Desde o final de Janeiro, quando o Syriza ganhou as eleições gregas com um programa revolucionário, até ao próximo dia 20 de Setembro, quando o Syriza, reformatado por Tsipras procurará obter uma maioria absoluta nas eleições antecipadas, terão passado menos de 8 meses. No entretanto houve também um referendo ganho por um programa revolucionário apoiado pelo Syriza e por Tsipras, programa que depois foi contrariado nas negociações de Tsipras com a troika (que regressou a Atenas com seu nome tradicional) e aprovado a contragosto pelo Syriza em sucessivas votações no Parlamento de Atenas.
Ao convocar as eleições antecipadas para 20 de Setembro, com um uma antecipação de 30 dias, Tsipras procurou surfar as sondagens que em Agosto lhe davam em uma maioria absoluta (graças ao prémio de maioria oferecido ao vencedor pelo sistema eleitoral grego, muito superior ao que em Portugal resulta da aplicação do método de Hondt), tentou evitar a cisão com a ala esquerda do Syriza (ou reduzi-la a uma dimensão insignificante) e quis aproveitar o período de férias e a continuação do Verão para evitar uma campanha eleitoral longa e desgastante. No fundo, as eleições de dia 20 de Setembro surgiram na cabeça de Tsipras como um plebiscito à sua governação. Um plebiscito que achou que poderia vencer com facilidade e com maioria absoluta e de caminho sem consultar os órgãos de governo do Syriza.
A favor deste plano de Tsipras podia contabilizar-se a desaparição do Pasok, fagocitado pelo Syriza. Mas esta recentragem do Syriza, com passagem da extrema esquerda para o centro esquerda implica um recentramento de todo o espectro partidário grego, incluindo a ala direita, com a possibilidade de crescimento da Nova Democracia.
Se Tsypras, depois de 8 meses de derivas entre o programa revolucionário e o programa do centrão que tinha sido praticado pela Nova Democracia e pelas ruínas do Pasok, se apresenta às eleições com o programa da Nova Democracia, corre o risco de os eleitores preferirem o original, votando na Nova Democracia. E as últimas sondagens apontam nesse sentido, com uma queda do Syriza e um crescimento da Nova Democracia, cujo líder de transição, Vangelis Meimarakis, sucessor do Primeiro Ministro Samaras, surge agora nas sondagens como o político grego mais popular. Meimarakis promete reformas. Para já deixou, à semelhança de Tsipras, de usar gravata.
A evolução política de Tsipras tem sido seguida em Portugal com desvelo e notáveis capacidades de contorcionismo político pelo Bloco de Esquerda. No recente debate televisivo com Jerónimo de Sousa, Catarina Martins conseguiu encontrar uma diferença, uma, entre os programas do Bloco e do PCP: o Bloco é contra a saída de Portugal do euro.
Ao contrário do que o Syriza fez em relação ao Pasok, o Bloco não conseguirá fagocitar o PS. E qualquer que seja o resultado das eleições gregas de 20 de Setembro, quer vença Tsipras quer vença a Nova Democracia, o Bloco será confrontado com o triunfo de um programa eleitoral que não é o seu. A primeira volta das legislativas portuguesas realiza-se a 20 de Setembro e no que ao Bloco diz respeito significa uma vitória do voto útil.
Em Espanha o Podemos já percebeu os perigos resultantes do “aburguesamento” de Tsipras e do Syriza. Primeiro temeu um fenómeno semelhante e depois passou “no pasa nada”. Será preciso esperar pelas eleições de Dezembro para saber qual o resultado nas urnas dos actos de amnésia selectiva por parte do Podemos.
Escreve à sexta-feira