Legislativas. O plano de ataque dos partidos a um mês das eleições

Legislativas. O plano de ataque dos partidos a um mês das eleições


A campanha oficial só arranca mais à frente, mas ninguém diria. Os últimos tempos têm sido de polémicas e picardias diárias, como se de campanha dura se tratasse. Nos próximos 30 dias, os partidos têm indecisos para convencer, mas com que estratégia? E com que calcanhares de Aquiles a travarem as caminhadas em busca de…


COLIGAÇÃO

Estratégia

Portas sintetizou esta semana a estratégia da coligação numa frase muito popular: “Mais vale um pássaro na mão do que dois a voar.” Ou seja, até ao fim da campanha eleitoral, a coligação vai insistir que “pôs as contas em ordem” e evitou o segundo resgate mesmo à conta de sacrifícios (“o pássaro na mão”), e que a alternativa socialista do “despesismo” pode deitar tudo a perder – “dois pássaros a voar”. 

A narrativa da coligação é extremamente simples e a ideia é insistir nela até à exaustão: a culpa da crise foi do governo PS, que é o responsável pela chamada da troika; o PSD e o CDS tiveram a responsabilidade de liderar o país durante tempos duros, conseguiram inverter os números do desemprego e têm algum crescimento para apresentar. O PS representa o salto no desconhecido e o risco de uma nova crise.

Esta narrativa está de pé há muitos meses e joga com o factor segurança – a crença de que não se deve trocar o “certo” pelo “incerto”. A crise e a emigração podem ter sido terríveis, mas a proposta socialista pode deitar tudo a perder. É um manual simplificado que joga com o apego à segurança – mesmo que uma débil segurança – e explora o medo do desconhecido. É difícil vencer as eleições. 

O melhor resultado

O melhor resultado de sempre do PSD foi conseguido por Cavaco Silva em 1991. O cavaquismo estava no auge e o agora Presidente da República conseguiu a segunda maioria absoluta com quase 3 milhões de votos. OPSD só foi a votos coligado com o CDS duas vezes e conseguiu o melhor resultado em 1980, com quase 45% dos votos. 

O pior resultado

O pior resultado foi em 1976. Sá Carneiro foi derrotado por Soares. OPSD conquistou apenas 24,3% dos votos. Os socialistas venceram essas eleições com quase 35% dos votos e foram para o governo com o CDS. DS.     

Pontos positivos

•  Não se confirmou o segundo resgate que muitos previram. Portugal conseguiu sair do programa da troika numa “saída limpa”

•  Os números do desemprego baixaram, ainda que Portugal tenha sofrido um fenómeno de emigração em massa

•  A economia dá sinais ténues de recuperação e algum consumo já voltou aos níveis pré-crise

Pontos negativos

•  A crise foi devastadora para muitas famílias, que viram os salários e as pensões cortadas, ao mesmo tempo que tinham de sustentar os filhos que não encontravam emprego

•  O efeito da crise fez-se notar em serviços básicos como o Serviço Nacional de Saúde, de que depende a população em geral

•  A imagem de Passos Coelho e de Paulo Portas continua a ser a dos responsáveis pelos cortes e pelo “ir além da troika” que Passos Coelho defendeu um dia



PARTIDO SOCIALISTA

Estretégia

Só a um mês das legislativas é que o PS afinou o ângulo da mensagem, que passou a estar focada em António Costa. Aliás, isso tem até uma imagem forte a comprová–lo, já que depois de algumas polémicas em volta dos outdoors de campanha do PS – com rostos de portugueses a ilustrarem situações que não só não correspondiam à verdade como não tinham a respectiva autorização –, o partido apareceu com um cartaz simplificado com a cara de António Costa e a palavra “confiança”.

Foi essa mesma palavra que colou a cada acção de campanha, quer ao “comboio da confiança”, que parte hoje de Lisboa para o Porto, com acções de campanha pelas várias estações, quer à “história de confiança” onde, nas redes sociais, a candidatura vai acrescentando capítulos da vida (até pessoal) do candidato António Costa.

A centralização no líder viu-se também numa das iniciativas de campanha mais significativas até agora, com o líder socialista a promover um passeio, no final de Agosto, por Lisboa para passar em revista as principais obras da cidade que geriu nos últimos quase nove anos. Costa fez a associação directa: a câmara geriu bem, o governo geriu mal. Mas nem só de ataque à coligação se faz a mensagem de Costa, que também atira ao PCPe ao BE e às suas uniões à direita para derrubar governos socialistas. Afinal, o objectivo socialista mantém-se o da maioria absoluta. 

O melhor resultado

Foi com José Sócrates que os socialistas conseguiram o seu melhor resultado eleitoral em legislativas: 45,03% é o número da primeira maioria absoluta do PS, depois de dois anos de coligação PSD/CDS com Durão Barroso, e depois Santana, à frente.

O pior resultado

Outubro de 1985: o país via o recém-criado PRD conseguir 17,9% dos votos. Roubou muito ao PS, que desceu para 20,7% (em 1983 tivera 36%), aquele que é o pior resultado que o partido já teve em eleições legislativas. O candidato foi Almeida Santos. 

Pontos positivos

•  É um líder que se esquivou a um longo e desgastante mandato como líder da oposição, só apanhou os meses finais

•  Os três anos de troika e da pesada carga de austeridade aplicada durante a vigência do governo PSD/CDS compõem um argumento forte para o PS que pode significar a transferência directa de alguns dos votos do centro, sobretudo quando Costa se compromete com uma maior rapidez na devolução do poder de compra aos portugueses do que a coligação

Pontos negativos

•  A prisão de José Sócrates e tudo o que a rodeia – das cartas que o ex-líder socialista tem escrito de Évora à eventualidade de sair da prisão em plena campanha eleitoral – é uma verdadeira bomba-relógio nesta caminhada eleitoral de António Costa 

•  Os tropeções no arranque do percurso eleitoral foram mais do que muitos. Cartazes infelizes retirados, cartazes ilegais retirados, um director de campanha que sai para entrar outro e até (mais atrás) uma declaração desastrada de António Costa, a dizer que o país está hoje melhor do que em 2011

•  A colagem que a direita faz do PS à troika e ao memorando negociado em 2012, depois de um governo PS ter pedido o resgate

 

PARTIDO COMUNISTA PORTUGUÊS

Estratégia

O PCPaposta em distinguir-se ao máximo do PS para combater o voto útil. Ao contrário dos socialistas, que contestam a austeridade mas querem fazê-lo no quadro da União Europeia, o PCP admite a saída de Portugal do euro.

O PS será um dos alvos de Jerónimo na campanha. “Nem é carne nem é peixe”, diz o secretário-geral do PCP, que acusa o PS de não ter uma alternativa, porque “está prisioneiro da sua assinatura do pacto de agressão”. O cenário de uma aliança com o PS se Costa vencer as eleições é afastado pelos comunistas. 

A renegociação da dívida, o pleno emprego, o fim da austeridade e o reforço do Estado social serão algumas das bandeiras do PCP nesta campanha. 

O melhor resultado

Foi em 1979 que o PCP conseguiu o seu melhor resultado. Foi a AD de Sá Carneiro que ganhou
essas eleições e a APU aproximou-se do PS, que teve apenas 27%.

O pior resultado

Mergulhados numa crise interna, os comunistas não chegaram aos 7% em 2002. A guerra entre renovadores e ortodoxos nos tempos de Carlos Carvalhas acabou com a expulsão de Carlos Luís Figueira e Edgar Correia e a suspensão de Carlos Brito.

Pontos positivos

•  O PCP tem a vantagem de ter uma alternativa clara à austeridade e de assumir que o caminho pode ser a saída do euro. 

•  Os comunistaspodem beneficiar do descontentamento de muitos portugueses, nomeadamente funcionários públicose reformados, com as pesadas medidas de austeridade. Foram contra todas estas medidas desde o início da crise, ainda com o PS no governo. 

•  Jerónimo de Sousa não precisa de se esforçar para criar empatiacom o eleitorado. É naturalmente simpático e sente-se como um peixe na água em campanha eleitoral.

Pontos negativos

•  Fecha a porta a qualquer aliança com o PS e os socialistas não deixarão de aproveitar esse facto para apelar ao voto útil. Com a coligação e os socialistas empatados, alguns eleitores podem cair para o lado do PS com o objectivo de evitar que a direita continue no poder.

•  Longe vão os tempos em que o PCP conseguia quase 20% dos votos. Desde a década de 90 que os comunistas não ultrapassam a fasquia dos 10%.

 

BLOCO DE ESQUERDA

Estratégia

O BE partilha com o PCPo combate ao voto útil no PS. Para isso vai colar António Costa ao PSD e ao CDS. O objectivo é partir o eleitorado que tanto vota PS como vota nos partidos à sua esquerda nas eleições seguintes. Que peso tem este eleitorado? Miguel Portas, um dos fundadores, em tempos deu a resposta: o BE parte do zero em todas as eleições.

Esta semana, Catarina Martins ensaiou um distanciamento do PCP, no primeiro debate televisivo, e referiu-se ao quadro das relações internacionais e às chamadas causas fracturantes que os comunistas não abraçam. Os militantes reconhecem a necessidade de alguns ajustamentos no discurso, mas não deixam de elogiar a postura da porta-voz, que até às eleições vai ter de adaptar as suas bandeiras ao resultado do Syriza. 

O melhor resultado

Foi em 2009 que o Blocode Esquerda conseguiuo melhor resultado de sempre. No ano em que Sócrates perdeu a maioria absoluta, os bloquistas elegeram 16 deputados com quase 10%. 

O pior resultado

O pior resultado do BE foi quando se apresentou pela primeira vez a eleições legislativas, em 2002. Na altura foi um bom resultado, porque o partido tinha acabado de nascer e elegeu três deputados.

Pontos positivos

•  Depois do falhanço da liderança bicéfala de  João Semedo e Catarina Martins, a cisão interna do ano passado ficou resolvida com um novo modelo de direcçãode seis pessoas representados por uma única porta-voz. Catarina Martins passou a ser o rosto do partido, travou acesas discussõescom Passos Coelho no parlamento, melhorou a sua linguagem e, por via disto, é hoje mais conhecida. 

•  Mariana Mortágua brilhou mas intervenções na comissão de inquéritoao colapso do BES e do GES. O BE pode ganhar votos à custa da deputada mais mediática da política portuguesa. 

Pontos negativos

•  As eleições antecipadas na Grécia (22) e as promessas falhadasdo Syriza, partido irmão do BE, afectam a credibilidade das propostas bloquistas, que subscrevem desde a primeira hora a receita de Alexis Tsipras e do Syriza. 

•  OBE perdeu o estatuto de desbloqueador da esquerda e fecha a porta a alianças com o PS. Este estatuto estáagora nas mãos de ex-bloquistas, que criaram projectos políticos que incluem o PS numa solução de governo. 

•  As chamadas causas fracturantes escasseiam. Bandeiras como casamento gay, legalização das drogas leves e co-adopção foram resolvidas por governos do PS. 

 

LIVRE

Estratégia

Os principais rostos da plataforma LIVRE/Tempo de Avançar são Ana Drago e Rui Tavares, dois dissidentes do Bloco de Esquerda. Depois de eleições primárias abertas no passado mês de Junho, o partido pretende agora apelar a “uma maioria de esquerda”, levando a sua “agenda inadiável” – com dez prioridades e 50 medidas para Portugal – a todo o país.

Debates, sessões públicas e contacto directo com as pessoas na rua fazem parte de uma estratégia para que se conheça o partido que levou Rui Tavares até ao Parlamento Europeu em 2014.As redes sociais são outro meio a utilizar, onde propostas como a erradicação dos recibos verdes ou a renegociação da dívida vão estar em cima da mesa como bandeiras do Livre, que pretende garantir um grupo parlamentar já a partir de 4 de Outubro.

Pontos positivos

•  Conseguiu trazer inovação para a política portuguesa ao escolher os candidatos a deputados em eleições primárias abertas a qualquer cidadão

•  Figuras conhecidas juntaram-se à plataforma: o escritor José Mattoso, o sexólogo Júlio Machado Vaz ou o professor catedráticoBoaventura de Sousa Santos

Pontos negativos

•  São o único partido de esquerda que está disponível para fazer uma aliança no governo com o PS. A proximidade ao partido de Costa pode ser prejudicial

•  Tem menos meios para fazer campanha do que o PCP ou o Bloco de Esquerda

 

MARINHO E PINTO

Estratégia

O Partido Democrático Republicano (PDR) de Marinho e Pinto concorre pela primeira vez a eleições – o advogado estreou-se na política nas últimas europeias, mas concorreu pelo Partido da Terra – e promete uma campanha agressiva em que o alvo serão os partidos do sistema.

O PDR vai concorrer em todos os círculos eleitorais e Marinho e Pinto, que é o cabeça-de-lista por Coimbra, garante que vai percorrer todo o país a denunciar que o resultado da política dos últimos 40 anos é um “país cada vez mais pobre”, ao mesmo tempo que as clientelas dos partidos que nos têm governado “acumulam fortunas”.

O alvo são os desiludidos com o sistema e o combate à corrupção será um dos principais temas da campanha. 

Pontos positivos

•  O discurso de Marinho e Pinto é atraente para os desiludidos do sistema. Foi com esse discurso que conseguiu mais de 7% nas europeias

•  É uma figura conhecida de todos os portugueses

Pontos negativos

•  Marinho e Pinto critica os chorudos ordenados dos deputados no Parlamento Europeu, mas não abdica do seu e até admite ficar por Bruxelas até ao fim do mandato

•  O PDR de Marinho e Pinto é um partido jovem, mas já conta com duras guerras internas que levaram à saída de um dos seus fundadoresos

 

AGIR

Estratégia

O Agir ( juntamente com o PTP e o MAS) iniciou uma série de acções simbólicas este Verão, como a colocação de um cartaz “Vendido” no parlamento. A ideia é continuar este tipo de acções e marcar a diferença em relação às outras forças políticas. Outdoors, redes sociais e falar com quem “foi excluído da política” são as principais prioridades de campanha para obter um ou dois deputados na Assembleia da República.

Pontos positivos

•  Acções simbólicas têm tido impacto na comunicação social

•  Joana Amaral Dias é uma cara familiar aos portugueses

Pontos negativos

•  Falta de visibilidade e de actividade política e conta com poucos meios para a campanha eleitoral 

 

OUTROS PARTIDOS

Nós, Cidadãos!
Concorre pela primeira vez. A promiscuidade entre a política e os negócios é um dos principais problemas do país para o partido. 

Reformados 
O PURP concorre pela primeira vez e tem como bandeira a defesa dos reformados. Foi o último dos novos partidos a ser legalizado.

Pró-vida
O Partido Cidadania e Democracia Cristã (ex-Partido Portugal Pró- -Vida) é contra a lei do aborto, a eutanásia e o casamento homossexual.

PAN
Esteve próximo de eleger um deputado em 2011. A defesa dos animais e do ambiente fazem parte do seu ADN.

PNR
O PartidoNacional Renovador obteve 17 548 votos em 2011.

JPP
Foram a revelação na Madeira, elegendo cinco deputados este ano. Querem aproveitar o ímpeto para ganhar força na Assembleia da República.

MPT
Movimento Partido da Terra levou Marinho e Pinto ao Parlamento Europeu.

PPM
O Partido Popular Monárquico obteve 0,26% nas votações em 2011.

PCTP-MRPP
É o “dinossauro” dos partidos mais pequenos, criado em 1976. Concorreu a todas as legislativas.