Tailândia: meio milénio de relações diplomáticas


Que voltas dará na tumba o nosso mítico vice-rei Afonso de Albuquerque! 


A Tailândia será, seguramente, um dos destinos turísticos mais corriqueiros para o turista português médio dos últimos 20 anos. Sempre fugi de destinos destes. Tal como nunca quis visitar a Tunísia nem a Turquia quando eram (esta ainda é) o “top of the pops” como destinos turísticos de eleição. Esta fuga à massificação é isso mesmo: uma fuga à banalidade. Uma tentativa de experienciar algo de diferente, de que se não ouça falar em todos os jantares e almoços de Setembro a Novembro, quando se chega à rentrée. 

Mas é também uma tentativa de, durante o período de férias, não estar rodeado pelas mesmas pessoas com quem se passa todo o ano de trabalho: os conterrâneos. Sejamos francos: férias pressupõem que nos esqueçamos das misérias domésticas. E até do modo de ser que nos caracteriza como comunidade. Se não nos esquecermos de Portugal, a enfermidade fiscal, política e jornalística de que padecemos ao longo do ano acompanhar-nos-á no Estio. Descanso, nenhum!

Todavia, este ano, lá me convenceram a atravessar o mundo até ao reino do Sião. Com escala de alguns dias noutro destino que, na última década, tem também sido um must para os portugueses: o Dubai. Não há turista português que se preze que não tenha já ido a qualquer destes destinos. Precisamente por isso, pensei que, passada a febre nacional com estes locais, era chegado o momento de lá ir também.

De tanto português que visita o Dubai e a Tailândia, imaginei que fossem locais que soubessem o que era Portugal. Ou que havia um povo de portugueses. Talvez mesmo familiarizados com o “olá”, pelo menos nos melhores hotéis, resorts, restaurantes. Apesar de tudo, falam oficialmente português não só 10 milhões de ibéricos, mas 200 milhões de brasileiros, 22 milhões de angolanos, 26 milhões de moçambicanos. Ao todo, com os demais nódulos de lusofalantes pelo mundo, mais a diáspora, seremos cerca de 300 milhões.

Pois bem… para meu espanto completo, seja em hotéis de categoria, restaurantes de luxo, ambientes selectos da Tailândia, seja em táxis de aeroporto ou nas lojas de rua, não encontrei quem tivesse ouvido falar de Portugal. A única referência que lhes era familiar era, obviamente, Espanha. Mas que Espanha tinha, na península, um vizinho chamado Portugal, “ni idea”!

A pisadura no orgulho foi tal que dei comigo a recordar-lhes o nome de Ronaldo. Obviamente pensavam-no espanhol… joga no Real Madrid! Quando perguntado, passei a responder, para facilitar, “soy español”! Assim a coisa era compreendida.

Tudo isto seria fait divers, não fora tristíssimo. Há 504 anos, a 10 de Agosto de 1511, estabeleceram-se as primeiras relações entre Portugal e aquilo que hoje é a Tailândia, com um embaixador que enviámos de Malaca – já conquistada – ao rei do Sião. Como se terão entendido, nem imagino. Mas entenderam-se, assinando um tratado algum tempo depois.

Porém, hoje, nas ruas, nos hotéis, nos restaurantes da Tailândia, que Portugal sequer seja um Estado é totalmente ignorado. Quanto mais onde fica… 
Que voltas dará na tumba o nosso mítico vice-rei Afonso de Albuquerque!

Advogado
Escreve à sexta-feira

Tailândia: meio milénio de relações diplomáticas


Que voltas dará na tumba o nosso mítico vice-rei Afonso de Albuquerque! 


A Tailândia será, seguramente, um dos destinos turísticos mais corriqueiros para o turista português médio dos últimos 20 anos. Sempre fugi de destinos destes. Tal como nunca quis visitar a Tunísia nem a Turquia quando eram (esta ainda é) o “top of the pops” como destinos turísticos de eleição. Esta fuga à massificação é isso mesmo: uma fuga à banalidade. Uma tentativa de experienciar algo de diferente, de que se não ouça falar em todos os jantares e almoços de Setembro a Novembro, quando se chega à rentrée. 

Mas é também uma tentativa de, durante o período de férias, não estar rodeado pelas mesmas pessoas com quem se passa todo o ano de trabalho: os conterrâneos. Sejamos francos: férias pressupõem que nos esqueçamos das misérias domésticas. E até do modo de ser que nos caracteriza como comunidade. Se não nos esquecermos de Portugal, a enfermidade fiscal, política e jornalística de que padecemos ao longo do ano acompanhar-nos-á no Estio. Descanso, nenhum!

Todavia, este ano, lá me convenceram a atravessar o mundo até ao reino do Sião. Com escala de alguns dias noutro destino que, na última década, tem também sido um must para os portugueses: o Dubai. Não há turista português que se preze que não tenha já ido a qualquer destes destinos. Precisamente por isso, pensei que, passada a febre nacional com estes locais, era chegado o momento de lá ir também.

De tanto português que visita o Dubai e a Tailândia, imaginei que fossem locais que soubessem o que era Portugal. Ou que havia um povo de portugueses. Talvez mesmo familiarizados com o “olá”, pelo menos nos melhores hotéis, resorts, restaurantes. Apesar de tudo, falam oficialmente português não só 10 milhões de ibéricos, mas 200 milhões de brasileiros, 22 milhões de angolanos, 26 milhões de moçambicanos. Ao todo, com os demais nódulos de lusofalantes pelo mundo, mais a diáspora, seremos cerca de 300 milhões.

Pois bem… para meu espanto completo, seja em hotéis de categoria, restaurantes de luxo, ambientes selectos da Tailândia, seja em táxis de aeroporto ou nas lojas de rua, não encontrei quem tivesse ouvido falar de Portugal. A única referência que lhes era familiar era, obviamente, Espanha. Mas que Espanha tinha, na península, um vizinho chamado Portugal, “ni idea”!

A pisadura no orgulho foi tal que dei comigo a recordar-lhes o nome de Ronaldo. Obviamente pensavam-no espanhol… joga no Real Madrid! Quando perguntado, passei a responder, para facilitar, “soy español”! Assim a coisa era compreendida.

Tudo isto seria fait divers, não fora tristíssimo. Há 504 anos, a 10 de Agosto de 1511, estabeleceram-se as primeiras relações entre Portugal e aquilo que hoje é a Tailândia, com um embaixador que enviámos de Malaca – já conquistada – ao rei do Sião. Como se terão entendido, nem imagino. Mas entenderam-se, assinando um tratado algum tempo depois.

Porém, hoje, nas ruas, nos hotéis, nos restaurantes da Tailândia, que Portugal sequer seja um Estado é totalmente ignorado. Quanto mais onde fica… 
Que voltas dará na tumba o nosso mítico vice-rei Afonso de Albuquerque!

Advogado
Escreve à sexta-feira