa no Algarve, o treinador holandês passa as passas do Algarve no Manchester United. E a Holanda? Ai ai a Holanda… Não há como escapar à maldição do terceiro lugar do Mundial e o Euro seguinte é uma miragem.
Então? Nos primeiros três jogos de qualificação, três pontos em nove possíveis: 2-1 da República Checa, 3-1 ao Cazaquistão e 2-0 da Islândia. Segue-se um empate em casa com a Turquia e depois o descalabro na última jornada dupla, com derrota em casa com a Islândia (1-0) e o correctivo da Turquia (3-0). A duas jornadas do fim, a Holanda já só tem hipótese de chegar ao terceiro lugar, o único de acesso ao play-off. Para tal, tem de ganhar três pontos à Turquia. O calendário é assim-assim: Cazaquistão-Holanda e Rep. Checa-Turquia (10 de Outubro) mais Holanda-Rep. Checa e Turquia-Islândia (13 de Outubro).
O futuro da Holanda, agora treinada por Danny Blind, está tremido. Nada mais normal ou, insistimos, não fosse o terceiro lugar do Mundial uma espécie de maldição. Esqueçamos a Alemanha por uns breves momentos (terceira classificada nos Mundiais-2006 e 2010, vai à final do Euro-2008 e às meias do Euro-2012). E esqueçamos também a RFA (terceira em 1970, campeã europeia em 1972). E, já agora, esqueçamos a França (terceira em 1958 e anfitriã em 1960). De resto, é engraçado ver como a lógica da ilógica se impõe com regularidade. E tudo começa com Portugal.
Em 1966, os Magriços de Otto Glória e Manuel da Luz Afonso espantam o Mundo em Inglaterra com o 3-1 ao Brasil e o 5-3 à Coreia do Norte. Nas meias, um bis de Bobby Charlton provoca as lágrimas de Eusébio. No jogo da consolação, é José Torres quem assina o 2-1 final sobre a URSS. Com o terceiro lugar na etsreia de uma grande prova, sonha-se com tudo e mais alguma coisa. Até com o Euro-68. Tal é pura ilusão. Culpa da Bulgária (1-0 em Sofia, 0-0 na Luz). É pena. Adiante.
Em 1970, é o tal caso da RFA. Passamos à frente. Polónia é terceira em 1974 e nicles batatóide em 1976. O Brasil é bronze em 1978 e não conta, claro. Depois é uma sucessão de equívocos: Polónia 1982, França 1986, Itália 1990, Suécia 1994, Croácia 1998, Turquia 2002. Nenhuma destas selecções, nem uma mesmo, consegue ir ao Europeu seguinte. A Polónia, por exemplo, espalha-se ao comprido com Portugal a caminho do França-84, com dupla derrota: 2-1 na Luz, 1-0 em Wroclaw. A França, já sem o capitão Platini, dá um valente trambolhão e falha o RFA-88 de forma clamorosa (apenas uma vitória em oito jogos). A Itália tropeça na URSS rumo ao Suécia-92, a Suécia nem consegue o segundo lugar do grupo (atrás de Suíça e Turquia) no caminho para o Inglaterra-96, a Croácia é derrubada pela vizinha Jugoslávia antes do Holanda/Bélgica-2000 e a Turquia é surpreendida pela Letónia no play-off do Portugal-2004. Segue-se a Holanda? Tem Blind a palavra. E a Turquia também.