Maio, dia 18. Ano 2005. É uma quarta-feira europeia. Final da Taça UEFA, em Alvalade. O Sporting recebe o CSKA Moscovo. A motivação é enorme, ultrapassado o Newcastle com categoria (quatro golos em Alvalade para anular o 1-0 em Inglaterra e o momentâneo 0-1 em Alvalade) e ainda o AZ Alkmaar (aquele cabeceamento de Miguel Garcia no último suspiro do prolongamento, na Holanda). O 1-0 de Rogério dá mais moral ao leão. Na segunda parte, o castelo de cartas de José Peseiro desmorona-se por completo. Um, dois, três. O CSKA é a primeira equipa russa a ganhar uma prova europeia (seguir-se-ia o Zenit em 2008). Volta agora a Alvalade, dez anos e pouco depois.
Interessa-nos é recuar até 2005. Onde está Jesus? É o treinador do Moreirense desde Abril, no lugar de Vítor Oliveira. Na estreia, derrota em Penafiel. No segundo jogo, o Sporting de Peseiro ganha 3-1 em Moreira de Cónegos. A análise de Jesus. "Assistimos durante os primeiros 45 minutos a um jogo bem jogado e com um ritmo muito elevado. O Sporting vinha com grande dinâmica e chegou aqui com muita confiança. O Moreirense esteve muito bem na primeira parte, foi a melhor equipa e teve as melhores ocasiões de golo. Mas no futebol ganha quem marca e marcou o Sporting. Na segunda parte, o Sporting quis gerir o resultado e tem jogadores para isso, mas acabou por sofrer a igualdade. Quando fizemos o 1-1 pensei que íamos ganhar, mas aconteceu tudo ao contrário. Dois erros nossos ditaram esta derrota. São os erros que definem as equipas e as grandes equipas erram pouco. O Sporting acabou por ganhar bem porque fez três golos, mas a diferença entre as equipas não foi essa. Parabéns ao Sporting, que faz o controlo de bola a sua superioridade e jogou muito bem. O Moreirense fez um belíssimo jogo, porém não chegou para fazer pontos, mas faltam cinco jogos. A tarefa não é fácil, não há tempo para incutir as nossas ideias, mas vamos acreditar até ao último jogo na permanência do Moreirense na Superliga."
Tal não sucede, o Moreirense desce à 2.ª divisão, na semana anterior à final da Taça UEFA. E Jesus até faz tudo para o impedir, inclusive um empate com o Porto depois de outros dois, com Boavista e Beira-Mar. A fechar o campeonato, duas vitórias (4-0 à Académica, em Coimbra, 2-1 ao Braga, em casa). "É o quinto jogo que a equipa não perde comigo. Pena que o campeonato tenha acabado. No futuro tenho outras ambições desportivas. Aguardo não ficar desempregado, ou ficar, uma vez que a Superliga está preenchida. Tenho a consciência que saio daqui com uma boa imagem e o Moreirense deu-me tudo para ficar na Superliga. Em sete jogos, cinco com equipas de topo, só perdemos duas vezes. Mérito do Gil e da Académica que fizeram um grande final de campeonato. Não deu para manter o Moreirense na Superliga derivado a um campeonato muito forte da Académica e do Gil Vicente. Tenho a convicção que, com mais jogos, ficaria na Superliga. Hoje fizemos um jogo muito motivados. Entrámos desconcentrados mas fui feliz nas substituições e a equipa equilibrou-se com o 2-1 de Nei, sem dúvida o golo da jornada. O problema não se apaga: é a morte do João Manuel."
Pois é… Maio, dia 18. Ano 2005. Às 11h15, morre João Manuel, vítima de esclerosa múltipla, no Hospital Nossa Senhora da Oliveira, em Guimarães. O Moreirense entra de luto. João Manuel jogara até duas vezes no início dessa época, ainda na era Vítor Oliveira. A doença derruba-o para o futebol. E depois para a vida. Jorge Jesus e o restante plantel passam o dia em lágrimas. "A Direcção, profissionais e adeptos do Moreirense Futebol Clube vem, por este meio, manifestar a sua solidariedade no momento de profunda tristeza que atravessa a família, pelo trágico desaparecimento do futebolista João Manuel."
