Semana frenética esta, com uma sondagem que afundou Costa, um debate que o colou a Sócrates e os números do INE, que afirmam o equilíbrio da balança comercial do país, em que as exportações têm sido sempre mais do que as importações.
Mas vamos ao debate, o tal que tinha as mesmas características de um jogo de futebol, com 90 minutos, moeda ao ar, três “árbitros” e escolha de campo.
Os comentadores tornaram-se apostadores; os cronistas, analistas técnicos do “jogo”; e as pessoas com a esperança de que algo de novo acontecesse.
Talvez este desafio tenha gorado as expectativas de muitos: os dois candidatos não mudaram nada do que têm sido até agora. Passos tem mais técnica do que Costa, Costa apostou mais na táctica do que Passos.
Mas se há algo de bom que existiu neste debate foi precisamente o centro de mesa que lá foi colocado.
Sócrates foi o centro do debate. Não deveria ter sido? Claro que sim, claro que devia. Se por um lado serviu para explicar a origem da crise, por outro explicou o ADN de Costa e deste PS.
Sócrates incomoda Costa, mas Costa é Sócrates em quase tudo.
Costa é Sócrates no vício de estimular a economia pela via do consumo, Costa é Sócrates na ideia de que o Estado é que emprega as pessoas e movimenta a economia, Costa é Sócrates a dizer que o Estado social tem de existir, tem de acudir a tudo e a todos mesmo que não haja dinheiro nos cofres do Estado para o aguentar. Costa é Sócrates no tique de que o Estado deve investir em obras públicas para que a economia cresça. Neste caso, porém, Costa percebe que ninguém lhe emprestará dinheiro para este velho princípio que Guterres e Cravinho tão bem defendiam e que Sócrates e Paulo Campos tão bem executavam.
Costa é Sócrates na sobranceria do socialismo. Ser socialista é logo melhor do que ser outra coisa qualquer. É sempre alguém superior.
Costa é Sócrates quando resolve olhar para a câmara de frente.
Costa foi, assim, uma reencarnação política do seu antigo número um.
Mas Costa tem uma dificuldade imensa, ao receber um apoio por carta de Sócrates.
Dirá Sócrates que não é tempo de outras conversas, dando a entender que a partir do dia 4 ajustará as contas que tiver de ajustar…
O país agradece, o povo percebe que quem desgraçou o país, quem pagou tudo com cartão de crédito, abraça Costa em público.
O povo ainda hoje paga com dor os extractos do cartão com que Sócrates mandou fazer obra.
Tino de Rans gostaria um dia de ser secretário-geral do PS como Seguro foi, Seguro gostaria de ter tido uma oportunidade de ser presidente da câmara de Lisboa como Costa foi, Costa gostaria de um dia ser primeiro-ministro como Sócrates foi, Sócrates gostaria um dia de ser Presidente da República como Mário Soares foi.
Todos diferentes, todos iguais. Todos eles sonharam mais alto e caíram dos últimos degraus.
Talvez não devessem ter subido tantos degraus no escadote. Subir de escadote tem que se lhe diga. Subir mais alto do que as suas reais capacidades tem destas coisas.
Mas Costa tem uma mágoa maior. Não consegue o sucesso eleitoral de Sócrates.
O país não o quer, não confia, não lhe dá a onda que ele tanto esperava, e morre politicamente por afogamento.
Passos tem sentido de Estado, Costa tem estado sem sentido nesta pré-campanha.
Costa não mobiliza, não cativa, não devolve a esperança que todos querem ouvir.
Costa é negativo, optou por um discurso desfasado da realidade. Quando o país recupera, Costa vem a terreiro dizer o contrário do que todos constatam.
Quando sai um bom número económico por parte do INE ou do Banco de Portugal, Costa e os seus acólitos transformam-no imediatamente num número mau.
Sócrates tinha este condão. Quando um número mau aparecia, rapidamente vinha a terreiro explicar que esse mesmo número era bom.
Sócrates mentia, omitia, sempre na esperança, como qualquer viciado no jogo, de que o jackpot lhe sairia. A slot machine fez curto-circuito e o país faliu; Sócrates não, mas viria politicamente a “falir” mais tarde.
Este é o PS que temos. Um PS de discípulos de Sócrates, de seguidores das suas práticas governativas, dos seus vícios autoritários e pouco democráticos.
Sócrates não vivia sem os media, mas os media e o povo conseguem viver sem Costa.
Costa não é sal nem pimenta, não acrescenta nada à política nacional.
No aperto político, a sua boçalidade sobressai. A sua paciência é curta, a sua sobrevivência é sempre o que mais importa.
Costa é um homem só, Sócrates nunca o foi.
Sócrates foi um vencedor, Costa será um vencido.
Deputado do PSD
Escreve à sexta-feira