É o governo de Ahmet Davutoglu e o AKP, o partido islamita do primeiro-ministro e do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que têm orquestrado os alegados “atentados terroristas” atribuídos ao ilegalizado Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). A acusação foi feita ontem por Selahattin Demirtas, líder de um partido pró-curdo, um dia depois de um ataque a um autocarro ter vitimado pelo menos dez agentes da polícia turca e meras horas após um ataque de nacionalistas turcos à sede do seu Partido Democrático do Povo (HDP). Para Demirtas, os líderes do partido no poder são os responsáveis pela actual instabilidade na Turquia, acções que “estão a empurrar o país para uma guerra civil”. E apesar de ninguém ter morrido no ataque ao HDP, acrescentou, a oposição que apoia a autodeterminação dos curdos “está a enfrentar uma campanha de linchamento”.
A violência entre o exército e o PKK tem escalado no Leste da Turquia desde que o cessar-fogo implementado em 2012 colapsou em Julho. Nesse mês, e perante os primeiros ataques de militantes do autoproclamado Estado Islâmico (ISIS, na sigla inglesa) em território turco, o governo decidiu juntar-se à coligação internacional liderada pelos Estados Unidos para derrubar os jihadistas na região, encetando simultaneamente uma ofensiva contra bastiões curdos no Sul e Leste da Turquia, bem como contra os curdos na Síria e no Iraque. Depois de um conflito de décadas, iniciado em 1984 e que provocou mais de 40 mil mortos, o PKK decidiu abandonar as armas e sentar-se à mesa de negociações com as autoridades da Turquia, na derradeira tentativa de alcançarem a paz e o seu direito ao próprio Estado. Existem milhões de curdos na Turquia, que representam cerca de 18% da população do país, e muitos mais espalhados por outros países. São o maior povo sem Estado do mundo.
Eleições Nas legislativas de Junho passado, e perante o cenário de instabilidade e profundas alterações geoestratégicas na região, o HDP conseguiu eleger um número inédito de deputados, roubando a maioria absoluta que o AKP garantiu ao longo de anos. Por causa disso, e perante a impossibilidade de Davutoglu em firmar um governo de coligação, Erdogan viu-se obrigado a convocar novas eleições para 1 de Novembro. Nas suas declarações ontem, Demirtas questionou se a votação deveria sequer acontecer, considerando que estão a ser criadas zonas militares em mais de 100 áreas distintas de maioria curda. Nos últimos dois dias, acrescentou, houve 400 ataques a gabinetes do HDP um pouco por todo o país.