Faz amanhã (22 de agosto) exatamente 600 anos que os portugueses conquistaram Ceuta. Nunca é bom celebrar a guerra, mais a mais uma operação motivada pela cobiça e para exercitar militarmente os filhos da alta nobreza (que precisavam de um feito de guerra para serem armados cavaleiros).
Mas é facto que, no dia 22 de agosto de 1415, os portugueses assaltaram as defesas de Ceuta, passaram com relativa facilidade pelas suas muralhas, capturaram a cidade e saquearam avidamente os habitantes locais. E ainda hoje Ceuta está sob jugo espanhol (a cidade não reconheceu a restauração portuguesa de 1640), mas ainda com uma bandeira idêntica à da cidade de Lisboa e com o brasão das cinco quinas bem ao centro.
Embora o lucro da conquista tenho sido inferior aos encargos de manter esta praça em mãos nacionais, a conquista de Ceuta redefiniu as fronteiras portuguesas – pela primeira vez fora do rectângulo que ocupa na península ibérica e, também pela primeira vez, em terras africanas.
Depois, é história que em 1418/19 (re)descobrimos Porto Santo e a ilha da Madeira, os Açores em 1427, o cabo Bojador em 1434, o rio Zaire em 1482, o cabo da Boa Esperança (porta de entrada no oceano Índico) em 1488, a Índia em 1498, o Brasil em 1500 (oficialmente), a China em 1513 e o Japão em 1543.
Ceuta abriu o império português, o primeiro movimento de globalização à escala mundial e com presença territorial nos cinco continentes (durante quase 600 anos!). É sempre impressionante recordar que isto foi feito num período temporal de 150 anos e por um povo, os portugueses, que então como hoje se mantinham na periferia da Europa e com poucos recursos naturais de que se pudessem vangloriar.
Mas a verdade é que, contam-se agora seis séculos, fomos nós os primeiros que olhamos o mar e, de obstáculo, o transformamos em caminho. E isso merece ser comemorado.
Escreve à sexta-feira