Irra, que nem em Agosto se pode descansar um bocado a cabeça! Está um tipo a apanhar sol e a ir a banhos, a ver se sossega – e ainda mal recuperado do drama fracturante e vital para a nação que foi a ida do Jesus para o Sporting –, e zás, arranjam-lhe logo um magno problema para reflectir. Podiam ter esperado até à rentrée, podiam ter suspendido a coisa da mesma forma que tudo é suspenso em Agosto cá no rectângulo à beira-mar; mas não, tinha de ser em cheio no mês das férias. E logo um problema desta magnitude, uma coisa grande, uma coisa que abala os fundamentos do Estado e da sociedade. De tal forma que, apesar de ter pensado e repensado, já estamos no princípio de Setembro e ainda não cheguei a uma conclusão sobre quem tem razão, se os que acham que aos debates da campanha eleitoral para as legislativas só deve ir uma pessoa de cada partido ou coligação ou os que acham que as coligações têm direito a mais, tantas quantas os partidos que compõem a coligação.
Sim, é deste problema que falo. Ainda não tinham percebido? Mas há algum problema maior e mais importante para a nossa vida em sociedade e para os alicerces do Estado? Meus caros, não sejam distraídos nem desinteressados, é preciso que todos os cidadãos dêem atenção a esta questão essencial. É verdade que há outros problemas importantes, coisas com que há que ocupar a cabeça, como o desemprego, a Europa, a carga fiscal, a economia, a justiça, a educação ou a saúde, mas – convenhamos, caros concidadãos – nada é tão vital, tão desafiante, tão tomba-Estados quanto saber se uma coligação tem um debatedor ou dois debatedores. Pois é, essa é que é essa. E ainda bem que não há debates com a participação das tendências internas e externas do Bloco de Esquerda, ou com os putativos líderes que nos vários partidos estão à espera que o que está lá caia do lugar para se lançarem, senão tínhamos uma equipa de futebol de debatedores, ou talvez mesmo duas, com suplentes e tudo.
E fartei-me de dar voltas à cabeça, até debati com os amigos – entre uma cervejinha e uma sardinhada, ou entre um peixe grelhado e um copo de branco seco, que tenho amigos com gostos diversos –, mas não cheguei ainda a conclusões. Há argumentos de um lado e de outro, razões, importâncias, implicações. Como, aliás, é próprio de todas as questões de Estado. Vivo num tormento, incapaz de formar opinião. E os meios de comunicação social não ajudam, cheios de comentadores a dissertar sobre a irrelevância do problema. Irrelevância do problema?! Queriam que se discutisse o quê, crimes, futebol ou, já agora, o enredo do filme de King Vidor que tem um título parecido com o deste texto? Sim, se calhar queriam era discutir os pretendentes de Pearl Chavez. Como é que o assunto dos debates pode ser irrelevante? E, se fosse, gastavam os jornais páginas e páginas e as televisões minutos e minutos com a questão? E, se fosse, eram os comentadores convidados para comentar? Desde quando é que se noticiam e comentam irrelevâncias?
Advogado
Escreve quinzenalmente ao sábado